Passear í beira-rio, no Ginjal, é um privilégio, repito.
Nestes primeiros dias de Outono, com aquela luz especial a derramar-se sobre o casario de Lisboa, caminhar ao longo do Tejo, por volta das 6 da tarde, faz-me sentir muito bem.
São cerca de 5 km, ida e volta, passando pelos restaurantes desactivados do Ginjal, as fábricas de conservas de peixe abandonadas, o Atira-te ao Rio e o Ponto de Encontro, o elevador da Boca do Vento (avariado), e continuando por ali fora, mesmo até ao fim do cais.
A paisagem é sempre a mesma, mas sempre diferente, conforme a hora do dia, a estação do ano, a intensidade da luz: muda o céu, muda a cor do Tejo. Na outra margem, também Lisboa parece uma cidade diferente, de cada vez que percorremos aquele caminho.
Os habitantes do Ginjal devem ser meia dúzia de idosos, que resistem em casas a prometer derrocada para breve.
Mas a população do Ginjal aumentou recentemente. Famílias de emigrantes ilegais (romenos?), instalaram-se nas ruínas de uma das fábricas de conservas.
Aqui mesmo.
Por entre montes de lixo. O cheiro é nauseabundo. Ao cheiro do lixo acumulado, junta-se, agora, o aroma peculiar de urina e fezes humanas.
A Câmara e a Junta de Freguesia já têm conhecimento do que se passa. Um jornal local disse, até, que alguns destes emigrantes se entretêm a assaltar os passeantes. Nunca vi tal coisa. No entanto, não deixa de ser anacrónico. O tempo vai passando e a densidade populacional deste local vai aumentando.
Custa a crer que se consiga viver no meio de tanto lixo, sem um tecto digno desse nome. Como será quando começar o Inverno?
Mas há compensações.
É isto que estes emigrantes ilegais vêem, todas as manhãs, quando acordam!
Desprivilegiados com uma vista privilegiada. Não se pode ter tudo!
Como seria a vida dessas pessoas na terra de origem para se sujeitarem a essas condições…apesar da vista?
Não “somos meia dúzia de velhinhos”!
Nascido e aí vivido desde então
Tenha 35 anos, trabalhe há 20
Pague renda e pague a
net…