“A Balada de Adam Henry”, de Ian McEwan (2014)

Começo pelo título em português: claro que não é fácil traduzir o título original (The Children Act), mas talvez com um pouco de esforço se tivesse encontrado uma solução mais elegante do que A Balada de Adam Henry.

Faz-me lembrar a velha tradução da série televisiva Hill Street Blues por A Balada de Hill Street.

The Children Act tem, em inglês, o duplo sentido de poder significar um acto de uma criança e a lei que protege os direitos das crianças.

Balada é que não!

A única coisa mais parecida com balada será o poema que Adam Henry envia para a juíza e o facto de a juíza tocar piano…

ian mcewanIan McEwan (nascido em 1948) é um dos escritores da actualidade que mais aprecio.

Devido í s suas primeiras obras, ficou conhecido como Ian Macabro e é certo que todos os seus livros têm um lado negro bem vincado.

Neste The Children Act é-nos contada a história de Fiona Maye, uma juíza de 60 anos, do Supremo Tribunal, que julga casos de família e menores.

baladaO casamento de Fiona está num impasse. Demasiado absorvida pela sua profissão, a juíza começa a perder o marido, que se apaixona por uma jovem.

História habitual.

É com este pano de fundo que é chamada a julgar o caso de um jovem de 17 anos, testemunha de Jeová, a morrer de leucemia e que recusa uma transfusão de sangue que o pode salvar.

Fiona decide visitar o jovem, o tal Adam Henry, internado no hospital e entre eles nasce uma empatia que terá desenvolvimentos inesperados.

Para enriquecer a história, conhecemos alguns casos que Fiona tem que julgar. Um deles fez-me lembrar a minha realidade como Médico de Família, a trabalhar numa região de bairros sociais:

«Quatro anos antes, com dezoito anos, depois de uma rapariga o acusar por má-fé de violação, passou algumas semanas detido numa prisão para jovens infractores e puseram-no com pulseira electrónica e termo de identidade e residência durante seis meses. Havia bons indícios de mensagens por telemóvel a apontar para o facto de o sexo ter sido consensual, mas a polícia recusou investigar, pois tinham objectivos a atingir em casos de violação. Gallagher era precisamente o tipo de homem de que precisavam. No primeiro dia do julgamento, provas comprometedoras apresentadas pela melhor amiga da acusadora demoliram a acusação. A suposta vítima tinha esperança de receber dinheiro da Autoridade de Protecção por Danos de Origem Criminosa para comprar uma nova Xbox.»

Mais um bom romance de McEwan.

Outras obras deste autor: Mel, Na Praia de Chesil, Cães Pretos, Entre Lençóis, Jardim de Cimento, Solar.

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