Estava na redacção do Telejornal, ainda no velho Lumiar. Nessa altura, era jornalista.
De repente, vejo muitos tipos vestidos com camuflados a tomarem posições, no páteo, nos telhados, nas esquinas. Estavam armados. Vejo, também, alguns jornalistas, conotados com o PCP, a tomarem posições de comando, um deles, de granada na mão.
Foi quando o major Clemente interrompeu o António Santos, que estava a ler o telejornal e se dirigiu ao país. E, depois, os emissores do Porto cortaram-lhe o pio e puseram, no ar, um filme idiota com o Danny Kaye.
Sinceramente, não achei piada nenhuma ao que se estava a passar e fui-me embora.
Um golpe de Estado?
Mais um?!
í€ saída, nenhum dos militares que montavam guarda me importunou.
Quando cheguei a casa, disse para a Mila: “Acabou-se! Estou sem emprego!”
No dia seguinte, a RTP esteve fechada. Não houve emissão.
No outro dia, telefonaram-me: não queria aceitar o lugar de responsável pela 3ª edição do Telejornal?
Afinal, ainda tinha emprego.
E até fora promovido!
Mais um golpe de Estado e teria chegado a presidente da coisa!
Continuei jornalista da RTP até ao final de 1976, quando acabei o curso de Medicina.
Comecei a exercer medicina em janeiro de 1977 e deixei de ser jornalista.
Não estou arrependido.
Lembro-me bem do filme do Danny Kaye, como era puto na altura não o achei idiota (apesar de durante a sua exibição ter perguntado milhentas vezes onde tinha ido o meu pai).
Artur, você estava lá, no sitio onde se informa, e se desinforma…
Tantos anos passados, dê-nos lá a sua opinião sobre o que aconteceu em 25 de Novembro de 75.
Eu tinha 19 anos na altura, estava em PREC, formulei na altura uma opinião, que passados todos estes anos não alterei substancialmente.
E a minha opinião é divergente da institucionalizada oficialmente, da que fala de um golpe da extrema esquerda.
Penso que o grande drama é que, na altura, ninguém soube muito bem o que se estava a passar: uns avançaram, outros borregaram, outros nem sim nem não; na minha opinião, aconeceram uma série de acções e reacções, sem nenhum plano previamente definido. Se o Otelo tivesse avançado, outro galo cantaria. Como ele deu um passo atrás, o Eanes deu dois í frente. Jogos de poder í portuguesa…
Caro Artur
O mais importante e decisivo sucedeu aqui muito perto de nós, no Palácio do Comando na Base do Alfeite, pela madrugada de 25 para 26 de Novembro.
Aí se decidiu todo o jogo, alguém disse “alto e pára o baile”
Quem foi ????
Uma nota final, ainda ontem a ver a RTP Memória ouvi o V.Lourenço dizer que tal tinha sido determinante para evitar uma guerra civil.
Não me contaram, assisti….
Caro “Pisca”
Você tem uma idéia o que se passou no Alfeite, dê-nos lá a sua opinião, não passará disso mesmo. Será apenas mais um contributo para o nosso próprio julgamento.
De uma maneira geral concordo com o que disse o Artur, apenas discordo quando ele refere que foram acções e reações sem nenhum plano definido.
Fiquei sempre com a impressão que o grupo do Eanes tinha um plano montado, e que apenas precisava de um pretexto para agir.
Então eu conto.
A Marinha em especial os Fuzos estavam em pé de guerra, havia pelo menos uma fragata municiada e pronta a largar desde a manhã de 25 de Novembro.
Era conhecida a especial “amizade” entre Fuzos e Comandos na época.
Na noite de 25 para 26 no Palácio do Comando no Alfeite, foi decidido, no meu entender, que não haveria mais bagunça, e acima de tudo ninguém andaria aos tiros.
Com a chegada pela madrugada, de Rosa Coutinho, Martins Guerreiro, Almada Contreiras e julgo que Rosário Costa, foi mandado parar o granel da Marinha e lembro bem as palavras de Rosa Coutinho
“Meus Senhores só há uma solução, e essa é politica nunca será militar”
Mais tarde pude ver o sossego, algo agitado no Ralis e mais ainda o ar de passeio das forças do Salgueiro Maia a meio caminho de Lisboa, ali para os lados de Alverca/Alhandra, parados encostados í beira da estrada, como se um piquenique se tratasse.
Afinal parece que apenas o cow-boy da Amadora é que armou em guerrilheiro com os resultados que se conhecem.
Na RTP Memoria dizia o Vasco Lourenço há dias:
-O nosso receio eram os fuzileiros se tivessem avançado não conseguiriamos segurar Lisboa.
AInda bem que se ficou apenas por isto, começar guerras é fácil parar é o problema
E concordo com o Artur foram mais acções e reacções, se bem que os 9 tivessem um plano de facto
Os factos que refiro são apenas os tive oportunidade de ver
AInda hoje guardo uma duvida, quem de facto arrastou os páras para aquela confusão
E posso ainda acrescentar outra, no meio daquilo tudo os 9 estiveram muito perto de perder o controle da situação, e tudo esteve muito pertinho de se virar ao contrário