Parece que sim!
Esta semana, médicos e enfermeiros do SNS estão em greve simultaneamente.
Nunca estive de acordo com greves nos sectores dos serviços. Penso que os únicos prejudicados, são os utentes e o Estado pode bem com estas greves; com efeito, até poupa algum dinheiro…
Se os médicos e os enfermeiros pretendem defender o SNS, devem, por exemplo, organizar debates para propor medidas que melhorem os serviços, em vez de fazerem greves.
E as Ordens devem dar o exemplo.
O Sr. Bastonário da Ordem dos Médicos, em vez de andar a fazer política anti-Ministério da Saúde, devia fazer parte da solução, propondo medidas concretas para melhorar o SNS.
Não me esqueço da entrevista que o Dr. Guimarães deu í televisão, quando surgiu a notícia de que a Galiza queria contratar médicos portugueses, oferecendo-lhes altos salários e outras condições principescas. O Sr. Bastonário veio logo dizer que seria natural que os médicos portugueses se candidatassem a esses lugares na Galiza, não só porque iriam ganhar melhor do que no SNS português, mas porque, também, os médicos, em Espanha, eram mais reconhecidos do que em Portugal, segundo a douta opinião do Dr. Guimarães.
Claro que era tudo uma grande treta. A oferta dos galegos não era bem assim, o ordenado não era tão faustoso como se dizia e os candidatos teriam que andar a saltar de um centro de saúde para outro, fazer várias urgências e, só se trabalhassem aos fins-de-semana, é que talvez ganhassem o ordenado anunciado.
Nenhum candidato português se chegou í frente. O Sr. Bastonário nunca mais falou no assunto.
Desde essa altura – ou melhor, desde que se deixou de falar nos professores – que a comunicação social elegeu o SNS como alvo.
Todos os dias há uma notícia nova sobre a hecatombe do SNS.
Notem que não há duas notícias no mesmo dia – isso seria desperdiçar munições. Ontem foi uma, hoje é outra, amanhã será ainda outra. O que é preciso é não deixar morrer o assunto. Os Hospitais privados agradecem, claro.
Nas televisões, os comentadores tudistas – isto é, os especialistas em tudo – também comentam o “caos” na Saúde.
Ontem, um comentador de apelido Gama, atribuía a falta de médicos í redução do horário de trabalho das 40 paras as 35 horas – o que é mentira, já que os médicos são os únicos no sector da Saúde que continuam com 40 horas.
Mas nem a jornalista que estava a moderar o debate, nem a sua opositora, a socialista Inês de Medeiros, corrigiram o Gama.
Portanto, quando os comentadores não conhecem os assuntos que estão a comentar, está tudo dito quanto í comunicação social.
Há umas duas semanas, ficámos a saber que as maternidades de Lisboa teriam que fazer uma escala de atendimento de urgências porque não havia obstetras suficientes, durante o Verão, para manter todas as urgências abertas.
Foi um escândalo.
Claro que não foi referido que isto já não é novo. Aconteceu, por exemplo, com as urgências pediátricas.
E a culpa foi atribuída ao SNS – não ao sector privado, que saca os médicos, oferecendo-lhes melhores salários.
Entretanto, estamos no dia 3 de Julho, e parece que as maternidades vão continuar a funcionar, embora isso já não seja notícia.
A notícia hoje é, na primeira página do Público, replicada nas televisões, que o número de cirurgias em atraso duplicou nos últimos quatro anos – ou seja, durante o consulado da geringonça.
Se fores ler a notícia – o que eu duvido – perceberás que esse aumento se ficou a dever, sobretudo, ao aumento do tempo máximo de resposta garantida.
Mas o que é isso?
Até 2018, uma cirurgia programada menos grave, teria que ser resolvida em 270 dias – mas a partir do ano passado, essas cirurgias teriam que ser realizadas no tempo máximo de 180 dias. Esse simples facto fez aumentar o número de cirurgias em espera.
Mas isto é um pormenor demasiado técnico, e o que a malta fixa é a parangona do jornal, ou o título debitado pelo jornalista de serviço na televisão.
Enfim, acabem com o SNS e depois não se queixem…