A piada da foto legendada é para velhos.
Velhos como eu, velhos como o Alegre.
Poucos se recordarão de um programa de rádio, chamado Companheiros da Alegria, da autoria de outro grande socialista, Igrejas Caeiro.
Muitos anos depois, outro socialista, Júlio Isidro, inventou um programa de televisão, chamado O Passeio dos Alegres – o que mostra a tendência dos socialistas portugueses para a alegria, que é de esquerda… enquanto a tristeza é de direita, como toda a gente sabe (isto é tema de futuras discussões..)
E, assim de repente, também poucos se lembrarão que, durante o salazarismo, Alegre era uma das principais vozes da rádio da Oposição, que emitia programas subversivos, a partir de Argel.
O que é que o Manuel Alegre quer, afinal?
Diz que não se revê no actual PS? Em qual PS é que ele se revê? No PS que defendia o marxismo? No PS social-democrata? No PS que já não sabe o que quer dizer “socialismo”?
Alegre quer um PS mais í esquerda. E o que é ser de esquerda, hoje em dia? Será assegurar grandes reformas aos políticos, incluindo ele próprio?
Alegre defende o Serviço Nacional de Saúde com unhas e dentes. É uma conquista de Abril! Ainda por cima, inventado por uma socialista, António Arnaut.
Mas será que Alegre sabe o que é o SNS? Será o Serviço com um SAP em cada esquina, onde os utentes vão buscar receitas, pedir credenciais, mostrar unhas encravadas e morrer com enfartes? Será que Alegre pensa que os recursos são inesgotáveis e que Portugal se pode dar ao luxo de ter “a paz, o pão, saúde, educação”, tudo í borla?
O que é que ele propõe, em alternativa í s políticas de direita do Sócrates?
É contra a avaliação dos professores? O que propõe Alegre, como alternativa?
É contra a co-inceneração? O que propõe Alegre, como alternativa?
Está bem: foi a votos, para a presidência e obteve um milhão de votos. Ficou muito convencido. A malta não se importava de ter um poeta como Presidente – agora, um primeiro-ministro a fazer versos?…
Alegre está velho e devia retirar-se de cena. Ou então, deixar-se de nostalgias. O PS que ele ajudou a fundar, está morto e enterrado, há muito tempo e o Partido Socialista só continua a chamar-se socialista por uma questão de acomodação. Passa-se o mesmo com o Partido Comunista, que ninguém sabe por que carga de água se continua a chamar comunista. Quanto ao PSD e ao CDS, nem vale a pena falar porque ninguém sabe, hoje em dia, o que é ser social-democrata e, muito menos, do centro democrático e social.
O único partido cujo nome continua correcto é o Partido os Verdes.
Estão verdes? – não prestam!
E a confusão, na cabeça de Alegre, vem mesmo daí. Ele também já percebeu que os partidos, tal como estão organizados, já não têm nada a ver com o que era há 20, 30 anos. E, por isso mesmo, vai dizendo que não quer formar um novo partido. Aliás, se ele se recordar do PRD do Eanes, que surgiu como alternativa ao PS e, hoje, alberga um grupelho de extrema-direita, pensa duas vezes, antes de fundar um novo partido. E então, como sabe que um novo partido não resolverá nada, inventa esta coisa dos movimentos de cidadãos, que também ninguém sabe o que são.
A malta nem í s reuniões de condóminos vai!
Alegre: das duas, uma: ou tens uma ideia nova – ou cala-te, pá!