7h 30 ““ Saímos de Sioux City, em direcção a Lead.
O pequeno-almoço foi mais uma desgraça americana. O Clarion Hotel decidiu oferecer o pequeno-almoço. Então, atirou com uns quantos baggels, que são duros como cornos, e outros quantos muffins, para cima de uma mesa, juntou-lhes café e sumo de laranja de pacote e chamou a isto, pomposamente, continental breakfast!
Vamos em frente.
Serão mais 800 km. Diz-se por aqui: “…this is not the end of the world, but you can see it from here…”
Fizemos a nossa primeira paragem em Mitchell, já no South Dakota. Esta pequena localidade, no meio de lado nenhum, decidiu passar a vir no mapa, usando os seus próprios recursos. Assim, em 1892, os habitantes de Mitchell construíram um palácio em madeira, e decoraram-no com maçarocas de milho. O sucesso foi tão grande, que a coisa foi crescendo. Hoje em dia, o Corn Palace é de tijolo e, lá dentro, tem espaço para a realização de jogos de basquetebol, concertos, festivais. Por fora, toda a decoração é feita com maçarocas de milho. Todos os anos, por altura das colheitas, a decoração é renovada. No topo do palácio, minaretes dão-lhe um toque ainda mais bizarro.
Este mirabolante Corn Palace fica na Maine Street de Mitchell e está rodeado de pequenas lojas de souvenirs e bares, em edifícios térreos, que fazem lembrar as cidades de cowboys.
A propósito deste show off tão tipicamente americano, sublinhe-se o facto de quase todos os restaurantes, cafés e bares, serem os melhores do mundo em alguma coisa, e anunciarem-no em letras garrafais. Em Sioux City, um restaurante chamava-se Famous Dave. Será que é famoso desde que foi inaugurado ou, começou por ser, simplesmente, Dave Restaurant e, depois, í medida que foi sendo conhecido, acabou por passar a ser o Famous Dave?
O Aurélio”™s Pizza, em Chicago, tinha “…the most famous pizza in the world“. E todos têm uma qualquer característica que os transforma nos mais populares, ou mais tradicionais, ou, mais simplesmente, os the world”™s best!
Uns convencidos, estes americanos…
Almoçámos no Al”™s Oasis, que fica logo ali ao lado do Missouri. Desta vez, tivemos a oportunidade de degustar uma salad bar, composta por mistela de galinha e massa, acompanhada por saladas diversas. Enfim, comeu-se…
Entretanto, começou a chover. A estrada continua, sempre em frente, através de campos infinitos, verdejantes. Aqui e ali, pequenas quintas, com celeiros. De vez em quando, vacas a pastar. No Dakota do Sul, a população não chega ao milhão de habitantes.
Ao contrário da maior parte das nações, os States não conquistaram as suas terras: compraram-nas. Já conhecia a velha história da compra de Manhattan aos índios, pelo equivalente a 24 dólares. Fiquei agora a saber, que o Presidente Jefferson comprou a Louisiana a Napoleão, por 15 milhões de dólares, o que só prova que Napoleão não era nenhum índio!
Naqueles tempos, a Louisiana era um território extenso, que ia desde o sul dos actuais States, até ao Canadá, incluindo esta região do South Dakota. O Louisiana, era maior que os EUA de então. Jefferson não sabia muito bem o que estava a comprar e Napoleão não sabia muito bem o que estava a vender. A maior parte da região, ainda não tinha sido explorada. Depois da compra, Lewis e Clark organizaram uma expedição, para explorarem estas terras de ninguém. Só depois é que os americanos começaram a matar os índios (como se sabe, os únicos índios bons são os índios mortos; o mesmo acontece com os polícias…)
As Badlands são outra daquelas coisas especiais que vão ficar na nossa memória, como Machu Pichu, Guilin, o Amazonas, o Grand Canyon…
As Badlands são um conjunto de montanhas arenosas, com estratos sedimentares e que se foram formando í medida que o Oceano foi recuando. Os índios e os pioneiros americanos, chamavam-lhes The Wall e, com efeito, após quilómetros de pradaria, erguem-se estas montanhas, como se fossem uma parede intransponível.
Tivemos sorte com o tempo: o sol abriu por entre as nuvens e até estava calor. Os flocos de nuvens sobre as rochas e a alternância de luz e sombra, conferem diferentes visões destas rochas. Algumas elevam-se, num imenso vale; outras, parecem abrir caminho para baixo. Paisagem lunar.
Agora, vamos a caminho do Monte Rushmore, enquanto nos divertimos a ver os prairie dogs, de pé, nas patas traseiras, junto í s tocas. São í s dezenas. Mas tão pequenos e tão rápidos, que é impossível fotografá-los.
Entretanto, ganhámos uma hora, porque passámos um paralelo, algures na imensa estrada.
O Monte Rushmore é mais outra daquelas coisas que não lembrava a mais ninguém, senão aos orgulhosos patriotas americanos. Esculpir as cabeças de quatro presidentes (Lincoln, Jefferson, Washington e Roosevelt), no topo de uma montanha, num local praticamente inacessível, deve ter sido tarefa árdua. A obra ficou pronta pouco antes de começar a II Grande Guerra.
A nossa visita ao Monte Rushmore esteve em risco. Quando chegámos í s Black Hills (assim chamadas porque a densa floresta dá uma cor negra í s montanhas), começou a chover intensamente. No entanto, quando atingimos o topo das montanhas, parou de chover e, apesar de o céu estar plúmbeo, a visibilidade era boa.
Estava um frio do caraças, a contrastar com o calor das Badlands e o chão estava cheio de pedaços de gelo.
Só mesmo os americanos, para esculpir a capa de um disco dos Deep Purple, no cimo de uma montanha!…
Passámos a noite em Lead (pronunciar Lidz), uma pequena cidade que nos parece curiosa e que foi, no século 19, uma cidade mineira ““ daí que as Black Hills, aqui, assumam o nome de Golden Hills.