Desde há algum tempo que, ao comprares um jornal, te arriscas a trazer para casa um serviço de chá para quatro pessoas, um faqueiro em prata, uma colecção de santos para pendurar em pulseiras ou colares, sacos para guardares o lixo reciclável, toalhas para a praia, cromos da bola, livros e filmes em dvd.
Filmes em dvd é a oferta mais popular. Desde o Diário de Notícias í Visão, da Volta ao Mundo ao Expresso, não há periódico que não te ofereça um dvd qualquer. Se tiveres o “azar” de seres daqueles que, como eu, são viciados em jornais e revistas, sem dares por isso, acabas com uma pilha de dvd na prateleira da sala e, das duas, uma: ou ignoras e vais aumentando a pilha, ou te irritas e deitas tudo fora, ou decides ver alguns daqueles filmes. Afinal, é das duas, três…
E foram três os dvd que vi, esta semana, com o objectivo confesso de fazer diminuir a tal pilha.
“Bitter Moon”, de Roman Polanski
O tarado do Polanski fez este filme em 1992, mas parece que foi feito vinte anos antes. É um filme que cheira a mofo – e não pelo facto de eu só agora o ter visto. A história do filme cheira a libertinos parisienses dos anos 50 e parece deslocada nos anos 90, quanto mais hoje em dia.
Peter Coyote é um candidato a escritor que, graças a uma herança, vai viver para Paris, onde, como toda a gente sabe, é onde está a Cultura. Durante não sei quantos anos, não faz nada se não escrever umas histórias que ninguém lê, fumar que nem um desalmado, apanhar grandes bebedeiras e foder com toda as miúdas que se cruzam com ele. Até que conhece Mimi (Emmanuelle Seigner), uma empregada de bar que estuda dança moderna numa escola nocturna e que fode que nem uma maluca, entregando-se a todos os tipos de jogos sexuais, sado-masoquismo incluindo. Enfim, a história do costume. O lugar comum. Henry Miller escreveu tudo o que havia a escrever sobre isto.
O americano e a francesa, depois de várias peripécias, acabam num cruzeiro, onde encontram um casal de ingleses, casados há sete anos. O tal casal é outro cliché: Hugh Grant e Kristin S. Thomas são o mais ingleses possível e está-se mesmo a ver que não se comem como deve ser, o que leva a um jogo de sedução, entre a francesa e o inglês, em que o americano e a inglesa serão os voyeurs.
Enfim, tudo um pouco “fucked up”, como Polanski gosta, mas que me cheirou a serí´dio. Por outras palavras: vê-se, mas já dei para este peditório.
“The Illusionist”, de Neil Burger
Edward Norton, naquele seu modo contido, faz o papel de um ilusionista que, no século 19, se destacou no Império Austro-Húngaro.
Qual David Copperfield, o mago conseguia as maiores proezas em palco e era muito popular, até reencontrar o amor da sua adolescência, a condessa de Von Teschen (Jéssica Biel), agora noiva do sucessor do império. Esse reencontro não é bem visto pelo malandro do futuro imperador que, ainda por cima, é um grande bêbado e abusador de mulheres, e o inspector da polícia de Viena (Paul Giamatti), fica encarregado de vigiar o ilusionista.
É uma história de amor bem contada e com um boa fotografia em tons de sépia, para nos transportar melhor para o século 19. Norton não se ri durante o filme todo mas acaba por ficar com a melhor parte, no fim…
Vê-se sem grande esforço…
“The Door in the Floor”, de Tod Williams
Mais uma história triste: Ted Cole (Jeff Bridges) é um escritor/ilustrador de histórias infantis, que se mete nos copos e gosta de desenhar e humilhar mulheres nuas; Marion (Kim Basinger), a sua mulher, está com uma depressão das antigas desde que os filhos do casal, adolescentes, morreram num acidente de viação. O nascimento de uma filha, agora com 5 ou 6 anos, não suavizou o sofrimento.
Casal em crise, está-se mesmo a ver. Nas férias de Verão, o escritor arranja um assistente, para o apoiar, para aprender as técnicas da escrita e, sobretudo, para servir de motorista, já que ele está impedido de conduzir, por ter sido apanhado com uma grande bebedeira nos queixos. O jovem assistente, tem a idade que o filho mais velho dos Cole teria, se ainda fosse vivo. E, apesar daquele ar inocente de puto marrão, aí está ele a perder a virgindade com a Kim Basinger. Parece-me injusto.
As relações entre o casal vão-se degradando mas, felizmente, existe uma porta no chão…
Vê-se bem, com algumas reservas.