Há meses que o Serviço Nacional de Saúde está sob ataque cerrado.
Quase todos os dias surge uma notícia que põe em causa o SNS, e que se junta ao mau estar provocado pelas greves dos enfermeiros e as reivindicações de todos os sectores, desde os maqueiros aos médicos.
Colaborando nesta campanha, a comunicação social faz eco de informações praticamente diárias, que pretendem mostrar o descalabro a que chegou o SNS.
Fico espantado, por exemplo, com o facto de os enfermeiros terem estado quase calados, durante os anos da troika, terem sido obrigados a emigrar, sobretudo para a Grã-Bretanha, até estimulados pelo então primeiro-ministro Paços Coelho, e só agora virem reivindicar uma carreira profissional, aumentos salariais, reformas antecipadas e tudo e tudo.
Fico espantado, também, com a o bastonário dos médicos (nem falo da senhora bastonária das enfermeiras…) que, em vez de ser parte da solução, é também parte do problema, armando-se em grande defensor do SNS, quando a Ordem a que pertenço desde 1978, sempre se esteve borrifando para o SNS, defendo, em primeiro lugar, a medicina privada.
Agora, de repente, o bastonário Guimarães, aparece a criticar a quebra do SNS, quando, no fundo, deve estar satisfeito porque, quanto mais fraco estiver o SNS, mais utentes têm que recorrer ao privado.
Serve esta introdução para chamar a atenção para mais uma notícia sobre o SNS, que mostra o que é apoiar o copo meio cheio, ou o copo meio vazio…
Os telejornais noticiaram há poucos dias que o número de transplantes, em Portugal, diminuiu em 2018. Enquanto, no ano anterior, foram realizados 859 transplantes, em 2018, foram apenas 757.
Ao ouvir esta notícia, o cidadão médio dirá que é mais uma prova do desinvestimento no SNS. Agora, até os transplantes diminuíram!
Mas, depois, se formos procurar mais informação, ficamos a saber que, no ano passado, o tempo de espera para um doente ser transplantado diminuiu 3% e que o número de óbitos de doentes í espera de transplante diminuiu 2,9%, o que é um dos números mais baixos, a nível internacional.
Quem é que ouviu estas duas informações serem transmitidas nos telejornais?
O copo do SNS continua meio cheio para uns, geralmente os que dele necessitam, e meio vazio para os restantes…