Escrevi, no meu texto sobre o novo filme do Indy que, em 1981, “os meus amigos-intelectuais-de-esquerda torceram o nariz a tanto divertimento e acharam que o filme era mais um panfleto publicitário do imperialismo norte-americano”.
Referia-me ao “Raiders of the Lost Arch”, no qual, Indy defrontava e derrotava um exército de nazis, que tentavam sacar a Arca da Aliança.
Neste quarto filme, o vilão é uma militar soviética, interpretada por Cate Blachett, que estuda fenómenos para-normais e que acredita que as caveiras de cristal têm um poder extra-terrestre.
Os comunistas de São Petersburgo não gostaram. Apesar de poder haver alguma coisa que se perde na tradução, aqui estão excertos de um comunicado dos marxistas-leninistas, guardiões da Verdade:
O filme de Indiana Jones tem por objectivo «criar na juventude moderna uma ideia deturpada da política externa soviética da URSS nos anos 50 do século XX. (…) Vincamos decididamente a nossa profunda indignação face í estreia na Rússia do filme-provocação, resíduo da guerra fria, pasquim nojento. (…) O filme apresenta, de forma caricatural e feia, as acções dos soldados soviéticos e dos nossos serviços secretos, que são cínica e cruelmente liquidados pelo super-herói americano Indiana Jones. Semelhantes invencionices formam, na nova geração de russos disposições (?) decadentes, falta de confiança no poderio do seu país e adoração pelos Estado Unidos. (…) Lançamos um apelo aos espectadores para assobiar o filme durante a estreia nas salas de cinema de São Petersburgo e enviar cartas de protesto aos fantoches do imperialismo Harrison Ford e Cate Blanchett».
Tudo isto soaria a anedota se não fosse verdade. Spielberg pensou que, ao escolher os soviéticos para maus da fita, não iria causar grandes danos – de facto, hoje em dia, quem defende o regime soviético?
Enganou-se. Saudosistas há muitos. Saudosistas que levam a sério um simples filme de aventuras e vêem nele algo de politicamente influente para a sua própria juventude…
Para a próxima, Spielberg terá que inventar uma raça de vilões, ou trazê-los de outro planeta…
Bem… pode sempre olhar para a própria nação. Digo eu…
Abraço
E que tal um Indiana Jones contra o centralismo lisboeta?
“Indiana Jones e o apito perdido”, podia muito bem ser o título.