Boris Vian (1920-1959) foi um agitador francês que viveu depressa. Durante a sua curta passagem pela vida, deixou bem vincada a sua marca em Saint-Germain-des-Prés e meteu-se em quase tudo: escreveu peças de teatro e canções, poemas e romances, foi trompetista de jazz e tudo e tudo.
Dele, conheço melhor os romances: “A Espuma dos Dias” e “O Outono em Pequim”, ambos de 1947, e “O Arranca-Corações”, de 1953. Já tive a minha fase Boris Vian e duvido que os seus romances aguentassem uma segunda leitura.
Como é natural num tipo hiperactivo, deu opiniões sobre tudo e mais alguma coisa e, no ano passado, Noel Arnaud decidiu compilar citações e aforismos de Vian, neste livro, editado agora em Portugal, pela Fenda.
Nele encontramos palavras de Boris Vian sobre o amor, as mulheres, a moral, o jovens e os velhos, o futuro, a morte, deus e os seus servos, etc
Sobre o trabalho, por exemplo, disse Vian: “O paradoxo do trabalho é que, no fim de contas, trabalhamos apenas para o suprimir. E, ao recusar constatar com honestidade o seu carácter nocivo, acordamos-lhe todas as virtudes que mascararam o seu lado fatal. De facto, o verdadeiro ópio do povoe a ideia que se lhe dá do trabalho.”
É um livrinho interessante, que se lê numa tarde, embora algumas das frases e comentários de Vian não tenham assim tanto interesse, até porque muitas delas estão datadas, falando-nos de personagens contemporâneas de Vian, que terão sido importantes para ele próprio, mas que, a nós, nos dizem muito pouco.
Acrescente-se que, na sua altura, a literatura policial em França ou era oriunda dos States, ou não tinha saída comercial.
Daí que alguns dos seus livros são assinados com o pseudónimo de “Vernon Sullivan”.
Num deles, a ironia chegou ao ponto de ter na capa, sob o nome, a seguinte frase: “traduzido por Boris Vian”!