“Olhó tabaco! Cá está o tabaco! Olhó tabaco!”

Este pregão é o único que retenho na minha memória, dos tempos em que ia à bola com o meu pai.

Era domingo – a bola era sempre ao domingo, nos anos 60 – e, à frente do estádio da Luz, alinhavam-se as bancas dos vendedores ambulantes.

Não me lembro de mais nenhum, a não ser a do tipo do “olhó tabaco!”

Tinha uma pequena baliza, talvez do tamanho de uma baliza de hóquei e, sobre a linha de baliza, dois maços de tabaco SG, lado a lado. A cerca de três metros de distância, uma pequena bola, talvez uma bola de ténis (deste pormenor, já não me lembro).

A malta que quisesse arriscar, pagava uma certa quantia ao “olhó tabaco!” (cinco tostões?), e chutava a bola. Se conseguisse mandar abaixo os dois maços de tabaco, ficava com eles. Valia a pena arriscar.

Apesar de estarmos nos tempos em que o tabaco não fazia mal à saúde, o meu pai nunca me deixou experimentar!

Mas nunca mais me esqueci do pregão: “Olhó tabaco! Cá está o tabaco! Olhó tabaco!”

Tropa fandanga

Há dois dias, o glorioso Exército português realizou um exercício na Marinha Grande.

Vou explicar tudo, para que a coisa fique bem explícita: o exercício consistia em lançar oito mísseis terra-ar, de curto alcance. Os mísseis eram os norte-americanos Chaparral, anti-aéreos, adquiridos pelo glorioso Exército português em 1990 e visam os alvos em voo, com recurso a localização por infravermelhos e busca de calor. Depois de disparado, o míssil Chaparral segue o alvo num raio de cinco mil metros.

O glorioso exército português disparou oito mísseis Chaparral neste exercício de fogo real, denominado, pomposamente, “Relâmpago 07”.

Aliás, tentou disparar oito mísseis Chaparral.

Quatro deles não chegaram, sequer, a ser disparados, porque “os artilheiros não conseguiram fixar os alvos para disparar os projécteis” (Diário de Notícias).

Dos outros quatro que foram, de facto, disparados, um detonou no areal, isto é, morreu na praia – e os restantes três, que, de facto, conseguiram chegar ao mar, não acertaram nos alvos!

De quem foi a culpa?

Segundo o coronel Vieira Borges, comandante do Regimento de Artilharia Antiaérea 1, a culpa foi dos alvos LZS 5000; eram “alvos que tinham alguns anos e com data de validade até este ano”.

Ainda segundo o DN, tratou-se de “um treino considerado essencial para garantir a capacidade operacional do Exército em reagir a ameaças terroristas que podem utilizar aeronaves para atacar locais estratégicos, à semelhança do que sucedeu no 11 de Setembro. Estiveram envolvidos 180 militares”.

180 militares do garboso Exército português para disparar 8 mísseis, nenhum dos quais atingiu o seu alvo.

Bin Laden – de que é que estás à espera, pá?

“Autor, Autor”, de David Lodge

autorautor.jpgHenry James nasceu em Nova Iorque, em 1843 e faleceu em Londres, onde vivia há muitos anos, em 1916. Romancista influente, foi autor de diversos romances: “Daisy Miller”, “O Calafrio”, “Retrato de uma Senhora”, entre outros. Confesso que não li nenhum livro de Henry James; talvez por isso, esta narrativa de David Lodge, sobretudo centrada sobre a tentativa (falhada) de James em se tornar um dramaturgo de sucesso, não me entusiasmou muito.

Numa escrita bastante diferente do que é hábito em Lodge, mais contida, com menos (ou nenhuns) devaneios humorísticos, é traçado um retrato um pouco frívolo do escritor, que passa a sua vida em compromissos sociais e muito preocupado com o sucesso (ou a falta dele) das suas obras teatrais.

James é apresentado como uma figura assexuada, que parece viver obcecado pelo êxito literário do seu amigo Du Maurier, autor de “Trilby”, um romance que hoje deveria ser classificado como literatura “light”. Ambivalente, Henry James parece invejar o sucesso do amigo e, simultaneamente, desprezá-lo, por se considerar superior.

Se conhecesse a obra de Henry James, talvez o livro me parecesse mais interessante…

Fechem esta merda!

Foram duas semanas de arromba!

Nasceu o meu neto Tiago, completei 54 anos de vida e trabalhei que nem um cão, incluindo fins-de-semana.

À noite, mal tinha energia para desfolhar o jornal e, quando o fazia, ficava sempre ligeiramente nauseado.

Este país é mesmo uma choldra, como dizia o outro.

Agora, parece que um tipo qualquer de Alcobaça, tem usado o seu blog para levantar suspeitas sobre a licenciatura de Sócrates, em engenharia civil, na Universidade Independente.

Parece que o primeiro-ministro não terá feito as cadeiras todas, arranjou umas equivalências manhosas e terá acabado o curso sem frequentar as aulas. Se o fez, não é o único. Eu, por exemplo, licenciei-me em Medicina, em 1977, sem nunca ter postos os pés numa aula de Ortopedia e, em 74/75, tive passagem administrativa a várias cadeiras.

Enfim… o jornal Público embarcou nesta treta e vá de fazer uma “investigação”, enchendo duas páginas com datas e declarações e troca de mensagens, numa tentativa de esclarecer a verdade: será que Sócrates é mesmo engenheiro?

Disto depende o futuro da Pátria.

O PSD, em vez de ficar caladinho, vem a público exigir que o gabinete do primeiro-ministro explique tudo. Porquê? Se Sócrates não for engenheiro, o que acontece? É por Sócrates ser (ou não ser) engenheiro que deixa de ser (ou passa a ser) um grande primeiro-ministro?

Há cerca de dois anos, correu o boato que Sócrates era homossexual – agora, querem provar que o homem nem engenheiro é.

Quer dizer: já que não és paneleiro, prova lá que és engenheiro?

Ridículo!

Coincidência, ou talvez não, esta polémica surge numa altura em que a Universidade Independente parece um país africano, tipo República Democrática do Congo, sempre com golpes de Estado.

O reitor Luís Arouca destituiu o vice-reitor, Verde (é o nome dele). Uma semana depois, Verde mune-se de uma decisão do Tribunal do Comércio e expulsa Arouca, reassumindo o seu lugar. Dois dias depois, a PJ prende Verde e Arouca volta a ser reitor outra vez.

Tal como aconteceu com a Universidade Moderna, fala-se de tráficos vários, fugas de capitais e outras malfeitorias, todas relacionadas com a Universidade Independente.

Está visto para que servem as Universidades em Portugal…

Golpes de Estado acontecem, também, todos os dias no CDS-PP (Clube Dos Servos de Paulo Portas).

Fizeram um Conselho Nacional e parece que andaram à porrada, terão chamado filha da puta à Maria José Nogueira Pinto e houve até um deputado que parece que a agrediu, embora ele negue e diga que ela só o acusou porque ele é preto.

Lindo partido…

Imaginem o que seria se, em vez de partido, o CDS fosse inteiro!

Entretanto, a DECO (organização que tem nome de jogador de futebol), realizou um estudo extraordinário, que fez as delícias dos jornais: arregimentou um grupo de colaboradores, que fizeram de conta que estavam doentes; foram ao médico queixar-se de dores de garganta e mais de metade dos médicos receitou-lhes antibiótico.

Vejam bem a incompetência destes doutores da mula russa: receitam antibióticos a torto e a direito, mesmo a quem não precisa deles!

Ora bem, nunca fui corporativo. Claro que há médicos incompetentes, como há canalizadores, engenheiros, calceteiros, jornalistas e colaboradores da DECO que não sabem o que fazem. Mas este estudo é revelador da mediocridade que impera nesta choldra – mediocridade amplificada pela comunicação social.

Então, a DECO enviou colaboradores, “em perfeito estado de saúde”, preparados para enganar os médicos, dizendo-lhes que sofriam de dores de garganta. Foram a 67 médicos (58 consultórios privados e 9 centros de saúde) e 37 destes médicos receitaram antibióticos aos falsos doentes, embora seis destes 37 médicos tivessem passado o antibiótico em receita à parte, dizendo que era só para aviar se as queixas piorassem.

Que validade terá um estudo como este? Falsos doentes merecem falsos médicos!

Se um doente vem à minha consulta dizer que passou o dia a fazer diarreia, devo-lhe prescrever um anti-diarreico ou pedir para ele cagar à minha frente, para eu confirmar que é diarreia?

Claro que não é exactamente o mesmo, mas, da próxima vez que me deparar com um doente a dizer que lhe dói a garganta, vou ter mais cuidado. Observo a garganta do pretenso doente (não vá ele ser um colaborador da DECO) e peço-lhe um exsudado orofaríngeo. Cerca de 6 dias depois, quando tiver o resultado da análise, logo lhe prescrevo, ou não, o antibiótico. Se ele, entretanto, tiver uma escarlatina, que se queixe à DECO!

Perante estes exemplos, um gajo fica cada vez mais desiludido com o país em que vive, caramba!

Depois, assiste-se a manifestações contra o fecho das maternidades, dos serviços de urgência, das esquadras da polícia e da gnr, dos tribunais e, agora, também dos consulados.

E um tipo pergunta: por que raio não se fecha esta merda deste país?

CSI, Miami & New York

A série CSI transformou-se numa espécie de franchising. Começou em Las Vegas e expandiu-se para Miami e New York.

csi_miami1.jpgA técnica é sempre a mesma, apenas mudam as personagens e os cenários.

Em CSI, Miami, a fotografia é mais luminosa e os personagens são todos uns grandes cromaços, a começar pelo líder, Horatio (David Caruso), que gosta muito de franzir o sobrolho e olhar para o infinito, perante crimes tão hediondos.

Em CSI, New York, a fotografia é mais sombria e os personagens transbordam de angústia csi_ny1.jpgdas grandes cidades, sobretudo o chefe, Mark Taylor (Gary Sinise), que anda sempre engravatado e com ar deprimidíssimo.

Apesar de ser feito em série, qualquer episódio de qualquer destas séries é melhor do que a maior parte dos thrillers e/ou policiais, produzidos actualmente por Hollywood.

Mas, não há amor como o primeiro e, não há dúvida que CSI, Las Vegas, com o anti-herói Gil Grissom, continua a levar vantagem a estas duas filiais.

Bagaço versus cachaça

O governo decidiu fechar a embaixada de Portugal no Iraque. O PSD acha esta decisão inaceitável. O PSD e os próprios iraquianos que, como protesto, fizeram explodir mais algumas bombas nas ruas de Bagdad, coisa que já não acontecia há muito tempo. Consta que o próprio Bush ficou zangado com esta decisão e terá decidido escolher o Brasil como parceiro no seu novo projecto, em detrimento de Portugal.

Segundo disse o presidente dos EUA, Bush e Lula serão parceiros num novo projecto que pretende substituir o petróleo pelo álcool.

Perde o bagaço – ganha a cachaça; e tudo por causa desta estúpida ideia do governo português de poupar dinheiro, fechando embaixadas e consulados.

E agora, pergunto eu: onde é que os extremistas islâmicos irão arranjar passaportes portugueses falsos, para se poderem infiltrar na Europa?

Só mais uma curiosidade sobre a visita do Bush ao Brasil. Segundo o DN, o presidente dos EUA levou, a bordo do seu Air Force One, água e papel higiénico. Água, ainda percebo – Bush estava com medo de se dar mal com a água brasileira e preferiu continuar a consumir a água a que está habituado. Agora: papel higiénico? Quer dizer que o papel higiénico brasileiro nem para limpar o cu dos americanos serve? Se eu fosse ao Lula, tinha juntado umas gotas de Guttalax no jantar do Bush – o gajo havia de cagar tanto, que acabava por gastar o papel higiénico todo.

Depois, mandava-o limpar o cu a notas de dólar.

Se o Bush não tivesse levado dinheiro, que limpasse o cu ao cartão Visa.

Descriminação

Segundo o Expresso “Cavaco tem 20 dias para decidir aborto” (página 10).

Pura discriminação.

Segundo a nova lei do aborto, as mulheres terão um período de reflexão de três dias, antes de decidirem se querem prosseguir com a interrupção voluntária da gravidez – por que raio é que Cavaco tem 20 dias?!

Abrunhosa abaixo!

Pedro Abrunhosa vai participar num debate sobre a Direita portuguesa, promovido por Manuel Monteiro (quem?), líder da Nova Democracia (que é isso?).

Tudo isto porque, quando participou na campanha publicitária do BPI (“Eu estou aqui”), ninguém o empurrou do prédio abaixo.