Há um restaurante muito famoso na Rua da Misericórdia (também conhecida como Rua do Mundo, por razões que a malta de hoje não percebe) – restaurante esse que se chama Tavares, mas que é conhecido como Tavares Rico. O adjectivo “rico” juntou-se ao Tavares por razões óbvias, desde sempre, desde a sua inauguração em 1784. É rico pela decoração, pelos lustres, pelos preços e requinte dos comeres e dos beberes, pelos frequentadores.
Há também um jornalista chamado Tavares, muito famoso na terra dele, que é Portalegre e, por isso mesmo, foi escolhido para organizar as comemorações do 10 de Junho deste ano, pelo Presidente Marcelo.
Assina João Miguel Tavares e eu chamar-lhe-ia Tavares Pobre.
Pobre pelos temas que escolhe para a sua coluna da última página do Público, pobre pela argumentação que usa e que é tristemente fraca, limitada, pobre, numa palavra.
Além desta coluna destacada (acho que é semanal), o Tavares (pobre) faz também parte do Programa Governo Sombra, da TVI e da TSF, onde tem, todas as semanas, a possibilidade de explanar as suas ideias e argumentos. Pobres, quase sempre.
Claro que, por vezes, Tavares acerta. Como é um dos nossos tudistas (especialista em tudo), dá opiniões sobre tudo e mais alguma coisa – o que aumenta as possibilidades de, de vez em quando, dizer coisas acertadas.
Agora, Tavares anda muito preocupado com o facto de, no Governo do Costa, haver muitas relações familiares: há um ministro casado com uma ministra, há um ministro que é pai de uma ministra, parece que também há primos e primas e, talvez amantes.
Na crónica de hoje, Tavares debruça-se sobre o facto de a mulher do novo ministro Pedro Nuno Santos, Catarina Gamboa, ter sido nomeada chefe de gabinete do secretário de Estado adjunto e dos Assuntos Parlamentares.
No fundo, Tavares acha isto um escândalo, propondo que, no futuro, o símbolo do PS passe a ser um punho, uma rosa e “um bonito bouquet matrimonial”.
É uma piada, claro, porque Tavares é muito engraçado, tendo carreira certa na stand up comedy quando deixar de trabalhar nos jornais.
Parece que o ministro Pedro Nuno Santos decidiu explicar-se, quanto ao facto de a mulher ter sido nomeada chefe de gabinete, explicando que a conhece dos tempos da Juventude Socialista e que se apaixonou por ela porque, como é natural, passavam muito tempo juntos.
Tavares percebe isso e acrescenta que isso também acontece com os jornalistas. E escreve: “passei os primeiros oito anos da minha carreira a trabalhar no Diário de Notícias, e se não tivesse já namorada quando para lá entrei seria difícil não acabar enrolado com alguém da redacção”.
Este é um argumento que deve deixar a mulher do Tavares em brasa. Afinal, no fundo – e como Freud explicaria lendo o texto do Tavares – o homem teve ganas de se enrolar com alguém lá da redacção e só não o fez porque já tinha namorada. Pobre Tavares!…
E Tavares acrescenta: “tirando o tempo que estamos a dormir, passamos o dia todo com aquelas pessoas. Qual é o espanto dos jornalistas casarem com jornalistas e os políticos com políticos? Mas sabem o que é que se dizia (e ainda se diz) dos jornalistas? Que não conhecem o mundo para além das redacções. Que perderam a ligação í s pessoas comuns. Que vivem em circuito fechado. Que essa forma de vida é limitada, pobre e pouco saudável.”
Claro que Tavares não corre este risco porque, apesar de passar a vida entre as redacções e os estúdios de televisão, não está casado com uma política.
O que Pedro Nuno Santos devia fazer era obrigar a mulher a ficar em casa a cuidar das coisas domésticas, assim como Vieira da Silva, se fosse um pai como deve ser, obrigaria a filha a cuidar da família, em vez de se meter em políticas.
Tavares ficaria assim mais feliz.
E pobre.