Ensaio sobre a cegueira

Factos: seis doentes padecendo de degenerescência macular, foram submetidos a um tratamento específico no Hospital de Santa Maria, tratamento esse que consiste na injecção de um medicamento no olho.

A coisa correu mal e os doentes ficaram cegos.

O Hospital não sabe explicar o que aconteceu, uma vez que este medicamento já foi usado muitas vezes e sempre com bom resultado e todas as normas foram cumpridas. Por isso mesmo, abriu um inquérito e promete dar respostas dentro de duas semanas.

Esta seria a notícia – se é que este acontecimento merece ser notícia.

Mas a comunicação social encontrou, neste infeliz episódio, assunto para reportagens exaustivas, com declarações de peritos, opiniões de familiares indignados, afirmações de médicos, farmacêuticos, químicos, droguistas e fiéis de armazém.

Como os incêndios andam por baixo e a gripá não passa dos habituais 10 casos por dia, todos importados (não há meio de fechar um empresa com metade do pessoal doente, caramba!) – os jornalistas viraram-se para o drama destas 6 pessoas que, infelizmente, sofrem de uma doença que leva í  cegueira e que, na esperança de melhorarem, ficaram cegas mais cedo do que esperavam.

Só falta entrevistarem Saramago.

A cegueira como parábola, é com ele…

4 thoughts on “Ensaio sobre a cegueira

  1. Estou a ler um livro de 1951, chamado “Day of the Triffids” de John Wyndham. O livro torna-se algo bizarro lá para o último terço, com plantas gigantes assassinas, é certo, mas o tema central é uma misteriosa queda de meterioritos que torna todas as pessoas cegas, excepto um tipo que estava no hospital, de olhos cobertos, na noite do acontecimento.

    Não será uma parábola, porque é mais pulp fiction que outra coisa, mas o Saramago que vá apanhar no… cego.

    1. Não acredito que o Saramago tenha lido esse livro, mas a história da cegueira como parábola é tão antiga como o mundo – basta recordar a alegoria da caverna, do Platão que, no fundo, vai dar ao mesmo.

      1. Pois, não quis sugerir que ele tivesse gamado a ideia, mas apenas que a ideia não é dele e provavelmente de ninguém muito recente.

        De qualquer maneira, detesto o Saramago, pronto.

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