O título deste pequeno livro da coreana Han Kang é enganador.
Claro que tudo começa porque Yeong-hye decide tornar-se vegetariana, depois de um sonho assustador, que mete carne estralhaçada e sangue, mas isto é apenas um pormenor.
A Vegetariana é um romance duro e violento sobre a solidão e as relações estranhas entre familiares quando algo foge í chamada normalidade.
Han Kang é uma sul-coreana nascida em 1970 e que, com este romance, ganhou o Man Booker Internation Prize do ano passado (curioso, uma mulher ganhar o Man Book Prize…).
O facto da autora ser coreana não é alheio a uma certa estranheza no tema da história, acho eu…
O livro, de apenas 190 páginas, contrariando os espessos tijolos que estão agora “na moda”, está dividido em três partes.
Na primeira parte, ficamos a saber quem é Yeong-hye, uma mulher jovem, casada com o Sr. Cheong, muito formal, e que, de repente, tem um sonho aterrador e decide tornar-se vegetariana. Este facto deixa o marido e toda a família dela estupefactos e, num almoço em que todos se reúnem, o pai de Yeong-hye tenta obrigá-la, í força, a comer carne. Ela corta os pulsos e é internada num hospital psiquiátrico.
Na segunda parte, o cunhado de Yeong-hye, que foi quem a impediu de sangrar até í morte e a levou ao hospital, está obcecado por ela e por uma pequena mancha mongólica que ela tem junto í s nádegas. Depois de ela ter alta do hospital psiquiátrico, procura-a. Ele faz vídeo-arte e convence-a a deixar-se pintar. Pinta-lhe todo o corpo com flores (ela fica ainda mais vegetariana). Ele pinta-se também. Acabam na cama, depois de algumas páginas de intenso erotismo.
Na terceira parte, a irmã de Yeong-hye, In-hye, depois de os ter encontrado na cama, expulsa o marido da sua vida e interna a irmã, novamente, num hospital psiquiátrico. Foi sempre ela que assumiu todos os problemas da família. Tem um filho pequeno. Conhecemos um pouco da infância das duas irmãs, como ela sempre cuidou de Yegon-hye e sempre a defendeu do pai. Mas Yegon-hye está cada vez mais “vegetariana”. Deixa de comer. Passa horas a fazer o pino, para que as mãos sejam as raízes, quer transformar-se em árvore.
O resto fica por vossa conta.
Uma coisa é certa: Han Kang conseguiu que eu imaginasse estes três personagens, que criasse, na minha cabeça, uma figura humana para cada um deles, coisa que, por exemplo, Paul Auster não conseguiu com as suas quatro versões de Archie Ferguson, no calhamaço “4 3 2 1”.
Recomendo.