Foram 515 km, sempre por boas acessibilidades, eufemismo para auto-estradas, IP, IC, via rápida e afins.
Partimos por volta das 9 da manhã e já almoçámos bacalhau í minhota, na Adega do Sabino, em Melgaço.
Longe vão os tempos em que demorávamos oito horas até Moimenta da Beira, a bordo de um R4 com mudanças ao volante (dá cá a bengala, toma lá a bengala), e os miúdos lá atrás, a vomitar. Ultrapassagens memoráveis a camiões a 10 í hora, curvas e contra-curvas sádicas, em estradas desenhadas por ingleses que se limitavam a dizer “yes” e os operários portugueses lá punham mais um “esse” na estrada…
Agora, é apontar ao eixo norte-sul e ir sempre em frente, entre os 120 e os 140 – e até se pode usar o “cruise control” e tirar o pé do acelerador.
Depois do competente almoço, demos uma volta por Melgaço, que está situada numa encosta junto ao rio Minho.
A cidadezinha conserva, ainda algumas velhas calçadas e preserva os restos de uma fortificação do século XII (muralhas e torre de menagem), do tempo em que andávamos sempre í trolha com os castelhanos.
Mesmo junto aos muros do que resta do castelo, pequenas casinhas fazem lembrar o Portugal dos Pequenitos.
E, como é típico de Portugal, roupa estendida por todo o lado, a secar e a corar ao sol, mesmo num estendal montado num dos muros do castelo.
Mais í frente, paragem em Monção, mesmo junto ao rio Minho.
Aqui, como em todas as vilas e cidades por onde passámos, a mesma sensação de que o chamado Poder Local (mais um eufemismo) tem feito muito por todas estas terras. Claro que vemos mamarrachos em todo o lado, prédios horripilantes, casas de banho ao contrário, cobertas por azulejos de pesadelo. Mas, regra geral, nota-se que as autarquias têm tentado preservar e embelezar. Todas as localidades têm um centro pedonal bem arranjado e nota-se que tem havido o cuidado de tentar não estragar e, pelo contrário, evidenciar o património.
Em Monção, é o passeio ribeirinho que chama a atenção, com uma praia de calhaus frente a um parque densamente arborizado. Foi nesta terra que nasceu uma das minhas heroínas infantis, Deuladeu Martins. Muitas vezes a imaginei, do alto do castelo, a atirar pão aos castelhanos, para dar a impressão de que os sitiados não estavam a morrer í fome. Lendas da História de Portugal… o mais certo, é Deuladeu ter sido uma megera, capaz de matar a sangue frio qualquer espanholito magricela e estropiado que clamasse por misericórdia…
O passeio de hoje terminou em Valença, na Pousada de S. Teotónio, com uma vista espectacular sobre o rio Minho e a cidade de Tuy, com a catedral em destaque.
A zona velha de Valença está dividida em dois bairros, cada um deles rodeado porum recinto defensivo e separados por um fosso, que se transpõe por pontes, que terão sido levadiças. Os dois muros defensivos têm a forma de estrela.
Aos domingos, a zona antiga parece uma feira. Quando chegámos, ao fim da tarde, as ruas estreitas estavam repletas de espanhóis, a comprar atoalhados e lençóis. Nas fachadas das casas, confundem-se as janelas manuelinas com toalhas de praia e roupões de cores berrantes, pendurados das varandas.
Com muita dificuldade, vamos avançando pelas ruas empedradas, tentando não atropelar nenhum espanhol. E pensar que, há uns séculos, quando esta fortaleza foi construída, teríamos recebido medalhas e louvores se tivéssemos esmagado uns quantos espanholitos!…
Depois, quando se chega a um dos portões das muralhas, há que parar no semáforo, porque só passa um carro de cada vez.
A Pousada de S. Teotónio tem uma localização privilegiada, no ponto mais alto de Valença. Inaugurada em 1962, foi desenhada pelo arquitecto João Andresen e é uma bonita casa de pedra que se integra muito bem na paisagem esplêndida.
Das janelas da Pousada, para além do Minho e Tuy, também se vislumbra a ponte velha, de ferro, í moda do Eiffel, onde antigamente passava o comboio da linha do Minho.
Na segunda-feira, praticamente sem castelhanos, já se pode andar pelas ruelas de Valença, admirando as frontarias quinhentistas, os pormenores manuelinos e, seguindo os muros da fortificação, olhar lá para baixo e ver a paisagem, diferente conforme está a amanhecer, com pequenos focos de neblina, ou ao pí´r-do-sol, com a luz dourando os montes e as casas.
Caro Artur,
Pela ponte Eiffel ainda passa o comboio, o internacional que liga o Porto a Vigo, penso que ainda nas unidades triplas a diesel com as bandas vermelhas pintadas í frente e atrás, que quando embalam desligam os motores e rolam silenciosamente pela linha, fazem sempre isso entre Viana e Afife. Doces memórias. A linha do Minho é que, lamentavelmente, foi desactivada, mas ainda tive o privilégio de a fazer de comboio e era uma bonita viagem í beira do rio.
Obrigado pela informação; pensei que a linha estivesse desactivada.
E mais: segundo a investigação genealógica da Dalila, a família do Sousa terá antepassados vindos de Tuy, daí o Aballe.