The Anatony Lesson é o terceiro dos quatro livros que Roth escreveu tendo Nathan Zuckerman como principal personagem.
Zuckerman é um escritor judeu que alcançou a notoriedade e a fortuna com um livro (Carnovsky), no qual zurze a comunidade judaica, sobretudo pela sua hipocrisia no que respeita ao sexo.
No fundo, Zuckerman é Roth e Carnovsky é O Complexo de Portnoy. Só que Zuckerman é ainda mais excessivo e agresivo que Roth. Está com 40 anos, teve dois casamentos falhados, tem várias namoradas mas uma dor cervical, com irradiação para os ombros, impede-o de escrever.
A dor crónica está a dar cabo da vida de Zuckerman; até para ter relações, o pobre do homem tem que ficar deitado no chão, com a cabeça apoiada num livro, enquanto a namorada faz todo o trabalho.
Cito a página 18: “O coito, o felatio, e o cunilingus eram práticas que Zuckerman aguentava mais ou menos sem dor, desde que estivesse de barriga para cima e com a cabeça apoiada no dicionário de sinónimos.”
A páginas tantas, Zuckerman – que já consultou todos os médicos e similares e que já está dependente de analgésicos opióides, álcool e marijuana – decide que quer tirar o curso de medicina. No fundo, pensa que só assim conseguirá resolver a sua dor, mas também porque chega í conclusão que a profissão médica tem muito mais significado do que a de escritor.
Cito a página 100: “(Os médicos) têm cinquenta conversas sérias por dia com pessoas carentes. De manhã í noite, são bombardeadas por histórias, e nenhuma é inventada por eles. Histórias í espera de uma conclusão fiável, definitiva e útil. Histórias com um propósito claro e prático: cure-me. Ouvem com atenção todos os pormenores e depois entram em acção.”
Iconoclasta como sempre Roth, através de Zuckerman, zurze nas religiões. Zuckerman, depois de ter consultado diversos médicos, sem resultado, estava quase a virar-se para a religião, em busca de um milagre.
Cito a página 130: “a astrologia está mesmo aí ao virar da esquina. Pior ainda, o cristianismo. Rende-te í sede da magia médica e serás levado ao limite extremo da loucura humana, í mais absurda de todas as quimeras concebidas pela humanidade em sofrimento – aos Evangelhos, í almofada do nosso mais destacado dolorologista, o curandeiro vudu, Dr. Jesus Cristo.”
Para terminar, um das muitas citações possíveis, em que Zuckerman começa a falar e nunca mais se cala, num discurso torrencial que me fez lembrar algumas tiradas de Henry Miller que, aliás, é citado no livro.
Cito a página 173: “Se há coisa que não suporto é a hipocrisia. A dissimulação. A negação das nossas piças. A disparidade da vida tal como a vivi na rua, que era cheia de sexo e punhetas e sempre a pensar em cona, e as pessoas que dizem que não deve ser assim. Como conseguir o que queríamos – essa era a questão. Essa era a única questão. Essa era a maior questão que existia. Continua a ser. É assustadora por ser tão grande – e no entanto quem disser isso é um monstro.”
Não é dos melhores livros de Roth, mas vale a pena ler, sobretudo para quem, como eu, gosto muito deste escritor norte-americano, nascido em 1933 em Newark e que, infelizmente, já anunciou publicamente que fechou a loja e não vai publicar mais nada.
Outros livros de Philip Roth: “…Goodbye, Columbus“…, “…Némesis“…, “…A Humilhação“…, “…O Complexo de Portnoy“…, “…Indignação“…, “…O Fantasma Sai de Cena“…, “…O Animal Moribundo“…, “…Património“…, “…Todo-o-Mundo“…, “…Pastoral Americana“…, “…A Conspiração Contra a América“…, “…Casei com um Comunista“….