Entre dezembro de 1983 e março de 1985 escrevi mais de 30 crónicas que foram lidas e interpretadas pelo Raul Solnado, primeiro, no programa Fim de Semana, na RTP-1, depois no Programa da Manhã, da Rádio Comercial.
A visita de Mário Soares a Londres saldou-se por um honroso empate, mas valeu a pena…
O 1º ministro levou a mala cheia de boas intenções, propondo trocas diversas, mas a sra. Tatcher não esteve pelos ajustes.
Assim, em resumo, era só uma questão de trocar celulose por uma fábrica de papel, e as pirites por cobre e alumínio.
Mas nem a evocação da velha aliança luso-britânica demoveu os ingleses.
Dizem que vão estudar o assunto… É sempre a mesma conversa…
É que nós podíamos trocar uma data de coisas, caramba!
Por exemplo, a gente dava-lhes as conservas e eles ofereciam-nos os Conservadores; eles entregavam-nos os Trabalhistas, e nós, os trabalhadores; com os sociais-democratas, podia ser ela por ela; e em troca do PPM, eles cediam-nos a família real inglesa.
Talvez não fosse mau negócio, mas cheira-me que a sra. Tatcher não iria na conversa…
Trocas as Berlengas pelo rochedo de Gibraltar, o Parque Eduardo VII pelo Hyde Park, e o relógio da rotunda do aeroporto pelo Big Ben, também, não resultava…
Ao fim e ao cabo, os ingleses também têm as suas dificuldades… até vivem numa ilha e tudo…
Podíamos muito bem trocar a nossa greve dos universitários, que é pequenina, pela greve dos mineiros ingleses, que já vai em 8 meses. Mas neste caso, tenho a sensação que ficávamos a perder…
E já que o Jimmy Hagan, que é inglês, veio treinar o Atlético, podíamos demonstrar o nosso agradecimento, enviando o Meirim para o Liverpool que, pelos vistos, só sabe ganhar ao Benfica.
Enfim, as trocas entre as duas nações poderiam ser imensas. Era só uma questão de imaginação e boa vontade.
Se eles têm as Joias da Coroa, nós temos as moedas de cinco coroas; se eles têm o príncipe Carlos, nós temos o Príncipe Real; se eles têm o Paul McCartnhey, nós temos o Marco Paulo; se eles têm as gaitas de foles, nós temos mais buracos que uma gaita.
Mas, apesar de não se ter chegado a acordo nenhum, a visita de Mário Soares a Londres valeu a pena, quanto mais não seja pelos tomates.
De facto, a dama de ferro disse que “…que os regimes europeus são mais importantes que o vinho e os tomates”.
E assim se acabaram as dúvidas angustiantes dos portugueses.
Todos aqueles que temiam que os tomates fossem mais importantes que a democracia, podem ficar descansados.
Os tomates vêm e vão, amadurecem e caem de podres, mas as democracias mantêm.se, sempre frescas e viçosas.
Foi aquilo a que se pode chamar uma afirmação dos tomates!
Vejam se têm cuidado com os… regimes europeus, claro… e façam o favor de ser felizes.