Os super-heróis não são uma criação recente, como se poderia supor. Já na Antiguidade, muitos homens e mulheres se distinguiram pelos seus feitos, merecendo o epíteto de heróis. No entanto, se tivessem vivido no século 20 e vendessem as suas histórias a uma qualquer empresa de banda desenhada, certamente que seriam tão super-heróis como o homem aranha ou o super-homem.
Façamos uma rápida recapitulação dos grandes super-heróis de antigamente, sem preocupações cornológicas.
Todos se recordam de Spartakus que, com uma fisgas de ir aos passarinhos furou o olho do gigante Adamastor num combate que se tornou célebre em todo o Egipto. Ou Alexandre o Grande que, í frente de um exército montado em elefantes, atravessou os Himalaias, derrotando os Persas em Ormuz, sem lugar para dúvidas nem lugar para mortos, que foram aos milhares. Todos se recordam também do pequeno David, possuidor de uma farta cabeleira que, graças í sua força bruta, impediu que o Circo de Roma se desmoronasse durante o terramoto de 1755. Foi também nessa data que Joana D”™ Arc se tornou famosa ao transformar o pão que levava aos pobrezinhos esfomeados, em rosas perfumadas, ao ser interpelada por Lord Nelson que acabava de chegar da batalha de Aljubarrota, na qual, í frente de um pequeno exército, derrotara as hordas dos temíveis Hunos, que pretendiam conquistar o Peloponeso.
Foi a histórica batalha de La Lys, em que também se distinguiu Guilherme Tell que, com um único tiro de pistola, acertou em cheio na maçã de Adão de Gengis Khan, pondo fim ao reinado de terror daquele impiedoso imperador jugoslavo.
Não menos famosa foi Deuladeu Martins, uma super-heroína lusa que, munida de uma pá de padeiro, esmagou o crânio do gigante Golias ““ essa fera hedionda, possuidor de um único olho, situado a meia distância.
Citemos ainda Bufalo Bill, espadachim exímio que, num duelo nunca visto, porque era noite, e estava escuro, derrotou Napoleão na grande batalha de Trafalgar, quando os ingleses, fartos e cansados da Guerra dos Cem Anos procuravam, a todo o custo, submeter os povos das Antilhas britânicas.
Outro grande nome foi, sem dúvida, Nabocudonosor, mas esse não foi herói.
Herói foi, no entanto, Robin dos Bosques, cavaleiro da Transilvânia que, durante a noite, se transformava num insaciável vampiro, conhecido pelo nome de Conde de Sabrosa, que aterrorizava toda a região limítrofe do seu castelo. Ou esse outro herói, o dr. Frankenstein que, graças a um produto químico que ele próprio fabricava no seu laboratório secreto, se transformava em dr. Jeckyl. Os americanos lembram-se bem dele e da sua actuação decisiva para a independência dos Estados Unidos,
E o grande Ulisses que, na batalha de Trancoso, preferiu ser decepado a deixar a bandeira nacional nas mãos dos austro-húngaros, acabando por morrer com a bandeira nos dentes.
E os nomes dos super-heróis de antigamente poderiam seguir-se. Seria uma lista interminável.
El Cid, o campeador, herói britânico, que preferiu juntar-se aos povos árabes e lutar pela sua independência, nas ardentes areias do deserto paquistanês.
Robinson Crusoe que, com um golpe de espada trespassou a enorme baleia Moby Dick.
Bem-Hur que, mercê da sua super-força, afastou as águas do Mar Vermelho para deixar passar os Curdos, que fugiam dos agressores gauleses.
Lawrence da Arábia, que ficou na História como desbravador da selva africana, enfrentando feras, antropófagos e a malária, acabando por morrer í s mãos de King Kong, terrível chefe etíope que, na altura, dominava todas as tribos a norte do Tibete.
Ou Sir Lancelot e D”™Artagnan, dois dos famosos cavaleiros da Távola Redonda, que se distinguiram na busca da pedra filosofal, derrotando dragões e monstros fantásticos, como o de Loch Ness e o da Lagoa de Melides.
Que nos desculpem as memórias dos que não foram aqui citados, mas para todos os super-heróis de antigamente aqui fica a nossa homenagem e o nosso muito obrigado.
- in Pão com Manteiga, programa da Rádio Comercial – emitido em 13 de setembro de 1981