A típica localidade de Oliveira de Padres comemorava o centenário da sua elevação a vila. Largo engalando com bandeirinhas e balões, a banda da colectividade, muita gente, aos magotes, o costume…
O presidente da Câmara subiu ao estrado e preparou-se para o discurso de abertura. As pessoas fizeram silêncio. A banda tocou os primeiros acordes do hino nacional ““ mas só os primeiros acordes porque o programa das festividades já estava atrasadíssimo.
E o presidente começou:
“…Outrora, a nossa vila…”
Lá do meio da malta, o Zé Gonçalves perguntou: “…O que quer dizer outrora?”
“…Antigamente…” ““ respondeu o presidente, e prosseguiu: “…Outrora, a nossa vila não passava de uma pequena e singela aldeia…”
O Mário Cunha, encostado a um candeeiro público, perguntou: “…O que é isso de singela, ó sr. Presidente?”
Já contrariado, o presidente explicou: “…singela quer dizer simples, bolas! Sempre a interromperam! Dizia eu que foi graças ao esforço tenaz dos seus habitantes…”
O Zé Gonçalves voltou í carga: “…Tenaz?! Que quer isso dizer?!”
Tentando manter a calma, o presidente respondeu: “…Tenaz quer dizer persistente, continuado, sem parar…”
“…í€ fossanga, não é?” ““ exclamou o Mário Cunha.
“…Pronto, está bem, í fossanga!” ““ condescendeu o presidente, e tentou prosseguir: “…No entanto, esse trabalho tenaz, isto é, í fossanga, dos nossos habitantes, os nossos vindouros…”
“…Vim quê?!” ““ grunhiu o Zé Gonçalves.
Descontrolado, o presidente da Câmara atirou com os papéis do discurso ao ar e gritou: “…Acabou-se a conversa! Vamos aos copos e í s febras!”
Foi muito aplaudido e toda a gente se atirou aos comes e aos bebes, servidos com esmero no adro da igreja.
Entre um golo de vinho e uma dentada no pão, o Zé Gonçalves comentava: “…O sr. Presidente da Câmara estava hoje muito eloquente!…”
“…É verdade…” ““ concordava o Mário Cunha ““ “…e loquaz também…eu ultimamente ele tem demonstrado comportamentos bizarros…”
“…É o stress que o alto cargo que ocupa lhe provoca, na minha modesta opinião de leigo…” ““ concluiu o Zé Gonçalves, escorropichando o copo de vinho.
– Programa Pão com Manteiga de 13/2/1983, revista nº 21, agosto 1983 e adaptado pela ACERT ““ Associação Cultural e Recreativa de Tondela Trigo Limpo