Compro e leio o Público, diariamente. No entanto, aos fins-de-semana, como tenho mais tempo livre, compro também o DN (í s sextas, sábados e domingos).
Apesar de todas as mudanças gráficas, há coisas que não mudam no DN, e ainda bem.
Gosto muito, sobretudo, das chamadas “pequenas locais”. São pequenas notícias dos correspondentes do DN espalhados pelo país e são sempre deliciosas. As de hoje, por exemplo. Começo pelos títulos: “Apanhou mulheres que roubavam loja”, “Entrou na cadeia com droga nas cuecas”; “Portugueses não temem ratos espanhóis”.
Vamos aos pormenores.
A notícia das mulheres que roubavam loja vem de Aveiro: segundo Júlio Almeida, correspondente do DN, duas mulheres estavam a roubar numa loja, mas a dona da loja foi atrás delas, apanhou-as e só as largou quando chegou a polícia. Refere a notícia: “as suspeitas, de 35 anos, estavam na posse de quatro cortinados, oito camisolas, um par de calças e um colar de bijutaria”.
Isto sim, é jornalismo. Vejam o rigor desta notícia! O jornalista não se limita a dizer, por exemplo, que as ladras tinham, em seu poder, “diversos produtos roubados” – vai ao pormenor de os discriminar, elaborando uma lista detalhada. Vinte valores!
Quanto í jovem, de 25 anos, que entrou na cadeia com droga nas cuecas, a coisa é mais complexa. A notícia vem do correspondente do DN em Vila Real, José António Cardoso. A jovem foi interceptada pelos guardas prisionais, í entrada da prisão, onde ia visitar um familiar. Diz a notícia: “os guardas prisionais detectaram na roupa interior, concretamente nas cuecas, droga dissimulada. Foram apreendidas 1,92 gramas de haxixe e 0,47 gramas de cocaína”. Que precisão! Que detalhe!
Reparem neste pormenor: os guardas prisionais detectaram droga na roupa interior da jovem. Para qualquer jornalista de meia tigela, isto seria suficiente. Mas não para o correspondente em Vila Real. É que foi “concretamente nas cuecas”!
E não foram “cerca de 2 gramas de haxixe e meio grama de cocaína”, não senhor! Foram, exactamente, 1,92 gramas de haxixe e 0,47 gramas de cocaína – nem mais, nem menos um grama, carago! Cinco estrelas!
Finalmente, quanto í notícia dos ratos, vem da correspondente em Bragança, Sandra Bento. Pelos vistos, existe uma praga de ratos dos campos, lá em Espanha, praga essa que poderia estar a aproximar-se do “Nordeste Transmontano” (assim mesmo, com letra grande, como vem na notícia). Claro que, se os ratos entrassem em Portugal, seria um desastre para os agricultores, mas, segundo o “director geral da Agricultura do Norte” (assim mesmo: director geral com letra pequenina e Agricultura do Norte com letra grandalhona!), a praga de ratos «não tem implicações para a agricultura portuguesa» (esta, com letra pequena).
Mais í frente, diz a jornalista: “os agricultores portugueses raianos ainda não vislumbraram qualquer roedor nas propriedades”. Que frase linda! Os agricultores ainda não vislumbraram nenhum roedor é muito mais bonito do que, por exemplo: os agricultores ainda não viram nenhum rato. É ou não é?
O DN tem mais notícias deste género, como por exemplo, logo na primeira página, uma com o título: “Jardim Gonçalves vence guerra no BCP” e que está ilustrada pela foto de dois gerontes sorridentes, o tal Jardim, com uma gravata azul-bebé e um tal Pinhal, com uma gravata rosa-bebé.
Mas a notícia não tem graça.
Prefiro a da jovem com droga dissimulada na roupa interior, concretamente nas cuecas.
Impecável! Mas olhe que grama é um substantivo masculino!! Foge-nos sempre a boca, neste caso, a mão, para o feminino!! ;-)
Tem toda a razão: já está corrigido!
tem graça e não ofende
só agora tomei conhecimento do comentario
Afinal alguem lê o que escrevo.
JAC