Para quem não sabe: os deputados da Nação discutiam um plano governamental de benefícios fiscais para a compra de painéis solares.
José Eduardo Martins, deputado do PSD, afirma que o plano foi desenhado para beneficiar duas empresas, a Martifer e a Vulcano.
Em tom irónico, o deputado do PS, Afonso Candal, diz: “Sei que a sua preocupação são os contribuintes.. Eu sei… Eu sei… Sei que, piamente, esses são os seus interesses… São os contribuintes…”
Suspeitando que Candal estaria a insinuar que José Eduardo Martins, que é advogado na área ambiental, poderia estar a querer defender interesses dos seus clientes, o deputado do PSD vira-se para Candal e declara:
“Vai para o caralho!”
Candal ficou obviamente confuso. A que caralho estaria Martins a referir-se?
É que, na frase «vai para o caralho», o deputado do PSD utilizou o termo “caralho” como advérbio de lugar onde (Para onde vais? Para o caralho.)
Ora, sendo Candal deputado do PS, será de supor que Martins o estava a mandar para o caralho do PS.
Mas como em política, nem sempre o que parece, é, podia muito bem ser o caralho do PSD ou outro caralho qualquer.
O grande problema, sempre que se usa o termo “caralho”, é saber se o utilizamos como substantivo, adjectivo, advérbio, unidade de medida, ou como qualquer outra das múltiplas formas como se pode usar o caralho.
Por exemplo, no futebol, “caralho” é muito usado como nome próprio. De facto, mais de 60% dos jogadores de futebol se chamam Caralho. Daí, as expressões: “Passa a bola, Caralho!”, “Remata, Caralho, remata!”, “Vai-te embora, ó Caralho!”
O caralho é também usado como pontuação.
Como virgula: “Ouve lá, caralho, quando é que pagas o que me deves?”
Como ponto de exclamação: “Olha que tu não me tornas a fazer isso, caralho!”
Como ponto final parágrafo: “Não faço nem mais um caralho”.
O grande Millor Fernandes já tinha chamado a atenção para a utilização do caralho como unidade de medida: “grande comó caralho”, “longe comó caralho”.
No entanto, no ambiente de um Parlamento, “vai para o caralho” é uma novidade.
Há antecedentes, claro.
Em 1982, por exemplo, e segundo o DN, o velho Sousa Tavares, dirigindo-se ao “operário” Jerónimo de Sousa que, já nesse tempo, era deputado, disse:
“Olhe, vá í merda! Idiota! Mandrião! Vá trabalhar, que foi aquilo que nunca fez na vida! Calaceiro!”
E recuando mais dois anos, para 1980, o então deputado do PS, Raul Rego, virando-se para o mesmo Sousa Tavares, deputado do PSD, sibilou:
“Vá para a puta que o pariu!”
Percebe-se, portanto, que existe uma espécie de tradição de os deputados do nosso Parlamento se mandarem uns aos outros para sítios curiosos: para a merda, para a puta que os pariu e, agora, para o caralho!
Em resumo: não se sabe se Afonso Candal seguiu o conselho do seu colega Martins e se foi mesmo para o caralho.
Sr. deputado: quando lá chegar, diga-nos qualquer coisa.
Se não soubesse o que sei deste autor, diria que tem veia de humorista. Mas sendo que sei, digo antes que a sua veia está bem, recomenda-se e não deve sofrer de colestrol ou mal semelhante.
Parabéns por esta magnifica prosa!
Estás em grande forma! O Coiso não tem o destaque que merece no panorama editorial nacional, caralho!
Grande pedaço de texto. Genial. Parabéns!
Só faltou a verdadeira definição de caralho.
Caralho é vírgula, como se diz cá no Porto, Caralho!
Obrigado pelos aplausos, caralho! E quando ao João: caralho é virgula, claro, também está no texto. Esqueci-me – hélas! – daquilo que pertence ao caralho, e que é tanta coisa: “isto é do caralho!”, “que coisa do caralho!”, “que azar do caralho!”, etc…
Que texto do caralho! muito bem
muito bem escrito.
FODA-SE
BRAVO, CARALHO!
Faltou dizer que caralho, é também o nome dado ao cesto da gávea,caralho!!! Logo, odito cujo, também tem conotação com a altura:
Alto como o cesto da gávea, ou mais rápido, como o caralho.
Disse, caralho.
P.S.- Não, não disse caralho, que é mal criado!!! Disse!!!
Irónica prosa de excelência.
Parabéns ao COISO.
Lágrimas. Muitas lágrimas a escorrerem-me pela cara. :)
Excelente! Lindo!
Mas que caralho de COISO !!Magnífico,foda-se…!!
EMBORA CORRENDO O RISCO DE “PISAR O RISCO”DEPOIS DA EXCELENTE PROSA NíƒO PODE DEIXAR DE DAR AO DITO O SEU COMPLEMENTO DIRECTO E NATURAL NA GÍRA DO DIA A DIA
PARBENS
Já não é a primeira vez que leio este artigo, e de cada vez que o leio até me veem as lágimas aos olhos, provavelmente o meu artigo preferido até á data…
Tantos anos depois ainda achas engraçado, caralho?
Há ainda, na Madeira, o caralhinho.