Confesso que resisti muito tempo a ler este livro que me ofereceram, porque sempre desconfiei de unanimidades – e não há dúvida que Murakami tem uma opinião favorável quase unânime, por parte dos jornais e revistas, e cada livro seu que sai é um acontecimento, enchendo-se as livrarias de pilhas de livros, que se vendem a bom ritmo.
E tenho um bocado essa mania de não ir em modas, razão pela qual nunca tinha lido nada de Murakami.
Admito que fiquei agradavelmente surpreendido, embora ainda não esteja completamente rendido.
“A Rapariga que Inventou um Sonho” é uma colectânea de contos, publicados entre 1981 e 2005. São 24 histórias para todos os gostos, umas realistas, outras surrealistas ou fantásticas, mas todas com uma linguagem tão simples e directa que quase roça a vulgaridade.
Murakami usa e abusa de frases feitas, partindo do princípio que a tradutora (Maria João Lourenço) adapta esses lugares comuns í língua portuguesa. Com efeito, tropeçamos constantemente em frases como: “nem nada que se pareça”, “tinha perfeita consciência”, “muita água correu debaixo das pontes”, “unha com carne”, “cabeça í banda”, “trocar galhardetes”, etc, etc.
As histórias de Murakami são simples e, a maior parte das vezes, não têm um final, mas a narrativa tem um “não sei quê” que nos agarra e nos obriga a continuar, í procura de um desenlace.
Um bom exemplo é o conto intitulado “Onde é mais provável que a encontre”. Uma mulher contrata um suposto detective para encontrar o seu marido, que terá desaparecido, certo dia, entre o 24º e o 26º andar do prédio onde viviam.
O suposto detective vai inspecionar o prédio e fica espantado com a escadaria larga e bem iluminada e começa a passar ali os dias, subindo e descendo e conhecendo alguns inquilinos curiosos do dito prédio, com quem tem diálogos banais. A certa altura, a mulher que o contratou telefona-lhe a dizer que o marido tinha sido encontrado numa cidade distante. E pronto.
Curioso, também, o conto intitulado “O macaco de Shinagwa”, que conta a história de uma mulher que se esquece, de vez em quando, do seu próprio nome.
Claro que já comprei um dos romances do Murakami, para ver se fico mesmo adepto…
Nunca tinha lido nada de murakami pelas mesmas razões (unanimidade e moda) mas nestas férias li “crónica do pássaro de corda”, marcou-me muitíssimo e continuo a pensar amiúde no que li. Gosto muito deste blog, cumprimentos.
Comecei agora “Kafka í beira-mar”… vamos a ver. Obrigado pelo elogio.
Também eu sou um bocado desconfiado de modas, unanimidades, mas ofereceram-me o “1Q84” e foi com alguma curiosidade que o li, quase de seguida.
Não há duvida que escreve bem, a leitura prende o leitor. Isso tem de ser bom.
Mas no fim senti-me defraudado, quando uma personagem tem um comportamento invulgar, estranho, ficamos na expectativa que o final do livro nos deixe compreender esse comportamento. Mas não, acabou na página 487 e eu fiquei com a sensação que faltavam páginas ao livro.
A rever.
Mas esse livro, em Portugal, foi publicado em 3 volumes…
Pois, de facto o livro chama-se livro 1, mas não refere em lado nenhum que haverá um segundo, um terceiro, ou outro..
No entanto lendo-o fica-se í espera da continuação. realmente.
Obrigado pela informação.