Depois de ter lido os outros romances de Cunningham (“Uma Casa no fim do mundo”, 1990; “Sangue do meu sangue”, 1995; e “As Horas”, 1998), confesso que esperava mais deste “Dias Exemplares” (“Specimens Days”, 2005).
O livro está dividido em três partes: “Dentro da máquina”, passado nos finais do século XIX ou princípio do século XX, em plena Era Industrial; “A Cruzada das crianças”, que decorre na actualidade; e “Uma Espécie de beleza”, que se passa num futuro distante, após um qualquer holocausto.
Em comum, estas três histórias têm alguns pontos: todas têm Nova Iorque como cenário, os protagonistas são sempre um homem, uma mulher e um rapaz (embora não o mesmo homem, a mesma mulher e o mesmo rapaz), e os versos de Walt Whitman surgem nos três segmentos, com valor profético.
Qualquer destas três histórias poderia ter dado um bom romance independente. O autor também poderia ter optado por escrever três excelentes “short stories”. No entanto, optou por deixar cada um dos segmentos como que inacabado. Aliás, sobretudo no final da segunda e da terceira partes, fica-se com vontade de continuar a ler, fica-se com vontade de que a história continue.
“Dentro da máquina” foi o segmento que me despertou menos interesse. “A Cruzada das crianças” é uma história muito perturbadora e algo mística. Finalmente, “Uma Espécie de beleza” é um excelente conto de ficção científica, que me fez lembrar algumas coisas que li há muitos anos, na velhinha colecção Argonauta (Ray Bradbury, Philip K. Dick, por exemplo – se calhar, a comparação é blasfema…).
Cunningham tem uma escrita muito particular, poética e macia. Parece-me que escreve com ternura. Um exemplo: “Era pequena e bonita, infantil, embora tivesse pelo menos a idade de Catherine. Usava um roupão cor de tangerina. Tinha o aspecto de qualquer coisa que podia ser ganha numa rifa de feira.” Outro exemplo: “A cabeça redonda era demasiado grande para o seu corpo franzino. Assentava sobre os ombros da jaqueta como uma abóbora. Como um desenho da Lua num livro infantil.”
No entanto, repito, esperava mais deste novo livro de Cunningham.
Eu não li nem vi e nem comentei este texto. Nem vou dizer que costumava sentir-me deprimida quando entrava numa livraria e pensava nos livros que nunca ia ler. Com a idade passou-me. Ultimamente ando com os mesmos sintomas…
Pois… eu também já passei por fases dessas. Agora, contento-me com a ideia de que, já que não posso ler tudo, posso ler alguma coisa e adoptei a técnica de ler 2 livros: um, mais “sério”, í cabeceira, antes de adormecer (quando adormeço…) e outro, mais ligeiro, junto ao sofá, para ler aos soluços. Está a resultar.
Desde que comecei a trabalhar numa zona de Lisboa inestacionável que me desloco de Metro e consigo ler aprox.80 minutos por dia, nas viagens. É o tempo que me resta para ler uma vez que no sofá me sento pouco e í cabeceira não dá porque durmo num instantinho antes de me levantar novamente. :)