Os animais do Pantanal

í€s 5h30, a primeira caminhada do dia. Objectivo: ver animais. Sempre.

Vimos um veado, um tamanduá bandeira, macacos e os habituais pássaros e passarocos.

Omnipresentes são as garças e os gaviões, sobretudo o carcará ou caracara.

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Perto das 8 h, passeio de camioneta até junto a um pequeno rio.

Por volta das 11 horas, pique-nique com um churrasco, sob o olhar atento de um jacaré, que fiscalizou todos os nossos movimentos, aguardando que algo lhe calhasse.

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í€s 15h30, passeio de camioneta de caixa aberta, ao longo da estrada, í  procura de animais. Sempre. Desta vez, tornámos a ver um tamanduá bandeira, mais uma família de macacos, garças muitas, tuituiús, martins-pescador, veados, raposas e alguns araçaris, que são uma espécie de tucanos.

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De Cuiabá ao Pantanal

Visitar Cuiabá, capital do Mato Grosso, cidade com 600 mil habitantes, a mais quente do Brasil. Isto porque fica no vale, bordejado pelos paredões da Chapada.

Parar junto a um desses paredões, chamado Portão do Inferno, para admirar as formações rochosas que fazem lembrar o Bryce Canyon, devido í  sua cor vermelha, embora, aqui, a vegetação seja luxuriante.

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Mais í  frente, um local onde os cuiabanos costumam juntar-se, aos fins de semana, junto í  cachoeira da Salgadeira, mais uma queda de água muito bonita, com a habitual moldura de árvores e plantas e humidade.

A parte velha da cidade tem algum interesse. De resto, Cuiabá não tem nada de especial, a não ser o calor. Vale a pena visitar o Zoo, que só tem animais do Brasil e o mercado, para ver os legumes, os peixes, os temperos e as plantas medicinais.

De Cuiabá ao Pantanal de Poconé são cerca de 2 horas de carro, sendo que a parte final é na estrada Transpantaneira, que é de terra batida, em bom estado, atravessando as terras alagadas do Pantanal.

O Araras Eco Lodge tem tudo o que é preciso. O primeiro passeio, de 4,5 km, ao longo da Transpantaneira e na quinta, o Ronco do Bugio.

Araras, periquitos, soco-boi, garças, pica-paus, gaviões, jacarés, cavalos, capivaras, gansos, porcos, galos e galinhas, além de um gato siamês com os olhos muito azuis deram as boas-vindas.

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Depois do jantar, focagem nocturna de animais. Duas raposas tímidas, alguns jacarés, alguns coelhos fugidios, um pequeno veado, uma coruja e um tamanduá, banqueteando-se com um formigueiro.

Foi cerca de hora e meia de solavancos para tão pouca recompensa. O melhor de tudo foi a visão do céu com milhões de estrelas e com a via láctea bem visível.

Chapada dos Guimarães

Um acidente grave ocorreu na semana passada, junto a uma cascata conhecida como véu da noiva. Um grande bloco de rocha destacou-se lá de cima e atingiu, cá em baixo, seis pessoas que tomavam banho na cachoeira. Uma delas morreu. Em consequência, o Parque Nacional foi fechado.

Em vez do roteiro previsto, visitam-se outros lugares: uma caminhada pelos arredores da Pousada, passando por uma enorme caverna, depois por um percurso ladeado de rochas com formações curiosas (a máquina de costura, o cavalo de Tróia) e, finalmente, até í  cachoeira do Éden, onde também se toma banho.

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Almoço no Morro dos Ventos, um restaurante com uma vista espectacular.

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Comida excelente: dois tipos de peixe: pacu e pintado, acompanhados de arroz com feijão, mandioca, farofa de banana e salada.

A cidade de Chapada dos Guimarães tem cerca de 10 mil habitantes. Tranquila.

Lá perto fica o centro geodésico da América do Sul, embora também haja um em Cuiabá.

A vista é, também deslumbrante, vendo-se todo o vale imenso que se estende depois dos paredões da Chapada.

Apetece ficar aqui.

Os nossos agradecimentos ao guia Hélio, que sabia tudo sobre pássaros, plantas, répteis, peixes, mamíferos, geologia e tudo, para além de nos ter iniciado nas maravilhas do remo e da flutuação.

A caminho da Chapada dos Guimarães

São cerca de 400 km de estrada, entre a Amazónia Matogrossense e a Pousada do Parque, na Chapada dos Guimarães, grande parte dela em estrada de chão, sendo que alguns troços estão bem estragados.

E começou o festival de animais, sobretudo pássaros: quero-quero, urubu, carcará, coruja, seriema, picapau, saracura, etc. E mais lagartos e cobras e vacas, e mais pássaros.

Esta seriema, estava aos guinchos, em cima de uma cerca.

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Perto de Nobres, possibilidade de fazer flutuação. A nascente está mesmo ali, a água é transparente e os peixes dão-nos dentadas nas pernas.

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A viagem continua, sertão dentro; mais pássaros, a ponte de madeira sobre o Rio Cuiabazinho, a represa do Rio Manso. Chega-se, finalmente, í  Chapada dos Guimarães.

Para chegar í  Pousada do Parque, ainda há que percorrer cerca de 4,5 km de estrada de chão, em muito mau estado.

A Pousada é de uma tranquilidade do outro mundo, daquele que é melhor que este.

Amazónia – ao longo do Rio Claro

Trilha de 7 km na floresta, com as habituais curiosidades.

Diversos tipos de formigueiros, as variadíssimas árvores de grande e pequeno porte, pegadas de onça, borboletas várias, pássaros muito bonitos (um pica-pau de cabeça vermelha, muito parecido com o Woody Woodpecker), as palmeiras, a árvore que deita uma seiva que parece e sabe a leite, outra que tem uma resina que, quando queimada, cheira a incenso, e mais e mais…

São 7 km de National Geographic ao vivo.

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Comer pacu grelhado com arroz e feijão, descansar na rede, vendo as enormes morpheus azuis.

Embarcar num barco a motor e subir o Rio Claro, mirando as margens, em busca de pássaros: um martim- pescador e um urubu rei. Mais acima, um local onde, batendo com o remo no fundo do rio, se desprende, debaixo das folhas acumuladas, gás metano, que se pode incendiar com um isqueiro.

Depois, descer o rio de canoa. Tranquilamente, rio abaixo, remando, ao sabor da corrente.

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A caminho da Amazónia Matogrossense

Avião da TAM, de Brasília a Cuiabá, capital de Mato Grosso. São 1200 km. Hora e meia de voo.

Depois, 300 km de estrada, atéí  Pousada Jardim da Amazónia.

São de 4h30 de estrada muito esburacada e com um trânsito louco de camiões e bimeões (camiões com atrelado), carregados com soja, milho, algodão ou cana do açúcar. De um lado e do outro da estrada, a perder de vista, campos imensos, com essas culturas, que substituíram a vegetação do cerrado.

Apesar de longa, a viagem não é monótona, porque os motivos de interesse vão-se sucedendo: uma família de emas, comendo insectos, no meio de um campo de soja, dois urubus a debicar um tatu, morto na estrada, uma fila interminável de camiões, mais uma família de emas, um campo de girassóis…

Finalmente, a vegetação do cerrado começa a dar lugar a uma vegetação mais luxuriante, deixamos o asfalto e percorremos um pouco de estrada de chão, até í  Pousada Jardim da Amazónia, que é uma delícia – pequenos chalés, espalhados por uma clareira, uma nascente água mineral e a densa vegetação amazónica a toda a volta.

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Chapada dos Veadeiros – Rio dos Couros

As quatro cachoeiras dos Couros, são as mais espectaculares da Chapada.

Depois de um troço de estrada alcatroada, hora e meia de estrada de terra batida, ou estrada de chão, como aqui dizem.

Depois, o mais longo e mais aventureiro percurso destes dias. São 5,4 km de grandes emoções. Descidas e subidas í  beira do precipício. Apenas as mãos como apoio. Lá ao fundo, sempre o ruído das águas caindo no vale.

A primeira cachoeira é chamada de muralha.

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Mais í  frente, a segunda cachoeira, conhecida como franja.

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No fim da trilha, mesmo junto a um precipício, vêem-se as outras duas cachoeiras, praticamente inacessíveis.

Atravessando o Rio dos Couros, é possível tomar banho na franja. A força das águas proporciona uma verdadeira hidromassagem natural.

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Os nossos agradecimentos ao guia Paulo Alexandre, que fez com que dois cinquentões se sentissem jovens montanhistas!

Chapada dos Veadeiros – Vale da Lua e Canyon Raizama

Depois de cerca de 20 km de estrada asfaltada, terra batida até perto da Vila de S. Jorge.

A seguir, o percurso até ao Vale da Lua é de cerca de 900 metros.

O Vale da Lua é um conjunto de rochas sedimentares que ladeiam o rio S. Miguel e a paisagem poderia fazer lembrar o solo lunar, não fossem as águas tumultuosas do rio, que vêm por ali abaixo, aos trambolhões, arrastando troncos e árvore e alguns daqueles pedregulhos.

O percurso que leva até ao Vale da Lua também é muito interessante, com uma flora muito diversificada. Parece que estamos noutro ecossistema e, afinal, tudo isto pertence, também, ao cerrado.

Mais í  frente do Vale da Lua, o rio tem um momento de descanso, formando uma pequena lagoa, com águas calmas, onde se pode tomar banho.

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Depois, o canyon Raizama.

Foi um percurso de 3 600 metros, mais uma vez, completamente diferente de todos os outros. Depois de alguns metros a direito, desce-se até atingir um Canyon razoavelmente profundo. Nesse Canyon despenha-se o rio Raizama, com grande fragor, juntando-se, lá em baixo, ao rio S. Miguel. Os dois juntos vêm por aí fora, entroncam no rio Tocantins que, por sua vez, desagua no Amazonas.

Desce-se, mesmo í  beira do precipício. Parte do percurso é feita num espaço bem estreito, entre a rocha escarpada e o precipício.

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Admirar a beleza rude das rochas e das águas revoltas, amenizadas pela vegetação luxuriante.

Almoçar na Vila de S. Jorge, uma pequena aldeola com 600 habitantes e que deve ter mais restaurantes que Almada. Pelos vistos, nos feriados e fins de semana, este lugarejo fica cheio de malta, que vai passar o dia no Vale da Lua ou no Raizama.

Chapada dos Veadeiros – Cristal e Almácegas

Cachoeiras Cristal, com a queda de água do véu da noiva (pelos vistos, há um véu da noiva em tudo o que é queda de água). A água brota do chão e desce, cristalina e transparente.

Para chegar a essa queda de água, é preciso percorrer cerca de 1 200 metros, por vezes a pique, numa trilha escavada na rocha do cerrado. Tão difícil descer como subir. Um calor de ananases. No fim do percurso, sua-se em bica.

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Cachoeiras do córrego Almácegas; ficam numa propriedade privada, a fazenda de S.Bento.

O trajecto para a primeira cachoeira é mais longo e acidentado, terminando de forma abrupta.

Aqui, a cascata já é mais imponente e a água cai com fragor num poço, onde também se pode tomar banho.

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Mais do que as quedas de água, que são bonitas, o que espanta mais é a vegetação luxuriante. Chuveirinhos, iemas e outras plantas, com nomes tipicamente brasucas, tipo turu, piritambo, tiroliro, maracara, pirolito e coisas assim.

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Chapada dos Veadeiros – Portal da Chapada

De Brasília í  Chapada dos Veadeiros são 240 km, cerca de 2h 40 de estrada, quase sempre a direito. A primeira parte do trajecto faz-se numa estrada com duas vias em cada sentido, tipo via rápida, mas com muitas entradas e saídas, o que não permite grandes velocidades. Depois, entramos num longo troço com apenas uma via em cada sentido e um piso muito irregular. Atravessamos campos verdejantes, a perder de vista. Soja, algodão, milho. Estão desmatando a savana do centro-oeste brasileiro…

Depois de quase de 200 km de campos verdejantes, atravessámos uma pequena cidade, chamada S. João d’ Aliança. í€ entrada e í  saída, grandes cartazes com a figura de Cristo, saúda-nos.

Aliás, ao longo da estrada, é frequente encontrar cartazes a dizer “Leia a Bíblia” ou “Jesus te Ama”.

O motorista tem que conhecer esta estrada muito bem, tal é a perícia com que evita os buracos, alguns, verdadeiras crateras (chamam-lhes “panelas”). Aliás, os buracos na estrada notam-se bem, porque a terra, aqui, é bem vermelha, o que contrasta com o negro do alcatrão.

A Pousada Recanto da Grande Paz é um conjunto de pequenas habitações, compostas por um quarto e casa de banho, tudo muito simples e básico. Os chalés mal se vêem pois estão quase submersos pela vegetação luxuriante, uma parte da qual recebeu o nome de Jardim Zen, só algum deus saberá porquê. Na mesa de cabeceira, uma revista chamada Terceiro Milénio, cheia de anúncios de mestres de yoga, meditação, massagens especiais, aromoterapia, colonterapia e todas as terapias alternativas conhecidas e desconhecidas.

Na capa, um Jesus emerge das águas de um lago, lado a lado com um golfinho. Tudo azul.

Para se chegar ao Portal da Chapada, percorre-se uma trilha de madeira com cerca de 4 km.

No final da trilha, a primeira cachoeira da Chapada: a de S. Bento que, quando for grande, gostaria de ser como as de Iguaçu.

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Segundo a definição da Wikipédia, “Chapada é uma formação rochosa, acima de 600 metros, que possui uma porção plana na parte superior.

No Brasil existem chapadas na região Centro-Oeste e no Nordeste. As chapadas do Centro-Oeste, como a dos Veadeiros em Goiás e a dos Guimarães no Mato Grosso, são divisores de águas entre as Bacias Amazónicas, Platina, do rio São Francisco e do Tocantins.”

A Chapada dos Veadeiros tem cerca de 200 cachoeiras registadas.

A cidade de Alto do Paraíso é assim uma espécie de El Calafate dos pobrezinhos. Esta zona do Brasil é mesmo nos confins e ainda está tudo muito primário, virado, sobretudo, para o turismo interno.

A escola está cheia de mulatinhos aos gritos, pendurados das árvores. A Prefeitura parece um edifício do Taveira, quando ele ainda andava na escola primária. As lojas são básicas e para consumo interno. Muitas pousadas, básicas mas honestas, com nomes místicos: Alfa e í“mega, Jardim do Éden, Aquarius, etc.

Nos anos 80 do século passado, os esotéricos invadiram a região. Seria aqui, na Chapada, que se daria o encontro definitivo com seres de outros planetas. E que lindo seria o fim do mundo, visto do alto do morro da baleia!… é que a Chapada fica no mesmo paralelo que Machu Pichu…

Nada disso aconteceu, mas ficaram os místicos…