Coetzee é garantia de boa leitura, como já tinha comprovado com “A Vida e o Tempo de Michael K” (1983), “Desgraça” (1999) e “Diário de Um Ano Mau” (2007).
Neste romance, Paul Rayment é um fotógrafo sessentão, í moda antiga, avesso aos avanços da tecnologia que, certo dia, ao passear de bicicleta, é abalroado por um carro.
Na sequência dos ferimentos sofridos, amputam-lhe uma perna. Paul recusa a prótese e volta para casa ainda mais deprimido do que já estava antes. É um homem amargo, misógino, divorciado, que nunca teve filhos.
De acordo com a assistência social, uma enfermeira é destacada para dar apoio a Paul, dar-lhe banho, limpar-lhe a casa, alimentá-lo (a acção decorre na Austrália). Mas o feitio de Paul é muito difícil e as enfermeiras vão-se sucedendo. Nenhuma aguenta muito tempo as idiossincrasias do fotógrafo.
Surge então uma enfermeira de origem croata, Marijana, que consegue dar a volta a Paul, com a sua simplicidade de mãe de família, habituada a ultrapassar muitas dificuldades. A pouco e pouco, o fotógrafo percebe que se está a apaixonar pela enfermeira.
Nessa altura, entra em cena a escritora profissional Elizabeth Costello, uma septuagenária que está í procura de material para o seu futuro romance. Paul e a sua perna amputada, Marijana, o seu maridos e os três filhos, são excelentes personagens.
Em resumo, este é o riquíssimo material que Coetzee juntou para escrever este livro.
Acrscente-se as recordações de infância de Paul, de origem francesa, com um padrasto holandês, a sua paixão platónica por Marijana, que o leva a querer proteger e ajudar os seus filhos, a paixão, também ela platónica, de Elizabeth por Paul, os problemas dos dois filhos mais velhos da enfermeira, e temos um livro cheio de questões éticas de difícil resposta.
Mas também não é de respostas que Coetzee está í procura. A missão do escritor é, exactamente, a de levantar as questões. Compete-nos meditar sobre elas.
Boa companhia de viagem, mais este romance de J.M. Coetzee, escritor nascido na ífrica do Sul, em 1940, e que recebeu o Nobel em 2003.