Namoro í janela, í s escondidas do pai, o padrasto que apaga os cigarros nos braços da enteada, homens e mulheres solitários, com vidas interrompidas, mulheres que seduzem com um copo de vinho, quartos de hotel onde não se dorme por causa dos pardais, homens que fazem barulho a comer a sopa e enojam as mulheres, escritores que se fazem valer da fama para seduzir jovens.
Eis alguns dos temas destas novelas que nada têm de exemplares.
Trevisan não é fácil de ler.
A sua escrita é tão depurada, cingindo-se ao essencial, que tem que ser lida com muita atenção e, de preferência, em voz alta.
«Cabelos ruivos na pia, o vestido com duas rodelas de suor e, no espelho, o rosto intruso. Dele fazia parte, o sangue da pulga na cueca, a caspa no paletó ao fim do dia.»
«Sílvia não queria envelhecer: roía a unha, depois a pintava, roía e pintava de novo. Em vão passeava nua no quarto. E buscava, cada dia, um fio branco na franjinha.»
«Cristina serviu-lhe vidro moído no feijão, sem que desconfiasse; cólicas tão fortes que rolava no chão, língua de fora. João dormia só na cama de casal. Certa noite procurou o anel de cabelos de Negrinha, não achou. Cristina o queimara e, além dele, o próprio retrato».
São exemplos ao acaso.
Mestre do conto, Trevisan conta-nos histórias que, a maior parte das vezes, não têm final, como na vida.
Seria muito bom que repetisse…
Uma vez eu assisti uma peça com base nos textos de Dalton Trevisan e nunca vou esquecer os cantares de Sulamita, ele é um escritor incrível e o texto é muito marcante.