Como médico, a série Emergency Room tem, para mim, um interesse acrescido; filmada ao ritmo de uma série de acção, isso não influencia a qualidade técnica das situações clínicas retratadas.
Para além de seguir os acontecimentos que vão marcando a vida pessoal de cada um dos principais personagens, vamo-nos entretendo a fazer diagnósticos.
Além disso, as situações apresentadas, mesmo as mais estranhas, são altamente credíveis, sobretudo porque passadas numa cidade violenta, como Chicago. Num dos episódios, por exemplo, dá entrada nas Urgências, um homem com uma faca espetada na cabeça. Também nós presenciámos um caso semelhante, há cerca de 30 anos, quando ainda fazíamos estágio, no Hospital de S. José: um homem com uma faca espetada numa órbita, mesmo ao lado do globo ocular.
ER documenta inúmeros casos clínicos curiosos, como o da criança negra, vítima de intoxicação com chumbo, porque se entretinha a arrancar lascas de tinta das paredes e a comê-las, sabendo-se que as casas antigas eram pintadas com tinta altamente rica em chumbo.
Muitas vezes, os casos clínicos levantam questões éticas, como o caso da criança com esclerose lateral amiotrófica, em estádio terminal. Doug Ross (George Clooney), acaba por ajudar a mãe da criança a administrar-lhe uma dose potencialmente fatal de analgésico, o que trás para a discussão a eutanásia. Aliás, este episódio serve de pretexto para Clooney abandonar a série, desaparecendo a personagem do pediatra que estava sempre a infringir as regras.
De sublinhar, também, a polivalência destes médicos de urgência, capazes de fazerem um parto, abrirem um tórax, colocarem um pace-maker, fazerem uma amputação, tudo sem hesitações. Claro que estamos perante uma série televisiva e as coisas nem sempre se passarão assim. No entanto, este facto faz pensar nas vantagens de ter médicos especialistas em emergências, coisa que não acontece em Portugal.
Médicos especialistas nas urgências tem, para mim, toda a logica. A eficacia de intervenção em casos de complexidade acrescida aumenta enormemente.
O tempo que vai desde o diagnostico do médico generalista até a intervenção de um especialista pode, muitas vezes, determinar a sobrevivência ou a qualidade de vida do doente a posteriori. Corrija-me se esta visão for errada.
Claro que os orçamentos dos hospitais portugueses não permitem estas permanências e grande maioria dos nossos clinicos estão muito ocupados a dar consultas nos consultorios privados.
E como o Artur diz e muito bem, exige-se aos nossos futuros médicos, médias de entrada nos cursos na ordem dos 18.5 valores! Mais, nega-se-lhes a entrada por meras décimas de diferença. Como queremos que estes tipos brilhantes estejam, depois, virados para se sujeitaram a sessões de choradeira, sovaco mal lavado e alcoolémia cronica que se apresentam todos os dias nas nossas urgências??
Tens que ver o House, casos extremamente raros são o prato do dia, casos esses resolvidos pelo médico mais brilhante da TV