Estrabismo de esquerda

Manuel Alegre, como poeta, é um mau político.

Os jornalistas adjectivam-no como “histórico deputado socialista”, mas devem usar o adjectivo “histórico”, no sentido de “dinossáurio”.

Alegre defendeu a convergência das esquerdas, que é como diz, o estrabismo de esquerda.

Todos os esquerdistas a olhar para si próprios – um olho na merda, outro no infinito.

Marcelo Rebelo de Sousa, na sua homilia, esfregou logo as mãos de contente, dizendo que com um novo partido, liderado pelo Alegre, talvez o PSD, mesmo esfrangalhado, conseguisse mais votos que o PS.

Tinha a sua graça: o PS e o PSD empatarem nas eleições e ficarmos sem governo por causa de um novo partido de esquerda, lançado por um poeta serí´dio. Como se a esquerda precisasse de mais partidos. Como se a esquerda não estivesse já suficientemente fragmentada e enfraquecida.

De cachecol branco em redor do pescoço e casaco de pele de antílope, quiçá caçado por ele próprio, Alegre disse outras coisas lindas, como esta: “esta é a nova coragem que é preciso ter”!

E mais esta: “Dante reservou os lugares mais quentes do Inferno para aqueles que em tempo de crise moral se mantivessem neutros”.

E ainda esta: “Ninguém é proprietário da esquerda, ninguém tem o monopólio da verdade, ninguém é dono do futuro.”

A mim ninguém me cala!

Manuel Alegre, como político, é um mau poeta…

2 thoughts on “Estrabismo de esquerda

  1. Entendamo-nos.
    O PS tem um programa quando está na oposição, em campanha eleitoral, e outro, muito diferente, quando governa.
    No poder costuma promover politicas que nem a direita se atreve a implementar.
    Não quer isto dizer que algumas não sejam necessárias. Outras, porém, dispensamo-las bem!
    Aqui chegados, parece-me necessário que alguém, de dentro do partido, venha recordar que o PS se reclama um partido da ESQUERDA, como aliás o primeiro- ministro refere frequentemente.
    Manuel Alegre poderá, talvez, não ser a pessoa indicada, mas porra, alguém tem que se indignar, de questionar se não há mais nenhum caminho senão este.
    É que se este é o único caminho que o PS tem para oferecer (vidé agora a situação do montão de dinheiro que apareceu de repente para subsidiar os capitalistas mais audaciosos ou vigaristas, e que afinal pensávamos que não existia, pois a ladaínha dos sacrificios aos portugueses arrasta-se há anos), então, se calhar, faz mesmo falta alguma alternativa para quem não se conforma com estas politicas.
    E já agora mais uma coisa, acerca do comentário do António Cunha, as coisas não são assim tão simplistas. O Louçã tem muitas vezes razão, o Alegre também, em muitas criticas, bem como o Sócrates, em politicas que implementou.
    Isto não é feito de anjos/diabos.

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