Para pouco mais de um metro de sessenta, Victor pesava 90 quilos e tentava disfarçar o excesso de peso oxigenando o cabelo e usando uma barba esculpida, que dava um trabalhão ao barbeiro todas as semanas.
O problema é que Victor gostava de comer. Muito. E várias vezes ao dia. Além disso, tinha uma profissão que o obrigava a estar sentado todo o dia, em frente ao computador.
Ao longo dos últimos anos, Victor foi comprando calças cada vez mais largas na cintura e vendendo camisas no OLX porque já não conseguia apertar-lhes os botões ““ mas sentia-se bem e não ligava muito í sua silhueta.
Acontece que certo dia em que o elevador do prédio avariou, Victor teve que subir os oito andares a penates e foi então que a sua silhueta se lhe impí´s. O homem chegou lá em cima quase morto; não seria preciso que lhe tapassem a boca para desfalecer ““ desfaleceu por ele próprio assim que entrou em casa e demorou quase uma hora a recuperar.
Foi então que decidiu que tinha que perder peso.
Consultou o Google e chegou í conclusão que a maneira mais rápida de perder peso era correndo.
Comprou um bom par de ténis, umas camisolas e uns calções, descarregou uma aplicação bem conhecida e começou a correr.
Primeiro, não arriscou mais do que dois quilómetros de cada vez e a um ritmo muito lento; mesmo assim, era um esforço hercúleo. Mas não desistiu.
Desistiu foi da barba desenhada e do cabelo amarelo, para evitar bocas dos outros corredores.
Ao fim de algum tempo, conseguiu começar a aumentar a distância da corrida e, passado um mês, já corria cinco quilómetros.
Todos os dias, logo após o pequeno-almoço, era ver o Victor a correr na avenida, cada vez com maior estilo.
Dois meses depois, Victor tinha perdido dez quilos e dizia a quem o queria ouvir, como é possível que eu tenha andado com um peso de dez quilos em cima de mim sem dar por isso!
Mas a perda de peso estagnou por volta dos quinze quilos a menos.
Com 75 quilos, Victor ainda tinha peso a mais.
Aderiu, então, ao jejum intermitente.
Comprou dois ou três livros sobre a matéria e aguentou o embate de não comer durante horas. Foi difícil, mas um homem habitua-se a tudo!
Mais um mês volvido e Victor estava com 62 quilos.
Em forma, corria cerca de dez quilómetros todos os dias e conseguia aguentar jejuns de doze horas.
A corrida e o jejum tornaram-se uma obsessão e Victor não conseguiu moderar-se.
Cerca de um ano depois da sua decisão de perder peso, Victor estava com menos de 50 quilos e quase que não corria, voava, e quase que não comia, depenicava.
Os outros corredores, que se lembravam do tempo em que ele tinha cabelo amarelo e barba desenhada, por pouco que não o reconheciam agora. Victor passava por eles qual meteoro e eles mal o viam.
Algum tempo depois, deixaram mesmo de o ver.
Victor ficou transparente, leve com uma pluma e, num dia de nortada, elevou-se no ar e nunca mais ninguém o viu.