E com mais este livrinho de contos, acho que esgotei a criação de Dalton Trevisan, pelo menos a publicada em Portugal.
A Trombeta do Anjo Vingador é mais uma colecção de contos curtos que versam sempre sobre a mesma temática: ciúme, engano, separação, ódio, amor, grandes bebedeiras, surras na mulher, vidas mais ou menos desgracidas, como o autor lhes chama.
Diz-se que os escritores estão sempre a escrever o mesmo livro e com Tevisam isso é evidente. Os livrinhos têm diferentes títulos, mas as historinhas são todas idênticas e podíamos perfeitamente trocar os títulos, que ninguém daria por isso, a não ser o autor. Talvez… (O Vampiro de Curitiba, Cemitério de Elefantes, A Polaquinha, Novelas Nada Exemplares, Guerra Conjugal).
Obsessões do escritor: elefantes de faiança como decoração pirosa, vidro moído que se ingere para partir deste mundo cruel, cheiro a cadela molhada, o João, a Maria, os inhos e as inhas, a perfídia.
«Abandonada pelo sedutor, ingeriu quinze comprimidos de aspirina. Não morreu, agora com tossinha nervosa que disfarça a dispepsia crónica. Sem amigas, repudiada pelas mães dos alunos, proibido o salão de baile. Guarda-pó dobrado no braço, transferida para a escola isolada no fundão. Sempre cativa do Josias, saudoso no saxofone da bandinha. Ela quem paga as prestações da fogosa mota vermelha. Só para vê-lo em nuvem de pó com outra na garupa».
Dalton evita os rodriguinhos. Escreve o essencial.
«Não tem café. Nem um bolacha mofada. Uma única salsicha. Na despensa a lata esquecida de milho verde.
Todos os copos – até os de brinde – usados na pia. Enche na torneira o menos sujo, merda de água, podre de cloro.
No banheiro, mãos no azulejo plantadas, urina longamente. Arrepiado ao pensar no banho frio, ninguém para ligar o aquecedor, quando havia aquecedor.
Na toalha, o bafio da cadela molhada.»
Gostei.
terminei de ler o livro e cai aqui, Achei seu comentário justo.