“O Mago do Kremlin”, de Giuliano da Empoli (2022)

Na capa, a editora afirma que este é o “…«romance» que intriga os serviços secretos ocidentais”. E coloca romance entre aspas como quem diz que o livro será o relato verídico de um ex-conselheiro de Putin.

O livro é um longo monólogo desse tal ex-conselheiro, Vadim Baranov, que relata, ao longo de mais de 200 páginas, como conseguiu levar Putin ao Poder e como o manteve lá e acabou por se afastar, porque Putin, no fundo, não precisa de mais ninguém a seu lado, a não ser a sua cadela lavrador.

Não sei se haverá outro Vadim Baranov, mas googlando este nome, apenas me aparece um crítico literário russo, que faleceu em 2014. Deve ser coincidência.

Romances í  parte, o autor dá-nos uma descrição do Poder russo demasiado caricaturizada, na minha opinião.

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Página 35, diversas piadas sobre o tempo dos soviéticos:

“…«Sabes o que é um dueto soviético? É um quarteto que foi em digressão ao estrangeiro.»

«Uma comissão de inspectores visita um asilo de loucos. Os pacientes recebem-nos cantando: “˜Como é bom viver em terra soviética!”™ Mas a comissão repara que um homem continua calado. “˜Porque é que não cantas?”™, perguntam-lhe eles. “˜Eu sou enfermeiro, não sou doido!”™Â»

«O camarada Khrushchev visita uma criação de porcos e é fotografado. No Pravda, os grafistas discutem qual a legenda a colocar na imagem: “˜O camarada Krushchev entre os porcos”™, “˜O camarada Krushchev e os porcos”™, “˜Os porcos ao redor do camarada Krushchev?”™ Todas as propostas são rejeitadas, umas atrás das outras. Por fim, o director toma a sua decisão. A legenda escolhida é: “˜Terceiro í  direita, o camarada Krushchev”™Â».

Página 126, após um diálogo com um oligarca que vai acabar por “…suicidar”:

“…Sobra a guerra civil, devo confessar que me deu vontade de rir: como dizia aquele diplomata francês, a vantagem da guerra civil sobre a outra é que se pode ir comer a casa.”

Nas páginas 172 e seguintes, o tal suposto conselheiro do Czar, fala da Ucrânia:

“…Apoiados pelos americanos, os rebeldes (ucranianos) recusaram reconhecer o resultado das eleições, ocupando a praça principal de Kiev com os seus cânticos, as suas faixas cor de laranja, os seus alegres slogans pró-ocidentais. De súbito, comissões de observadores internacionais, delegações do Congresso americano, missões diplomáticas da União Europeia, materializaram-se do nada: todas concordavam em julgar ilegítimo o resultado das eleições ganhas pelo candidato pró-russo. Tinha-se acabado de votar no Afeganistão, no Iraque, com bombas a explodirem nas ruas e as tropas americanas a ocuparem as mesas de voto ““ aí, claramente, nenhum problema, tudo estava regular. Mas na Ucrânia não, claro que não.”

Romance ou relato verídico, é um livro curioso, que se lê como um daquelas novelas para ler no aeroporto.

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