“Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos” – Banda do Casaco

bandadocasaco.jpgFinalmente, um cd da Banda do Casaco! Pelos vistos, os registos originais foram apagados e o cd foi feito a partir do vinil. Será possível que isso tenha acontecido?

Segundo Nuno Rodrigues: “aos desconhecidos e desatentos proprietários desta «Coisa da Cultura» – «Hoje Há Conquilhas, Amanhã Não Sabemos» – editada em 1977 por uma daquelas empresas, e destruída ou mantida em parte incerta durante décadas, informamos que a obra está aqui e agora, recuperada do vinil para cd, com «royalties» reservados e re-edição de Nuno Rodrigues para a CNM – Companhia Nacional de Música”

A Banda do Casaco surgiu na senda da Filarmónica Fraude e muito antes, por exemplo, do Trovante. Constituiu um fenómeno curioso na música de expressão portuguesa, vestindo temas tradicionais com uma roupagem pop-rock; as letras das canções, por seu lado, misturavam um arremedo de mensagem política com alguma iconoclastia (“Beatriz, é por triz que não se diz que és meretriz e merecias, Beatriz” – é um verso que ainda recordo, de uma canção da Banda do Casaco, de outro disco).

O projecto era liderado por Nuno Rodrigues e António Avelar Pinho. Neste disco, a principal voz feminina é de Gabriela Schaff, mas a Banda chegou a utilizar Cândida Branca Flor como vocalista.

Espero que o cd seja um êxito de vendas e que Nuno Rodrigues se disponha a editar os restantes discos da Banda e, já agora, da Filarmónica.

“Love” – Beatles

love.jpgGrande prenda de Natal: um novíssimo disco dos Beatles!

O trabalho de George Martin e do seu filho Giles é espectacular. Pegaram nas centenas de músicas dos Beatles e fizeram uma remistura verdadeiramente extraordinária. A encomenda foi do Cirque du Soleil, para um espectáculo no Mirage, em Las Vegas, que estreou em Junho passado (estive lá em Maio, caraças!). O projecto, claro que era mais antigo e George Harrison ainda o pí´de acompanhar, antes de morrer. Os restantes Beatles vivos, McCartney e Ringo, deram o consentimento e aconselhamento, bem como Yoko Ono.

Salvaguardados os sacrossantos direitos de autor, os Martin, pai e filho, pegaram nas gravações da Apple e construíram um disco dos Beatles completamente novo que, escutado em 5.1, revela coisas que nunca tínhamos ouvido. Há faixas em que escutamos sons que foram gravados para cinco ou seis canções diferentes, tudo muito bem acondicionado, mantendo o estilo dos Beatles. Não existe um único som que não tenha sido produzido pelos quatro de Liverpool.

Por exemplo (e é só um exemplo): depois de “Here comes the sun”, entram sons de “The inner light” e arranca “Come together”, com um som que parece que foi gravado a semana passada. A canção vai-se desenrolando normalmente, até que começa a ficar contaminada por sons de “Dear Prudence”, com um toque de “Cry Baby cry”, criando o ambiente para “Revolution”. E assim sucessivamente: são 26 temas non-stop, com contaminações de muitas outras canções.

Obrigado, George Martin!

Gotan Project – “La Revancha del Tango”

gotan.jpgFoi graças ao “Nip/Tuck” que me decidi a comprar este cd, de que já tinha ouvido falar até í  náusea.

E não o comprei antes, exactamente devido í  enorme publicidade que rodeou a edição do disco, há cinco anos. Reajo assim, muitas vezes: quanto mais falam nas coisas, menos vontade tenho de as conhecer melhor.

Confesso, no entanto, que me despertou algum interesse, esta mistura de tango com música electrónica.

Depois, esqueci-me.

Só que a 3ª série do “Nip/Tuck” usa, em alguns episódios, “La Revancha del Tango” como música de fundo e o interesse renasceu.

É um disco curioso, que se escuta com agrado mas, penso eu, esgota a fórmula rapidamente. Embora seja um disco agradável não merece todos aqueles adjectivos que encheram a boca dos críticos.

Sei que o trio de argentinos-parisienses lançou, entretanto, mais discos, explorando o filão. Estão no seu direito, mas penso que deverá ser mais do mesmo.

“Let me introduce my friends” – I’m from Barcelona

frombarcelona.jpg“I’m from Barcelona”, dizia Manoel, o delicioso criado de Fawlty Towers que, com John Cleese, criou uma das melhores parelhas cómicas dos últimos anos.

Foi este o nome escolhido por um grupo de putos noruegueses para uma banda improvável, que interpreta, em inglês, canções pop simples e sem pretensões, alegres e divertidas, na linha de muitas bandas inglesas dos anos 60, como os Kinks, por exemplo.

O renascimento deste tipo de bandas, está na moda (veja-se o exemplo dos Kaiserchiefs e dos Franz Ferdinand).

Ao todo, são mais de vinte, mas um tipo chamado Emanuel Lundgren é que parece ser a alma da coisa. Segundo dizem, usaram “algumas guitarras, um piano, várias precursões, um banjo, uma harmónica, uma melódica, um baixo, um saxofone, um clarinete, uma flauta, alguns sintetizadores, um glockenspiel, um trompete, um velho órgão (ligeiramente desafinado, mas arranjámo-lo í  borla), um ukelele vermelho, maracas, os nossos pés, mãos e vozes”. Tanta ingenuidade, confunde-nos com a parede, como diria Boris Vian.

É verdade que não trazem nada de novo e que, se não existissem, ninguém dava pela falta deles. Mas a vida não é feita só de coisas essenciais. Além disso, são divertidos, a música entra a 100 e sai a 200, sem aleijar e, bem no espírito dos anos 60, mais vale isto que bombardearem o Líbano (esta é um bocado forçada…)

Small Faces – “The Essential Collection”

smallfaces.jpgQuem se lembra dos Small Faces, uma banda de segunda linha da cena pop britânica da segunda metade dos anos sessenta?

Os Small Faces duraram um curto período (1965-1968), mas deixaram algumas marcas: canções como “Itchycoo Park” e “Lazy Sunday” e, sobretudo, o álbum conceptual “Ogden’ Nut Gone Flake”, uma espécie de Sgt Pepper’s dos pequeninos, e que teve a novidade de o LP ser distribuído dentro de uma lata redonda.

Do quarteto, destacava-se Steve Marriott (guitarra), cuja voz era inconfundível. Os outros três eram: Ronnie Lane (baixo e voz), Kenney Jones (bateria) e Jimmy Winston (órgão; depois substituído por Ian McLagan.

O som dos Small Faces era marcado pela voz “negra” de Marriott, pela preferência pelo rythm & blues, pelas letras jocosas e pelo psicadelismo, tão em voga na época. A banda inseria-se no movimento “mod” (cujo expoente máximo eram The Who), que se opunham aos rockers de blusão de cabedal. Digamos que eram, portanto, uma espécie de betinhos da cena pop britânica…

Pelos vistos, os Small Faces foram das muitas bandas britânicas que foram completamente lixadas pelas companhias discográficas, vendo os seus discos venderem í  fartazana, apesar de continuarem a receber apenas uma espécie de avença semanal (cerca de 20 libras).

Marriott foi o primeiro a fartar-se do sistema e, em 1968, abandonou a banda, formando os Humble Pie, com Peter Frampton. Os restantes membros dos Small Faces, recrutaram Ron Wood (hoje nos Rolling Stones) e o piroso Rod Stewart, passando a chamar-se apenas The Faces.

Este duplo CD, que saíu recentemente, reúne os principais êxitos dos Small Faces, retirados dos seus cinco LP: “The Small Faces” (1966), “From the Beginning” (1967), “Small Faces” (1967), “Ogden’s…” (1968) e “There Are But Four Small Faces” (1968).

Cinco discos em três anos. Those were the days…

The Raconteurs – “Broken Boy Soldier”

raconteurs.jpgFoi o Pedro que chamou a atenção para esta nova banda norte-americana e, como ele escreveu, no Macacos, que algumas das suas canções soavam aos Beatles, comprei o disco. Um pouco de nostalgia sabe sempre bem.

E foi uma excelente surpresa.

A banda é formada por Jack White (voz, guitarra e sintetizadores), dos White Stripes, Jack Lawrence (baixo), Patrick Keeler (percussão) e Brendan Benson (guitarra e voz).

É verdade que alguns temas soam a coisas que os Beatles fizeram, mas não só. Todo o disco é um revivalismo do rock dos anos 60 e da primeira metade dos anos 70.

O primeiro tema, “Steady, as she goes”, podia muito bem ter sido composto por Lennon e McCartney; “Intimate secretary” soa a algumas das coisas que George Harrison fez, no período em que andou metido na meditação transcendental e no LSD; “Call it a day” tem harmonias vocais que fazem lembrar “Rubber Soul”.

Mas há outras “influências”: “Hands”, soa a Marc Bolan e T. Rex; “Broken Boy Soldier”, podia ser dos Stones; os Bee Gees dos primeiros tempos, não desdenhariam “Together”; qualquer banda de segundo plano dos anos 60 (tipo Small Faces, Lovin’ Spoonfull ou Hollies) poderia ter composto “Yellow Sun”; “Store bought bones” tem um início de teclas que faz lembrar os Nice e os Emerson, Lake and Palmer. Finalmente, “Blue Veins” é um blues que parece ser tirado de “Then Play On”, dos Fleetwood Mac, no tempo em que o Peter Green ainda pontificava.

Dito desta maneira, até parece que The Raconteurs se limitaram a fazer um disco a imitar todas estas bandas dos anos 60 e 70.

Não é verdade. Quase toda a música popular soa a qualquer coisa que já foi feita antes. E se estes quatro putos, muito provavelmente, cresceram a ouvir rock dos anos 60, por que não fazer um disco assim?

Fizeram muito bem e eu gosto!

Divine Comedy – “Victory for the Comic Muse”

divinecomedy.jpgTenho tido uma posição ambivalente em relação a esta banda britânica, liderada por Neil Hannon: por um lado, acho graça ao seu estilo grandiloquente e ao estilo de composição, a tentar imitar Scott Walker, por vezes (poucas) Brel; por outro lado, acho o resultado um pouco pretensioso e pouco excitante.

O estilo grandiloquente está bem patente no título deste (e de outros) álbuns da banda.

Este último disco, agora saído, é um bom exemplo: tem algumas canções bem esgalhadas, as orquestrações são grandiosas, a voz de Hannon encaixa bem, mas o disco passa todo sem causar qualquer tipo de excitação. Quer dizer: um tipo pode, por exemplo, estar a ler um livro, enquanto ouve este disco, e não se distrai do que está a ler…

Chico Buarque – “Carioca”

chico_carioca.jpgOito anos depois do seu último disco, Chico Buarque resolveu dar um arzinho da sua graça, lançando este “Carioca”.

E é mesmo só um “arzinho” porque o disco é uma sombra dos bons velhos tempos do Chico – e isto não é saudosismo, é mesmo assim.

É verdade que a voz está lá, praticamente com o mesmo timbre, apesar dos 62 anos. É verdade que os arranjos são bons, embora haja para lá uma slide guitar que não fazia falta nenhuma. É também verdade que as letras continuam com a marca de qualidade habitual, com os jogos de palavras, com o gosto especial pela língua portuguesa.

Apesar disso, o disco não tem nenhuma grande canção, não tem nenhum daqueles temas que deixam uma marca.

Como costumo dizer: o que foi, não volta a ser…

Elvis Costello – “This Year’s Model”

costello.jpgSegundo álbum de Costello, editado em 1978; o primeiro com os Attractions (Steve Nieve, nas teclas, Bruce Thomas, no baixo e Pete Thomas, na percussão). Está remasterizado e tem um segundo cd com algumas faixas extras curiosas.

Inicialmente conotado com o punk, Costello já fez de tudo, incluindo discos gravados na Deustch Gramophone e um álbum com canções do Burt Bacharach.

Quase 30 anos depois deste “This year’s model”, algumas faixas já soam a mofo, mas ainda há muito material de primeira, como “No Action”, “Lipstick vogue” e “Radio, Radio”, por exemplo.

Naqueles tempos, este Elvis era um acelerado e despachava as canções em 2 minutos e picos, í s vezes, menos, escondendo as melodias assobiáveis em voltas e reviravoltas.

Apenas como registo, o Sr. Costello é um rapaz da minha idade (um ano mais novo) e nasceu com o nome de Declan Patrick McManus, a 25 de Agosto de 1954, em Inglaterra.

Chicago 18

Chicago 18

Chicago Transity Authority iniciaram-se em 1969, com um duplo álbum que fez furor, por várias razões: não era habitual, naqueles tempos, uma banda iniciar-se logo com um duplo-álbum, assim como não era habitual, as bandas terem seis ou sete elementos, juntarem sopros í s guitarras e darem um tom “jazístico” ao rock (outro exemplo foram os Blood, Sweat & Tears).

Também neste caso, a culpa foi dos Beatles.

Segundo reza a história, Walter Parazaider (nasceu em 1945), Lee Loughnane (1946) e James Pankow (1947), todos estudantes de música, encontravam-se com músicos autodidactas, como o guitarrista Terry Kath (1946-1978) e o baterista Danny Seraphine (1948) nos bares de Chicago e tocavam de tudo, desde R&B até música irlandesa. Até que os Beatles lançaram o álbum Revolver e, no tema “Got to get you into my life”, utilizaram uma secção de metais. A partir daí, aquele grupo de músicos de Chicago, arranjou mais dois elementos (um deles, o piroso Peter Cetera) e formaram os Chicago Transity Authority, com uma forte secção de metais a apoiar as guitarras e com a particularidade de terem três vocalistas.

Ora, com a tesão própria dos vinte anos, os seus três primeiros discos foram todos duplos. E esgotaram-se. A partir daí, Cetera tomou conta da ocorrência e passou a ser o líder da banda, para além de se tornar o principal vocalista e compositor. Uma desgraça. Depois de Chicago III, todos os restantes álbuns da banda têm sido dominados por vozinhas em falsete, arranjos para elevador de hotel de luxo, melodias melosas e bocejantes. E, no entanto, dizem as estatísticas que, depois dos Beach Boys, os Chicago são a banda norte-americana com mais discos vendidos.

chicago18.jpgA única curiosidade deste Chicago 18 (editado em 1986) reside no facto da banda ter pegado numa poderosa canção rock, “25 or 6 to 4” e fazer dela uma merda absoluta. É que um tipo não se admirava se fosse qualquer outro grupo piroso a fazer uma versão pateta da canção… agora, ser a banda a estragar o que ela própria fez, 15 anos antes, não tem desculpa.

Aliás, todo o disco é inaudível. Como diria o Paulo Fernando: “este disco é intocável – mas, felizmente, não é inquebrável!”