“Klara e o Sol”, de Kazuo Ishiguro (2021)

Kazuo Ishiguro (Nobel em 2017), escreveu um romance sobre o amor, mascarado de ficção científica.

Klara é uma AA, uma Amiga Artificial, um robot construído para fazer companhia a crianças.

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Josie é uma rapariga que sofre de uma doença grave (nunca saberemos qual); teve uma irmã mais velha que morreu com essa doença. A mãe de Josie compra Klara não só para fazer companhia a Josie, mas também, talvez, para substituir Josie, se esta morrer.

O livro é narrado por Klara e ficamos a saber que este tipo de robots têm uma relação mística com o Sol, visto e sentido como um deus. Klara convence-se que será o Sol a salvar Josie, mas, para isso, o robot terá que fazer uma espécie de promessa.

Ishiguro escreve bem e consegue sugerir muitas coisas que, depois, nunca desenvolve, deixando-nos água na boca, mas, no fundo, é uma história de amor. Concluímos que nunca seremos capazes de amar um robot, embora o contrário, talvez possa acontecer. Lê-se com interesse, mas parece pouco para um escritor nobelizado.

“Breve História do Mundo em 50 Lugares”, de Jacob F. Field (2017)

Nascido em Londres, em 1983, Jacob F. Field é formado em História Moderna pela Universidade de Oxford e autor de diversos livros.

Esta breve História do Mundo é um excelente livro para ler em voz alta para ouvidos atentos que queiram saber coisas básicas sobre alguns lugares do mundo que se tornaram importantes para a História.

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São 50 lugares que o autor escolheu, nomeadamente, a Biblioteca de Alexandria, a bacia do Rio Amarelo, a Acrópole, a Igreja de Santa Maria do Sião, Cusco, as planícies de Abraão, a casa de Anne Frank, o CERN, etc.

Sobre cada um destes lugares ““ e em três ou quatro páginas ““ o autor relata os factos principais que ficaram ligados a esses sítios. Numa linguagem simples e com uma grande capacidade de síntese, Jacob F. Field consegue prender a nossa atenção e dar umas pinceladas na História do Mundo, da Europa í  ísia, passando pela ífrica e pelas Américas.

“The Father”, de Florian Zeller (2020)

Anthony Hopkins (83 anos), ganhou o óscar para melhor interpretação e é bem merecido, mas Olivia Colman não lhe fica atrás.

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“…The Father” é a adaptação cinematográfica da peça de teatro, “…Le Pére”, da autoria do realizador do filme, Florian Zeller, peça que ganhou diversos prémios.

O filme mostra-nos como Anthony (Anthony Hopkins), um homem que já ultrapassou os 80 anos e que gosta de ópera, vai perdendo a memória, ficando cada vez mais confuso, com alucinações auditivas e alguns lampejos de delírio.

A pouco e pouco, confunde uma das suas cuidadoras com a sua filha mais nova, que terá morrido num acidente, por vezes, não tem bem a certeza se aquela é mesmo a sua outra filha (Olivia Colman), pensa que continua a viver no seu apartamento, pensa que lhe querem roubar o relógio, confunde as refeições, etc. Hopkins é excelente, criando um Alzheimer muito convincente e Olivia Colman faz um papel muito contido, de uma filha que não sabe o que há de fazer com a demência do pai.

Acredita! A culpa é do Cabrita!

Todas as instituições têm um bombo da festa.

O bombo deste Governo é o ministro Cabrita.

O combate aos incêndios corre mal?

A culpa é do Cabrita.

O SEF tem inspectores que matam (sem querer) estrangeiros?

A culpa é do Cabrita.

A PSP e a GNR andam í  deriva?

A culpa é do Cabrita.

Os imigrantes vivem amontoados em Odemira?

A culpa é do Cabrita.

O Sporting é campeão?

A culpa é do Cabrita.

Neste caso, é exagero. A culpa deve ser do Rúben Amorim e companhia, mas aquele ajuntamento de milhares de pessoas com camisolas í s riscas, só pode ser culpa do Cabrita, que devia ter proibido o Sporting de ser campeão e arranjar as coisas de maneira a que, este ano, o campeão fosse, por exemplo, o Moreirense.

É que Moreira de Cónegos não chega aos 5 mil habitantes e os festejos seriam, de certeza, mais parcimoniosos, mais de acordo com os tempos pandémicos que vivemos.

Mas Cabrita permitiu que o Sporting fosse campeão e foi o que se viu: milhares de pessoas na rua, sem máscara, sem distanciamento social, gritando, expelindo gotículas de saliva em todas as direcções.

De certeza que, entre aquela multidão, estavam muitos tipos que protestaram contra a Festa do Avante e similares.

Daqui a uns dias, se quisermos saber a que clube pertence determinada pessoa, basta fazer-lhe um teste covid. Se for positivo, é porque é lagarto.

Se António Costa ainda duvidava, depois do que aconteceu ontem já pode avançar com a demissão do Cabrita, sem ficar com problemas de consciência.

E quanto ao facto do Sporting se ter sagrado campeão, 19 anos depois, a 2 dias de se comemorar a aparição da Senhora de Fátima, só pode ter sido milagre…

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Cuidado com a carteira! Vem aí o padre Teixeira!

Esta semana, o padre António Teixeira foi condenado a uma pena suspensa de quatro anos e meio de prisão.

E que pecados cometeu o padre Teixeira para merecer tal condenação?

Coisa pouca.

O padre foi condenado por ter desviado arte sacra e esmolas da paróquia do Santo Condestável, para comprar carros e custear outras despesas pessoais.

Condenação injusta, claro.

Pois se o padre só auferia 820 euros por mês, como podia ele fazer face í s despesas correntes, nomeadamente, os veículos de que necessitava para se deslocar.

Ao longo de seis anos, o padre Teixeira comprou dezanove carros, entre os quais, um Mercedes de 36 mil euros.

Para além de desviar as esmolas que os crentes deixavam naquela igreja de Campo de Ourique, também vendeu a antiquários um cálice cerimonial adornado com safiras, rubis e esmeraldas e várias imagens do século 17, mobiliário diverso e objectos em prata e marfim, como crucifixos e custódias.

E porque digo que a condenação foi injusta?

Por várias razões: por um lado, o padre estava a aliviar a igreja de todas aquelas riquezas, para que ela ficasse mais pobre, portanto, mais perto de Jesus; por outro, o padre estava a tentar comprovar se é mais fácil um camelo passar por um buraco de agulha, do que um rico entrar nos reinos dos céus ““ e pimba, leva com quatro anos de prisão! Que injustiça!

Barreto – ou como voar da Esquerda para a Direita em 60 anos

António “…Pingo Doce” Barreto é um personagem curioso. Apesar de já ter defendido o que agora ataca e atacado o que agora defende, continua a ser ouvido e entrevistado e a publicar uma crónica todas as semanas.

Nascido em 1942, Barreto foi militante do Partido Comunista entre 1963 e 1970, isto é, entre os 21 e os 28 anos ““ coisas da malta nova.

Em dezembro de 1974, aderiu ao Partido Socialista e, no ano seguinte, foi eleito deputado pelo PS. No primeiro governo constitucional, liderado por Mário Soares, foi ministro do Comércio e Turismo e, depois, ministro da Agricultura e Pescas, tendo sido o responsável pela famosa Lei Barreto, que redefinia a Reforma Agrária.

Tinha, então, 32-33 anos.

Em 1978, com 36 anos, afastou-se do PS e aproximou-se da Aliança Democrática de Sá Carneiro.

Mas regressou ao PS entre 1987 e 1991, tendo sido, novamente, eleito deputado por aquele partido.

Por volta dos 50 anos, abandonou definitivamente o Partido Socialista e foi-se endireitando cada vez mais.

Hoje, com quase 80 anos, Barreto deu uma entrevista ao jornal Nascer do Sol.

São 3 ou 4 páginas de perguntas e respostas e Barreto diz coisas como estas:

– “…A justiça do antigo regime era mais séria do que a de agora”, como se comprova pelos Tribunais Plenários.

– “…A requisição civil em Odemira é um acto de terrorismo político” ““ Osama Bin Laden não diria melhor…

– “…Vamos ter um problema de cor de pele por muitos anos” ““ gostava de saber onde é que o Tó Barreto se bronzeia…

– “…A violência dos EUA sobre brancos é aceitável, a violência sobre negros passou a ser de bradar aos céus” ““ quer dizer que, antes, era aceitável também?… Aos 20 comunista, aos 30, socialista, aos 40, social-democrata, aos 60, conservador-liberal. Agora, que se aproxima dos 80, será que Barreto vai aderir ao Ch#ga?

“Nomadland”, de Chloe Zhao (2020)

A localidade de Empire, no Nevada, existia graças í  mina de gipsita (gesso) e í  empresa que procedia í  sua extracção. Todas as casas pertenciam í  empresa e Empire chegou a ter 750 habitantes, uma piscina, escola, e até aeroporto. A partir de 2008, com a crise económica, a construção civil deixou de precisar de tanto pladur e a empresa foi í  falência; a maior parte dos empregados e respectivas famílias abandonou a cidade, que se transformou numa cidade-fantasma em 2011.

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Francis McDormand interpreta o papel de Fern, a viúva de um trabalhador da mina que, depois da morte do marido e da falência da empresa, decide meter-se na sua carrinha e partir, tonando-se uma nómada ““ como ela diz, não é uma “…homeless”, é uma “…houseless”.Ao longo de quase duas horas vamos acompanhando Fern e conhecendo alguns dos nómadas que vivem em caravanas e carrinhas, de cidade em cidade, aproveitando trabalhos sazonais. Fern trabalha na Amazon, na altura do Natal, quando as encomendas aumentam, mas também num parque de caravanas nas badlands, num restaurante de fast food, ou na apanha da beterraba, no Nebraska.É um filme comovente e profundo e as pequenas conversas que Fern vai tendo com alguns nómadas (que não são actores), falam-nos da vida, da solidão, da morte, das coisas boas da vida, da liberdade, da memória.Gostei da fotografia e da música e a interpretação de Frances McDormand é excelente.Um filme elegante e maduro da realizadora chinesa Chloe Zhao, que só tem 29 anos.

“O Irmão Alemão”, de Chico Buarque (2014)

Aos 22 anos, Chico Buarque descobriu que tinha uma meio-irmão nascido na Alemanha. O seu pai, Sérgio Buarque de Holanda, vivera naquele país entre 1929 e 1930 e aí tivera um filho com uma alemã, filho esse que terá, depois, sido entregue í  Segurança Social e, mais tarde, adoptado.

Mas isso, Chico Buarque só descobriria quase 50 anos depois, quando decidiu procurar o rasto de Sérgio Ernst.

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E esta história verdadeira serviu de inspiração para este livro, onde um Francisco de Hollander procura obsessivamente o seu irmão alemão, ao longo de décadas, aproveitando para nos contar um pouco da história recente do Brasil, nomeadamente os tempos da ditadura.

O narrador está permanentemente a imaginar cenários, caso encontrasse o irmão e ele fosse este ou aquele, tivesse tido esta ou aquela profissão, fosse ou não judeu, tivesse ou não sido detido nos campos de concentração nazi, ou, pelo contrário, tivesse ele próprio sido um nazi.

De presunção em presunção, os anos vão passando, os pais de Francisco de Hollander morrem e ele acaba por viajar até í  Alemanha, onde, de pista em pista, acaba por descobrir, finalmente, o que aconteceu ao seu irmão alemão. Muito bom!

25 de Abril sempre!

Quando, com 20 anos, comecei a coleccionar, num dossier, recortes do jornal República, não sabia quase nada.

Não sabia, por exemplo, que em breve começaria a colaborar com o jornal, com textos mais ou menos humorísticos, influenciados pelo Mário-Henrique Leiria.

Não sabia, também, que, graças a esses textos, conheceria o ílvaro Guerra e que, depois do 25 de Abril, ele me convidaria para uma experiência como jornalista na RTP, que durou até acabar o curso de Medicina, entre junho de 1974 e dezembro de 1977.

Não sabia, nem poderia imaginar, que, 47 anos depois, ao ler alguns desses recortes ficaria incrédulo: mas que país era aquele?

Ao folhear o grosso dossier repleto de recortes, todos de 1973, tenho dificuldade em escolher um que seja representativo da tristeza de país em que vivíamos.

Podia escolher aquele em que o presidente Américo Tomaz dizia que «é necessário evitar, a todo o custo, o caos em que a civilização ocidental se está precipitando. (…) Temos de nos manter permanentemente em estado de alerta e prontos a imitar Cristo”.

Ou ainda aqueloutro, em que o chefe do governo, Marcello Caetano dizia «pus um travão ao processo de liberalização em Portugal apenas porque o futuro está seriamente ameaçado pela difusão de ideias anarquistas e socialistas».

Acabei por escolher este recorte, também de agosto de 1973. Podemos ler afirmações de Natália Tomaz, esposa do presidente, do próprio presidente e ainda do inefável governador civil de Lisboa, Afonso Marchueta. Poucos se lembram desta gente, nomeadamente, muitos dos democratas formados í  pressa que andam por aí a dar vivas í  liberdade, mas, no fundo, desejam ardentemente que se estabeleçam limites para essa mesma liberdade.

Hoje mesmo, nas declarações de alguns dirigentes partidários, no final das comemorações do 47º aniversário do 25, ouvi palavras semelhantes. Aquele Francisquinho do CDS, por exemplo, afirmou que quer libertar Portugal do jugo socialista, coitado…

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Fascismo, nunca mais!

“Não Mais Amores”, de Javier Marias (2012)

Javier Marias (Madrid, 1951) reuniu neste volume todos os seus contos.

Diz o próprio que “…o que aqui se oferece acabe por ser a totalidade aceite e aceitável da minha contribuição para o género. Tenho poucas dúvidas de que, a ser assim, o dito género não perderá grande coisa”.

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O autor sofrerá de falsa modéstia.

Para ser sincero, os contos de Javier Marias não me entusiasmaram.

Um tradutor metido em sarilhos durante a rodagem de um filme com Elvis Presley podia ser um bom princípio para um conto. Uma mulher que lê para um fantasma, também. Uma aspirante a actriz porno í  espera de conhecer o seu companheiro no filme, idem. Tudo boas ideias, mas que, depois, se perdem, penso eu, num emaranhado de frases complexas.