O novo governo de António Costa entregou ontem, na Assembleia da República, o seu Programa.
Ainda não o li.
Felizmente, outros o leram por mim.
É o caso do director do Público, Manuel Carvalho.
Carvalho deve ter lido o Programa e diz que ele “…celebra a rotina”.
No seu artigo de opinião de hoje, carvalho escreve:
“…Se há elogio a fazer ao programa do Governo é que entre a sua longa lista de medidas é difícil encontrar alguma que careça de sentido, que seja errada, que esteja condenada ao fracasso ou implique um retrocesso”.
Ora bem, isto parece ser positivo.
O Programa do Governo do Costa não tem nenhuma medida sem sentido, não tem nenhuma que esteja errada ou condenada ao fracasso, nem nenhuma que implique um retrocesso.
Aplausos, portanto.
Ou não?
É que Carvalho acrescenta:
“…Tudo ali parecer demasiado óbvio, certinho, previsível, alcançável ou razoável”.
Parece, pois, que Carvalho queria que o Programa do Costa fosse obscuro, esparvoado, imprevisível ou disparatado.
E o director do Público diz mais:
“…Tudo ali acusa falta de rasgo, de ambição ou de propósito transformador. Um programa para um país conformado, não para um país com sentido de urgência”.
Partindo do princípio de que percebemos o que é um “…país com sentido de urgência”, ficamos com a ideia de que Carvalho queria um programa de governo com ideias malucas, propostas de ruptura, medidas desmioladas que abanassem o sistema.
Carvalho fez-me lembrar uma doente minha que sofreu um descolamento da retina e que decidiu renomear essa patologia, chamando-lhe “…deslocamento da rotina”.
Era isso que Carvalho queria no programa do Governo: um deslocamento da rotina…