Vamos lá rever a matéria.
O Presidente Cavaco podia ter antecipado as eleições para Junho para evitar a confusão, mas achou que não valia a pena porque estudou todos os cenários possíveis e já sabia o que tinha que fazer.
As eleições foram em Outubro, a coligação PSD/CDS ganhou mas os partidos de esquerda tiveram mais deputados.
Isto deixou o Cavaco í brocha, porque ele tinha estudado todos os cenários, menos este.
Com efeito, o Presidente tinha previsto a vitória do PSD, ou a vitória do PSD ou, no máximo, a vitória do PSD. E sempre com maioria absoluta ou, pelo menos, com maioria absoluta.
Restava a hipótese de nomear António Costa, mas Cavaco não iria fazer isso sem, primeiro, ter a certeza que Costa não queria sair da Nato.
Como se sabe, Cavaco adora a Nato e a Nato não sobrevive sem a ajuda de Portugal, por isso, que se lixem os salários, que se lixem as reformas – temos é que preservar a Nato.
Então, Cavaco exigiu que Costa respondesse a seis questões fundamentais, antes de o indignar, perdão, indigitar para primeiro-ministro.
Costa respondeu em poucas horas, com uma carta, cujo conteúdo não foi revelado, mas que diz o seguinte:
Caro Aníbal:
Espero que esta carta te encontre bem, assim como a todos os teus. A Maria tem passado bem? E os netinhos? Já fizeram a árvore de Natal? E já têm uma lista de prendas? Era bom que fizessem uma lista porque cada vez é mais difícil arranjar prendas para vos dar – vocês têm tudo!
Nós, aqui pelo Rato, temos passado bem. O Sócrates lá continua a fazer almoços de desagravo, muito zangado com a justiça. Quem está muito contente é o João Soares, porque já lhe prometi o ministério da Cultura, caso faças a fineza de me indigitar. Já agora, se decidires indigitar-me, faz o favor de o fazer antes de sexta-feira porque já tinha planeado um fim de semana em família e não me dava jeito nenhum tomar posse nessa altura.
Além disso, o Jerónimo já prometeu que te oferece uma assinatura do Avante até morreres!