Entrou ontem em vigor o Novo Acordo Ortográfico e apeteceu-me ser ordinário e pedir aos autores que o metessem no cu.
Mas depois, fiquei com dúvidas: com o novo acordo, cu leva acento?
Eu sei que “heroico”, por exemplo, perdeu o acento mas, sendo cu, em si mesmo, um assento, não precisará de um?
O acento circunflexo mantém-se em “pí´de”, para distinguir de “pode” e em “pí´r”, para distinguir de “por”.
Então porque desaparece o acento em “pára”, para distinguir de “para”?
O Benfica vai ter que mandar fazer novas t-shirts, corrigindo a frase “Ninguém pára o Benfica”.
Mas “ninguém para o Benfica” quer dizer outra coisa completamente diferente!
E tenho mais dúvidas.
Dizem-me que as consoantes mudas desaparecem.
Não será discriminação?
O mudo é alguém que tem uma deficiência – não devia ser apoiado?
Por exemplo: actor passa a ator.
Aceita-se.
Agora, não me parece bem que espectadores passe a espetadores.
Quer dizer: deixa de ser um conjunto de pessoas que assistem a algum espectáculo e passam a ser um grupo de tipos que espetam.
Aliás, o próprio espectáculo passa a espetáculo, uma espécie de evento onde se espeta algo.
E a recepção, que perde o pê e fica receção; não se confundirá com recessão?
Passaremos a ver, nos serviços públicos, cartazes dizendo “Dirija-se í recessão e tire uma senha”?
E as incongruências?
Egipto, o país, passa a chamar-se Egito, mas os seus habitantes continuam egípcios.
Ora se o pê cai no país, devia também cair nos habitantes, que passariam a ser os egícios.
Além disso, se as consoantes mudas caem, não deveríamos passar a escrever “omem”, “umano”, “ipismo” e “ipnótico”, por exemplo?
Outra coisa que cai são os hífens, o que nos vai obrigar a gastar muitos ésses: em minissaia, lombossagrada, anglossaxónica…
Os defensores desta Coisa, dão sempre como exemplo a palavra “pharmácia”, que assim se escrevia antes do acordo de 1942. E dizem, aos que atacam o novo acordo que, caso queiram, podem continuar a escrever farmácia com “ph”.
Eu não quero continua a escrever “pharmácia”, mas também não quero escrever “ótimo” nem “batismo”.
E, por favor, não me ponham a escrever pênis!
Pénis nunca há de ser circunflexo!
Ortográphyco ao abrigo do (des)acordo não deveria ser Ortugraficu? Isto é que seria aproxima a grafia da fonética, ao mesmo tempo que se perde o acento.
Agora num tom mais sério, o problema desta trapalhada é que quer-me parecer que vamos ser os únicos a escrever com estas novas regras; os outros países lusófonos, ou não o ratificaram ou estão-se a borrifar!