Foi há 50 anos que o Expresso saiu pela primeira vez.
Não há dúvida que, na altura, foi aquilo a que se chama uma pedrada no charco. Era um jornal diferente de todos os que existiam, moderno e arrojado. Lembro-me de ler, com entusiasmo, as colunas de Miller Guerra e de Sá Carneiro, tentando perceber, nas entrelinhas o que eles, de facto, insinuavam.
O República já fazia parte do meu dia-a-dia, e o Expresso veio juntar-se-lhe. Com o prec, o República finou-se. O Expresso, pelo contrário, foi-se fortalecendo e continuei a comprá-lo todas as semanas. Era leitura para o todo o fim de semana.
Nos últimos anos, no entanto, o Expresso já não é o que foi. É um jornal cada vez mais encostado, com um director que não esconde a sua simpatia pelos liberais, e com canais directos para o Palácio de Belém. Continuo a comprá-lo, mais por hábito do que por prazer. Folheio rapidamente o corpo do jornal, raramente me detendo num artigo. Começo a ler o editorial do director, irrito-me e desisto. Começo a ler a opinião do Miguel Sousa Tavares e acho que já li aquilo há uns tempos. A opinião dos colunistas habituais também não traz nada de novo. Em resumo, o corpo do jornal vai para a reciclagem em três tempos. Fica a Revista que ainda consegue despertar-me algum interesse. Não falho as Palavras Cruzadas!
De qualquer modo, parabéns ao Expresso.
Assim mesmo mais ou menos sucedeu-me o mesmo. E o Expresso seguiu-me sempre para onde eu seguia até que um dia senti vergonha de estar a ler um jornal que me envergonhava, eu que da Esquerda tenho uma ideia gloriosa a que o Expresso respondia bem e até ganhei vários livros por concorrer í s palavras cruzadas, tão dedicado eu era. Recordo também que da primeira vez que estava anunciada a sua saída o pessoal andava ali pelo Rossio e não saiu nada, que frustração, mas apareceu na semana seguinte o que veio animar a malta, mal sabia eu o que aquilo era, mas foram muitos anos de alegre convivência na melhor das boas fés.