Arranjei finalmente vontade para ler este romance de Orham Pamuk (Istambul, 1952). Como já disse, desconfio sempre dos best sellers e receava que este fosse mais um desses livros que vendem milhares e que pouco interesse têm.
O Museu da Inocência foi o primeiro romance que Pamuk escreveu depois de ter ganho o Nobel, em 2006.
E esmerou-se.
Tenho alguma dificuldade em qualificar o livro mas apetece-me dizer que parece um romance “í moda antiga”, uma história escrita por alguém muito antigo, uma história “que já não se usa” …
O livro conta a história de Kemal, um jovem novo-rico de 30 anos que, apesar de estar noivo de outra abastada jovem, se apaixona por uma prima afastada, Fusun, de 18 anos, empregada numa loja de roupa. Amor impossível.
A história, que parece saída da Mil e Uma Noites, começa nos anos 70 e prolonga-se por cerca de 30 anos e, í medida que se desenrola, vamos tomando contacto com a evolução de Istambul, pelo menos ao nível das classes mais endinheiradas que queriam, a toda a força, ser e, sobretudo, parecer, ocidentalizadas.
Como se diz na página 275: «Na Europa, os ricos são suficientemente refinados para agir como se não fossem ricos. É assim que as pessoas civilizadas se comportam. Se queres saber a minha opinião, ser culto e civilizado não tem nada a ver com sermos todos livres e iguais; tem a ver com sermos todos suficientemente refinados para agir como se assim fosse.»
Kemal vai para a cama com Fusun, o que é muito “ocidental”, mas nunca chegam a casar.
Nos anos seguintes, a obsessão de Kemal por Fusun vai crescendo e começa a coleccionar objectos relacionados com ela: brincos, postais ilustrados das ruas que percorreram juntos, bilhetes e cartazes de cinema, beatas que ela fumou, etc, até nascer a ideia de fazer um Museu todo dedicado a ela.
E Pamuk foi mais longe, criando mesmo um Museu da Inocência, num dos bairros de Istambul (http://en.wikipedia.org/wiki/The_Museum_of_Innocence_%28museum%29).
Passei apenas dois dias em Istambul, mas a leitura deste livro fez-me lembrar constantemente aquela cidade, não sei explicar porquê.
Talvez porque Pamuk conseguiu impregnar a sua história com a essência da cidade onde nasceu.
Vale a pena ler.