Em silêncio, pela calada
Assim avança o covid
Faz-me lembrar, sem dúvida
Os velhos tempos da Pide
Sentíamo-nos presos
Como ovelhas no redil
O que vale é que amanhã
É 25 de abril!
aqui desde 1999
Em silêncio, pela calada
Assim avança o covid
Faz-me lembrar, sem dúvida
Os velhos tempos da Pide
Sentíamo-nos presos
Como ovelhas no redil
O que vale é que amanhã
É 25 de abril!
Com esta sequela de A História de Uma Serva, Margaret Atwood ganhou o Booker Prize de 2019.
Quem está í espera de um final decisivo para a distopia inventada pela escritora canadiana, vai ficar desiludido, porque ela se limita a deixar pistas, embora muito fortes, para que nós imaginemos o que se passou, depois da fuga da República de Gilead, de Nicole e de Agnes, e do diário confessional da Tia Lydia.
Atwood construiu este livro com três narradoras: a Tia Lydia, uma das fundadoras de Gilead e que decide escrever uma espécie de diário, em que confessa o seu plano para destruir o que ajudou a criar, Agnes, uma jovem que consegue evitar o seu casamento com o Comandante Judd, tornando-se Tia, e Nicole, a filha de um serva fugitiva, que vive no Canadá, mas que é introduzida em Gilead pelo movimento Mayday, para tentar corroê-lo por dentro.
O livro está escrito para quem leu A História de Uma Serva e só faz sentido, penso eu, se se ler, primeiro aquele. Muitas das particularidades da República de Gilead só se percebem completamente, se se tiver lido o primeiro livro.
Margaret Atwood escreve bem, está í vontade no que respeita a criar suspense e, por isso, o livro prende-nos, do princípio ao fim, mas já não tem aquele sabor de novidade que tinha o seu antecessor.
Gostaria que a autora escrevesse uma prequela. Fiquei sem saber como nasceu Gilead e o que foi a guerra de Manhattan.
No domingo de Páscoa, algumas almas caridosas decidiram levar o Senhor a beijar aos velhinhos dos lares.
Num lar em Vila Verde, o senhor prior trouxe o crucifixo que, nesta época do ano, toma o nome específico de compasso e uma das empregadas do lar, devidamente mascarada, levou-o a cada um dos velhinhos, para que o beijassem. Entre cada beijoca, a empregada limpava a saliva do velhinho do corpo do Senhor, com um paninho, sempre o mesmo.
Enquanto a empregada ia oferecendo o crucifixo a cada velhinho, o padre ia cantando Aleluia, Aleluia, mas não era a do Leonard Cohen, e o padre estava desafinado. Via-se que alguns dos idosos beijavam o Senhor com alguma displicência, fruto, talvez, de perturbações neurológicas próprias da idade avançada.
Alguém filmou esta cena pungente e colocou-a no Facebook, para que todos pudessem ver como se celebra a Páscoa em Vila Verde, em tempos de pandemia.
No vídeo, vê-se a empregada a dar o crucifixo a beijar a um velhinho muito trí´pego que, coitadinho, lambuza o corpo do Senhor todo; a empregada limpa-o com o paninho e oferece o crucifixo ao velhinho seguinte, que recusa beijar o Senhor. Algum ateu, certamente. Como podem aceitar ateus destes em lares tão pios?
Há outro vídeo que circula por aí, feito numa rua de Barcelos e que mostra uma senhora, também muito pia, segurando um crucifixo XL. Os crentes, guardando a devida distância entre si, por causa do coronavírus, atravessam a estrada, í vez, para beijar o Senhor.
Finalmente, num outro lar, em Melgaço, a própria directora do lar decidiu levar o Senhor a beijar aos velhinhos residentes. Entre cada ósculo, borrifava o corpo do Senhor com um desinfectante em spray. Esta piedosa senhora foi mais longe, visitando também alguns velhinhos que ainda vivem nas respectivas residências. Anunciava a sua chegada com o tilintar de um sininho, oferecia uma máscara ao idoso e ele beijava o Senhor através da máscara.
A razão deste pormenor, escapou-me. Por que raio é que os velhotes internados não tiveram direito a uma máscara? A culpa é do Governo, que não fornece máscaras em quantidade suficiente.
A directora deste lar de Melgaço explicou, no Facebook, que os velhinhos estavam há muito tempo sem visitas, muito tristes e desanimados e, assim, levando-lhes o Senhor a beijar, eles ficaram mais felizes.
E mais infectados, acrescento eu ““ mas isto sou eu, um ateu empedernido, que nunca beijou o Senhor…
Perante estes casos, percebe-se melhor por que razão há muitos mais casos de coronavírus do Norte do que no resto do país.
Por isso, penso que as autoridades de Saúde deveriam divulgar o seguinte aviso:
A DGS ACONSELHA:
FAí‡A O TESTE DO COVID 19 ANTES DE BEIJAR O SENHOR
Jokha Alharti nasceu em Omã em 1978 e venceu o Man Booker International Prize de 2019 com este romance curioso, o que não deixa de ser surpreendente, dado tratar-se de uma mulher, nascida num país muçulmano.
O livro conta-nos a história de diversas personagens relacionadas entre si, todas vivendo em Al-Awafi, uma localidade perto de Mascate, a capital. Está dividido em pequenos capítulos, cada um deles dedicado a uma dessas personagens.
O mais interessante do livro nem são as pequenas histórias de cada uma das personagens, mas sim os usos e costumes de Omã que a autora vai revelando ao longo da narrativa. As crendices ligadas ao parto, í saúde, ao casamento, as orações e as rezas a seres fantásticos, como fugir í s suas sentenças, e ainda adoração pelos grandes poetas árabes.
As figuras centrais são três irmãs: Mayya, Asma e Khawla.
Mayya casa com Abdallah, por decisão e contrato entre as duas famílias. Asma casa com Khalid com o único objectivo de ter filhos. Kawla recusa-se a casar por contrato e espera pelo regresso de Nasir, que emigrou para o Canadá.
No entanto, outras personagens são importantes no desenrolar da narrativa, como é o caso da escrava Zarifa e de Qamar, uma beduína muito bela, que se torna amante do pai das três irmãs.
Muito curioso.
O novo coronavírus introduziu na minha vida, outros rituais – e como eu gosto de rituais!
O principal consiste na lavagem das mãos.
Lavar as mãos dezenas de vezes por dia é o sonho de qualquer obsessivo-compulsivo e essa malta deve estar muito feliz com este conselho da OMS. batem no peito (com luvas) e dizem vêem como eu tinha razão?!…
Tenho seguido esse conselho e lavo as mãos tantas vezes que já as tenho mais brancas que o resto do corpo. No outro dia, no duche, até pensei que eram as mãos de outra pessoa que me estavam a ensaboar certas partes do corpo, o que até é uma ideia interessante.
Em tempos, tive um doente que me dizia que podia não lavar os dentes, mas que lavava sempre o rabo depois de evacuar.
Ora aqui está uma recomendação que a DGS devia fazer a todos os portugueses: não se fiquem pelas mãos – lavem também o rabo. O Covid ataca por onde menos se espera!
Dizem as autoridades de saúde que devemos lavar as mãos durante o tempo que demora a cantar o Parabéns a Você. Confesso que já estava farto dessa canção. Comecei a variar. Troquei o Parabéns pelo All Together Now, dos Beatles, que demora 60 segundos a cantar. Fartei-me depressa e, com a minha mania de ser intelectual, fui mudando para temas mais eruditos. Agora lavo as mãos enquanto trauteio o último andamento da Nona do Beethoven. Chego ao fim com as mãos esfoladas.
Mas limpas!
Outro ritual consiste em descalçar os sapatos antes de entrar em casa.
Como uso ténis, a coisa não tem sido muito complicada.
No entanto, o facto de ser já quase septuagenário e de não frequentar as aulas do meu PT há quase um mês, faz com que me desequilibre quando tento descalçar os ténis para entrar em casa. No outro dia, ia caindo pelas escadas abaixo…
Estou a pensar a passar a andar descalço.
É capaz de ser mais fácil lavar os pés do que descalçar os ténis sempre que chego a casa.
Pois, já sei o que vão dizer: que devia ficar em casa. E fico, a maior parte do tempo.
Mas preciso de ir comprar pão e fruta e legumes.
Quando vou, levo sempre um papel de cozinha, para carregar nos botões do elevador. O problema é que também uso papel de cozinha para me assoar e, por vezes, confundo os dois papéis e, no outro dia, tive que ir lavar os botões do elevador, que estavam cheios de ranho meu.
Quando vou í mercearia, espero na fila, afastado do outro cliente cerca de metro e meio.
Por vezes, guardo uma distância maior, como naquele dia em que estive atrás de uma senhora que devia estar muito doente porque tinha a máscara no pescoço. Ora se a senhora já tinha a tiróide infectada, devia estar mesmo doente!…
Por outro lado, acabo por admirar aquela malta que fuma de luvas.
Eu já fui fumador e sei o que é um tipo estar por tudo: que se lixe! Se vou morrer de cancro do pulmão, por que não de Covid 19? E então, é mexer em todo o lado com as luvas e, depois, levar o cigarro í boca. Morre-se mais depressa, é escusado estar í espera do cancro.
E pronto, se me lembrar de mais rituais, eu digo.
Até lá, fiquem em casa e lavem as mãos!
Nascida em Buenos Aires, em 1978, Samanta Schweblin é considerada uma das melhores escritoras em língua espanhola, das gerações mais jovens e dizem ser seguidora do realismo mágico de Julio Cortazar.
Não há dúvida que Samanta S. escreve muito bem e que as suas histórias têm uma mistura de realismo com alguma loucura.
Na melhor destas sete histórias, Lola, uma velha que quer morrer, mas não consegue, vai juntando roupas e objectos pessoais em caixas, que guarda na garagem, ao mesmo tempo que alimenta uma guerra surda contra o marido e desconfia da nova vizinha do lado e do seu filho.
Noutra história, um recém-divorciado visita os dois filhos, que vivem com a ex-mulher e o seu novo companheiro; leva, nessa visita, os seus pais que, por razões que desconhecemos, andam aos pulos no quintal, todos nus.
Na última história, a narradora é uma criança que, nesse dia, faz 8 anos; a sua irmã, de 3 anos, bebe lixívia e os pais, aflitos, pegam nas duas filhas, metem-se no carro e seguem para o hospital. Como o trânsito está entupido, o pai pede í mais velha que tire as cuecas, que são brancas, e ele vai acenando com elas, para assinalar a emergência.
Histórias curiosas e uma escrita que nos prende.
Chegou o momento de falar verdade sobre o coronavírus.
Em primeiro lugar, dizer que é essencial que, antes de escrevermos ou dizermos a palavra “coronavírus”, devemos sempre precedê-la do adjectivo “novo”. Não será correcto dizer, por exemplo, o “horrível coronavírus”, o “destrutivo coronavírus”, nem mesmo “a merda do coronavírus” – mas sempre, o “novo coronavírus”.
Em segundo lugar, dizer que os técnicos de Saúde Pública, sobretudo os portugueses, há muito tempo que nos escondem a verdade.
Como é possível que ainda haja pessoas que acreditam no que os médicos e epidemiologistas dizem, quando temos tantas provas expostas por milhares de utilizadores do Facebook e do Whatsapp, que mostram exactamente o contrário?
Dizem os especialistas, por exemplo, que o vírus foi transmitido por um morcego a um pangolim que, vendido para consumo num mercado de Wuhan, na China, desencadeou a epidemia.
Claro que esta versão é tão incrível que vê-se mesmo que foi inventada pelas autoridades chinesas para esconder a verdade.
E a verdade é que este novo coronavírus foi desenvolvido em laboratório para ser lançado em território norte-americano, para lixar a economia yankee, mas um tubo de ensaio cheio de vírus partiu-se e os bichos espalharam-se pela cidade de Wuhan.
Como já se percebeu, graças a dezenas de posts nas redes sociais, os chineses fizeram de conta que nada daquilo tinha acontecido e, quando decidiram actuar, já o novo coronavírus (notem que o adjectivo “novo” nunca falha) estava í solta.
E quanto a Portugal?
É tudo pior, como é evidente.
O SNS não está preparado, não há pessoal médico e de enfermagem, máscaras, nem vê-las, e, apesar da ministra dizer que já encomendaram um milhão delas, sabemos que é tudo mentira. Toda a gente viu no facebook que só encomendaram 250 mil e que são feitas na China, portanto, já devem vir contaminadas de origem.
E o número de infectados que eles dizem, todos sabemos que não corresponde í verdade. São muitos mais. Os hospitais estão um caos, como comprovam diversas mensagens de voz divulgadas pelo insuspeito Whatsapp. Há até algumas de médicos. Há uma mensagem de uma médica que, coitadinha, quase que chora, a dizer que o hospital onde ela trabalha está praticamente juncado de mortos.
Esta é outra mentira propalada pelas fontes oficiais, a de que só estão nove doentes em cuidados intensivos.
Como é possível afirmar isto quando vemos, dia após dia, no Facebook e não só, que são centenas. Ainda ontem, numa loja perto da minha casa, uma senhora que tinha ar de ser entendida, me assegurou que já tinham morridos várias pessoas com o novo coronavírus – eles é que estão a esconder isto de todos nós…
E é esta a verdade sobre a epidemia do novo coronavírus.
Tudo o resto é fantasia…
Montaram uma enorme tenda no Terreiro das Missas, mesmo em frente ao Palácio de Belém, mas o ilustre inquilino não está lá. Marcelo decidiu colocar-se em quarentena voluntária na sua casa; há alguns dias, recebeu, em Belém, alunos de algumas turmas de uma escola de Felgueiras e, dias depois, soube-se que um desses alunos testou positivo para o novo coronavírus.
Como bom hipocondríaco, Marcelo recolheu-se a casa, até porque, tendo já feito um cateterismo, é um doente de risco.
Voltando í Exposição… não é uma coisa absolutamente espectacular e imperdível, mas não há dúvida que Meet Vincent Van Gogh é uma maneira inovadora de tomar contacto com a vida e obra do pintor.
Ao longo de várias salas, vamos percorrendo alguns locais por onde Van Gogh passou e viveu, um café, o quarto, o hospital psiquiátrico.
Podemos sentar-nos e tentar desenhar, como ele desenhou, sentir as camadas de tinta dos seus óleos, em reproduções 3D, entrar no seu quarto e tirar uma foto ““ aliás, tirar muitas fotos. Diversos écrans permitem-nos estudar algumas das suas pinturas e as técnicas que ele usou. As cartas que Van Gogh trocou com o irmão Theodor servem de pano de fundo í sua biografia
No final, um painel junta diversas homenagens ao pintor e um outro, muito maior, junta reproduções de todas as suas obras.
Vale a pena visitar.
Um livrinho que se lê em duas penadas.
Está escrito como um diário e em tom coloquial, usando, muitas vezes, palavras e expressões especificamente brasileiras que quase precisariam de tradução. O que vale é que o famigerado Acordo Ortográfico proporcionou uma unidade da língua portuguesa…
O protagonista da história é Duarte, um escritor de 66 anos que já teve os seus dias, tendo publicado diversos romances com muito êxito.
Agora, está encravado na escrita de um romance e não consegue dar-lhe a volta. Entretanto, está falido e, do ponto de vista emocional, saltita entra as duas ex-mulheres e uma holandesa muito mais jovem, namorada de um vigilante de praia.
Com algumas bicadas ao governo de Bolsonaro, sem nunca o nomear, e com passagens em que se mistura o sonho com a realidade, é um livro que se lê com agrado, mas que não deixa muitas saudades.
(Edição Companhia das Letras)
Se eu quiser abrir um consultório médico, não me basta ter o curso de Medicina.
Tenho que encontrar um espaço que preencha todas as condições que a lei exige, nomeadamente, lavatório em todos os gabinetes, saída de emergência, acesso a pessoas com deficiência. Além disso, tenho que me inscrever na Entidade Reguladora da Saúde.
A coisa dá tanto trabalho que mais vale, por exemplo, começar a ler auras.
Li na Visão desta semana que abriu, ali para os lados do Estoril, um novo estúdio de ioga.
Uma das suas proprietárias disse í revista que “também temos terapias holísticas, medicina chinesa, life coach, fazemos leitura da aura, equilíbrio de chakras e meditação com óleos essenciais, como o de hortelã-pimenta para despertar e o de lavanda para relaxar”.
Acrescente-se que esta menina estava a estudar Gestão em Madrid mas “congelei a matrícula, não gostava do curso”. Então, durante umas férias, iniciou-se no ioga através do You Tube.
Ora aí está o que é!
Andei eu a queimar as pestanas durante 6 anos, mais os dois de internato e mais a especialização, quando o YouTube me daria a capacidade para equilibrar chakras ou meditar com hortelã-pimenta.
Sou mesmo totó!