A comunicação social anuncia que hoje atingimos os 17 500 dias em democracia ““ exactamente o mesmo número de dias que passámos em ditadura.
No que me diz respeito, há muito tempo que os dias em democracia ultrapassaram os dias em ditadura. Com efeito, vivi menos de 8 mil dias em ditadura, mas chegou-me porra!
Os jornais sublinham as diferenças entre o país do tempo da outra senhora, e o país que cresceu após o 25 de abril.
Chamam a atenção, sobretudo, para os números da mortalidade infantil e para os quilómetros de auto-estrada.
A mortalidade infantil era, em 1973, de 44,8 crianças por cada mil nascimentos, enquanto em 2020, foi de 2,4. Estes números merecem ser esmiuçados para serem mais bem compreendidos. Estes números querem dizer que, antes do 25 de abril, morriam cerca de 44 crianças por cada mil que nasciam e que, hoje em dia, morrem “…apenas”, menos de três!
Quanto í s autoestradas, em 1973, o número de quilómetros era de 66 km, enquanto, em 2020, ultrapassava os 3 mil quilómetros.
A comunicação social destaca, ainda, as alterações nas relações familiares, realçando o facto de, em 1973, um homem que matasse a sua esposa, apanhando-a em pleno adultério, era apenas desterrado para fora da comarca por seis meses, enquanto hoje, pode levar com 25 anos de cadeia. Por outro lado, o adultério praticado pela mulher podia significar oito anos de cadeia, enquanto hoje, deixou de ser crime, evidentemente.
Mas eu destacaria ainda outra coisa: o fim da guerra colonial.
Eu estava na calha para bater com os costados em ífrica e só não fui porque fui conseguindo passar de ano e assim prosseguir o meu curso de Medicina e, quando o terminei, em 1977, já a guerra tinha acabado.
Mesmo assim, não se safei de fazer uma tropa fandanga, com seis semanas de recruta patética nas Caldas, e mais quase ano e meio como médico no Hospital Militar de Évora.
Portanto, viva o 25 de abril carago!