Pouco se sabe de Elena Ferrante, a começar pelo próprio nome, que não deve ser esse.
Sabe-se que nasceu em Nápoles e que é mãe e mais nada. Não dá entrevistas, não se deixa fotografar e, no entanto, é considerada uma das escritores italianas mais importantes da actualidade.
Este L’Amica Genial (Relógio de ígua, tradução de Margarida periquito) foi uma agradável surpresa e devorei-o em três tempos.
Trata-se do primeiro volume de uma tetralogia narrada por uma rapariga de um bairro pobre de Nápoles.
Com uma linguagem simples e fluente, vamos conhecendo as histórias de Elena Greco (a narradora), da sua grande amiga e inspiradora, Lila Cerullo, dos seus amigos e das respectivas famílias, do sapateiro, do charcuteiro, do mafioso do costume, do porteiro da Câmara.
Ao contrário dos outros miúdos, Elena vai continuando os estudos, da escola básica para o liceu e, í medida que vai obtendo mais sucesso escolar, maior é a sua luta interior: por um lado, deseja ardentemente sair do bairro, viver outra vida, mas por outro é ali que estão as suas raízes.
Por outro lado, a sua grande amiga, Lina, que parecia ser mais capaz de romper com a vida do bairro, vai desistindo da escola, adaptando-se.
Como diz a professora de Elena: «A beleza que a Cerullo possuía na mente desde pequena não encontrou saída, Greco, e foi-lhe toda parar í cara, ao peito, í s coxas e ao cu, lugares onde depressa desaparece, e é como se nunca a tivesse tido».
Não pude deixar de estabelecer um paralelo entre estas histórias e as que vivo, profissionalmente, no meu dia a dia, há 30 anos.
O livro termina com o casamento de Lina, aos 16 anos e espero que o segundo volume saia em breve.
Aconselho vivamente.