“Made in America”, de Bill Bryson

madeinamerica.jpgNeste calhamaço de quase 600 páginas, publicado em 1994, Bryson apresenta-nos a História informal da América. A sua leitura ajuda quem, como eu, por lá andou há pouco tempo, a compreender algumas das idiossincrasias desse imenso país que, apesar de ser uma manta de retalhos, não deixa de ter uma verdadeira unidade nacional.

São vinte um capítulos que abrangem a História não oficial dos EUA, desde o Mayflower í  era espacial, com um enfoque muito especial na língua inglesa, tal como ela é falada pelos americanos.

No capítulo “Nomes”, Bryson conta que, quando a linha férrea estava a ser instalada no estado de Washington, em 1870, um dos vice-presidentes da companhia teve como tarefa dar nome a 32 novas comunidades que iam nascer, ao longo da linha. E então “deu nomes í s comunidades de tudo e mais uma alguma coisa, desde poetas (Whitier) e peças de teatro (Othello), a tipos de comida caseira (Ralston e Purina).”

Verifiquei isso mesmo, ao atravessar o South Dakota, o Iowa ou o Wyoming e ao deparar em localidades com nomes como Gillette, Atomic City, Montpelier, Alcova, Dinossaur, Eureka, Medicine Bow, Ten Sleep.

Fiquei também a saber (embora já suspeitasse), que a maior parte dos mitos sobre os tempos dos cowboys foram inventados por Hollywood. Por exemplo, aquela história das caravanas dos colonos se disporem em círculos, para melhor se defenderem dos ataques dos índios, é uma aldrabice. Diz Bryson: “durante a maior parte da viagem as carroças avançavam em filas paralelas com distâncias entre si que podiam ir até 15 quilómetros, a fim de evitar a poeira umas das outras e também os sulcos das rodas daqueles que tivessem por ali passado antes deles – o que criava mais um obstáculo í  formação do tal círculo defensivo”.

No que respeita í  comida americana, é verdade que ele não presta, mas também é verdade que os próprios americanos parecem ter vergonha dela, ao inventar nomes estrangeiros para coisas que eles inventaram.

Diz Bryson: “O Russian dressing é desconhecido pelos russos, assim como a variedade americana de French dressing é desconhecida para os franceses. A vichyssoise não foi criada em França mas em Nova Iorque, em 1910, e o queijo Liederkranz não veio da Alemanha, nem sequer da íustria ou da Suíça, mas de Monroe, em Nova Iorque, onde foi criado em 1892. Em Espanha, o chilli com carne era desconhecido até ao momento em que foi lá introduzido pelo Novo Mundo. Salisbury steak não tem nada a ver com a cidade inglesa famosa pela sua catedral (foi chamado assim por um americano – o Dr. J. H. Salisbury), nem o Swiss steak tem o mais pequeno pedigree alpino. Chop suey (baseado no cantonês para ‘miscelânea’) surgiu pela primeira vez em San Francisco nos finais da década de 1800 (e não na China). O bolinho da sorte foi criado em Los Angeles na segunda década do século XX. Ainda mais recente é o chow mein, que apareceu em 1927.”

Uma das características mais marcadas dos americanos parece ser transformar a mais pequena novidade numa verdadeira mania, e fazê-lo de tal maneira, que suplantam sempre todos os restantes povos. Os exemplos são inúmeros, ao longo do livro, desde os patins aos centros comerciais. Bryson diz-nos que, assim que a bicicleta atravessou o oceano e se instalou na América, por volta de 1882, os americanos aderiram de tal forma í  novidade que, em 1895, existiam cerca de dez milhões de bykes nos EUA.

Byke” é um dos milhares de termos novos, introduzidos na língua inglesa, graças aos americanos, que têm uma predilecção especial por abreviar palavras. Os exemplos são, também, aos milhares, desde “vic“, em vez de victim, até “fab“, em vez de “fabulous“. Outra coisa de que eles gostam muito é de usar neologismos, a partir de siglas, mesmo com os palavrões. Bryson dá alguns exemplos: tuifu (the ultimate in fuck-ups), tarfu (things are really fucked up), fubar (fucked-up beyond recognition), e fubid (fuck you, buddy, I’m detached).

O dinheiro, a imigração, as viagens, a comida, as compras, a educação, a publicidade, o cinema, os desportos, a política e a guerra, o sexo – são outros tantos assuntos escalpelizados exaustivamente por Bill Bryson, neste livro essencial para quem quiser conhecer melhor os EUA, os seus tiques e as suas manias.

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