Luís nada só com uma mão.
Na outra, segura o manuscrito e tenta mantê-lo acima da água.
O naufrágio apanhou todos desprevenidos e Luís só teve tempo de agarrar nas centenas de folhas já escritas, embrulhá-las num pedaço de tecido e atirar-se í água, sempre com o braço esquerdo levantado, segurando o trabalho dos últimos meses.
Felizmente, a costa não estava longe e Luís era um bom nadador; além disso, o mar não estava muito encrespado e o naufrágio não fora provocado por mar alteroso, mas por má manobra do leme.
A poucos metros da costa, no entanto, Luís quase desfalece. A longa travessia tinha-o enfraquecido, pouco comera e a falta de legumes e frutos frescos, provocava-lhe cãibras.
Mais um esforço! ““ pensava Luís.
Mas as forças estavam no limite e, por um momento, Luís desfalece.
Uma onda cobre-o e leva-lhe o manuscrito.
Luís desperta e tenta alcançá-lo, em vão.
Por momentos, pensa que não vale a pena continuar a viver. Perdeu a obra da sua vida.
No entanto, o espírito de sobrevivência é mais forte e, num último esforço, Luís atinge a praia.
Esgotado, sentado na areia, olha para o mar durante longos minutos.
No fundo daquele mar jaz o seu maior e melhor trabalho.
É por isso que hoje, Camões é apenas conhecido pela sua Lírica.