Quando se tem uma carreira firmada, já se pode brincar um pouco consigo próprio, e vender livros na mesma.
Neste pequeno livro, de cerca de cem páginas, Auster conta-nos uma história sem princípio nem fim – tem apenas o meio: um velhote, fechado num quarto, com a memória muito afectada, aparentemente culpado de alguns crimes. Decidiu chamar-lhe Mr. Blank (vazio) e, pelos vistos, este velhote poderá ter sido o culpado de algumas das personagens que Auster criou, nos seus romances anteriores.
Ou não.
Mas há uma grande história, que vale toda a narrativa: um homem vai, todos os dias, ao mesmo bar e pede três whiskies, que bebe, de enfiada. Intrigado, o empregado do bar, perde a vergonha e, ao fim de alguns dias, pergunta-lhe por que motivo ele pede três whiskies e os bebe, de enfiada, em vez de beber um whisky e, só depois, pedir outro. O homem explica-lhe que tem mais dois irmãos, a viver longe e que os três combinaram, a uma determinada hora do dia, beberem um whisky em honra de cada um deles.
Os meses passam-se e, ao fim de algum tempo, o homem pede só dois whiskies, em vez de três. O barman pensa que um dos seus irmãos talvez tenha morrido, mas não tem coragem para perguntar. No entanto, a sua curiosidade é mais forte e, alguns dias depois, acaba mesmo por perguntar, por que razão o homem passou a pedir só dois whiskies – será que lhe morreu algum dos irmãos? Qual quê! exclama o homem. Os meus irmãos estão óptimos. Eu é que deixei de beber!
Cinco estrelas!
O P. Auster pode nunca a ter ouvido (e tu tb não, ao que parece), mas essa história é uma anedota daquelas muito velhinhas…eu conto-a apenas com um irmão, e portanto dois copos (de vinho).
De qualquer modo, é uma grande história e o Auster conta-a como uma anedota antiga e não como se fosse algo que ele tivesse inventado. O que é notável nos livros de Auster é que estão cheios destas pequenas histórias, antigas ou não, conhecidas ou novas.
Fiquei muito curiosa em relação ao livro. Vou ler concerteza, mas gostava de lançar desde já uma questão: “Achas que dava um filme?”
Tudo pode dar um filme, embora este livro seja demasiado introspectivo; seria difícil adaptá-lo ao cinema.