Uma triste campanha alegre

É vê-los a percorrer feiras e mercados, a beijar crianças e reformados, a agitar bandeiras e a dizer baboseiras, sempre radiantes, rodeados de apoiantes, dão entrevistas í  televisão, fazem gestos com a mão, o punho fechado ou o vê de vitória, é sempre a mesma história de qualquer campanha eleitoral, etc e tal…

O Rangel faz o seu papel e no Costa desanca, enquanto o Rio tem aquela panca de tocar bateria, quem diria, que um tipo cinzento, de camisa de gola, agride os pratos e bate na tarola?

O Marques do PS, quase ninguém conhece, e para não ter um amóque, leva o Costa a reboque. Não ter lábios não é defeito, mas o homem não tem jeito.

Ao Nuno Melo, ninguém lhe corta o cabelo, e leva sempre pela mão, a sua querida Assunção. Foram apanhar couves í s hortas e pediram ajuda ao Portas.

O Jerónimo tem um heterónimo: chama-se Ferreira, e vai para a Europa contrariado, porque preferia ir para outro lado.

Catarina e Marisa são botões da mesma camisa. Também não gostam da União Europeia, mas Marisa tem uma ideia: vai minar aquilo num instante, com uma proposta fracturante: tornar as drogas legais, do Caramulo aos Urais.

E depois há os outros todos, são Partidos a rodos. Contei dezassete no boletim, mais personagens que num folhetim.

Todos da Europa dizem mal, mas muitos querem ir para lá, afinal!

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Como político, Rio é um baterista sofrível. Falta-lhe ousadia. Como baterista, é um político banal. Falta-lhe ritmo…
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Que lindo repolho! Vê lá se alguma lagarta te salta para o olho!

PS – O PURP é que me deixa abismado. Quer dizer Partido Unido dos Reformados e Pensionistas. Um Partido Unido?… Não é contraditório?… Se está unido, não pode estar partido…

Igreja pouco católica

Primeiro pecado: o Patriarcado tem uma página no Facebook.

Segundo pecado: o Patriarcado publicou um post em que aconselha os católicos a votarem no CDS, no Basta ou no Nós Cidadãos.

Com efeito, o tal post era assim:

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Segundo a infografia, os verdadeiros católicos nunca votariam no PS, no Bloco e no PAN, e poderiam votar no CDS-PP, Basta e Nós Cidadãos.

Por outras palavras – e sejamos claros, porque a religião católica não deixa quaisquer dúvidas – votas no PS, Bloco ou PAN e vais para o inferno; votas no CDS, Basta ou Nós Cidadãos e vais para o céu!

Se votares no PSD, na CDU ou na Aliança, terás que rezar alguns Padres Nossos e umas quantas Avés Marias.

Analisando o diagrama, verificamos que o CDS, o Basta e o Nós Cidadãos, são os únicos partidos que defendem a vida por nascer, recusam a eutanásia, aprovam a liberdade de educação, recusam a ideologia de género, não aceitam as barrigas de aluguer e combatem a prostituição.

Resta saber se também são a favor da pedofilia, para assim poderem apoiar os milhares de eclesiásticos católicos que, por esse mundo fora, abusaram de criancinhas.

Claro que o Patriarcado já retirou o post da sua página do Facebook e já veio dizer que tudo não passou de uma “imprudência”.

Curioso adjectivo escolhido pelo Patriarcado… imprudência é, por exemplo, atravessar a rua fora da passadeira porque podemos ser atropelados – no entanto, fazemo-lo porque queremos passar para o outro lado da rua.

O mesmo se passou com este post. No fundo, o Patriarcado quer que os católicos votem naqueles Partidos – mas foi imprudente divulgar essa vontade…

“Estão a dar telemóveis?” – ridícula campanha eleitoral

Nos anos que se seguiram ao 25 de Abril, as arruadas, os comícios, os desfiles, tudo isso fazia sentido. Estávamos a experimentar a democracia. Depois de quase 50 anos de bico calado, era natural que as massas se quisessem exprimir publicamente, gritando palavras de ordem e agitando bandeiras.

As campanhas eleitorais dos primeiros anos de democracia foram mais uma novidade que o 25 de Abril proporcionou, bem como os tempos de antena e os debates televisivos.

Mas agora, na era dos smartphones, as campanhas eleitorais são cada vez mais ridículas.

A actual campanha para as eleições europeias é bem disso um exemplo. Ver os candidatos a fazer exactamente aquilo que faziam os seus antecessores há 40 anos, visitando os mercados, beijando as peixeiras, empanzinando-se em almoçaradas, descendo a Rua de Santa Catarina ou a Rua do Carmo, com bandeirinhas e cartazes, acompanhados de bombos e cornetas ou de jovens histéricos aos saltos e vivas, tudo isso é ridículo!

Os telejornais mostram imagens das acções de campanha e não posso deixar de pensar que os políticos, cada vez mais desprezados, se dão ainda mais ao desprezo.

O Rangel, com aquela barba mal semeada, o Marques, que nasceu sem lábios, a Marisa, com as suas costas largas, o João Ferreira, de barba aparada, o Melo que não corta o cabelo, já não convencem ninguém.

Mas há agora uns Partidos novos.

São novos, mas usam estratégias velhas.

Vi ontem uma acção de rua de um Partido de um tal Morais, um daqueles que diz que está acima de toda a corrupção do Estado, que se fosse ele, iam todos presos, porque ele é o homem mais honesto ao cimo da Terra. O Partido chama-se Nós Cidadãos. E vi meia dúzia de apaniguados, brandindo bandeiras amarelas, com a palavra “Ní“S”, em letras garrafais, e a palavra “cidadãos”, em caixa mais baixa.

O grupo passeava-se pelas ruas do Porto e um grupo de idosas acercou-se da comitiva. Uma delas perguntou: “estão a dar telemóveis?”, pensando que se tratava de uma acção de propaganda da operadora de telecomunicações NOS.

Dizia outra velhinha: “Ele quer ir para a NOS? Eu dou-lhe o meu voto!”

Ditosa pátria que tais filhos tem…

Títulos de jornais

Devo ser dos poucos Homo Sapiens que ainda lê jornais todos os dias. Falo de jornais em papel, claro.

Uma coisa que me irrita solenemente é aquilo que considero ser a preguiça jornalística.

Deve ser essa preguiça que leva a títulos destes (no Público de hoje).

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Ora, se todos os dias são detidas cinco pessoas, quem será que as liberta para que possam ser presas, novamente, no dia seguinte?

Este erro semântico é sistemático.

Bastaria que o jornalista titulasse assim: “Em média, cinco pessoas por dia são detidas…”

Ou ainda: “Violência doméstica: cinco detidos por dia, em média”.

Outro tipo de título que me irrita é o que encerra erros ortográficos, como este, publicado no Sol de sábado passado.

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O Matteo Salvini, além de ser um perigoso direitista, “custumava”?

Do verbo “custumar”?

Que porra de verbo será este?

Como é possível, com os correctores informáticos, continuar a cometer erros destes?

Será que o corrector sublinhou a palavra “custumava” e o Sr. João Campos Rodrigues achou que o corrector estava enganado ou, por outro lado, tão preguiçoso como o colega do Público, nem sequer reviu o texto?

Enfim, eu é que sou chato…

Militares í  bulha!

Na semana em que todas as notícias se concentraram na ameaça de demissão do primeiro-ministro devido í  chamada “coligação negativa”, entre a Direita (PSD e CDS) e a Esquerda (PCP e Bloco), o pasquim Sol, escolheu outro tema para primeira página.

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Estava o Mário Nogueira a choramingar pelo facto dos partidos da Direita lhe terem tirado o tapete que lhe tinham estendido três dias antes, estava a Sãozinha a tentar justificar a cambalhota que deu e o Rio a fingir que não tinha dado – enfim, estava Marcelo caladinho, o que é algo de inédito (pois se ele até aparece junto do eléctrico que capotou, no próprio dia em que isso acontece, e nada diz no dia em que o Costa ameaça demitir-se!) – em resumo, estava o país suspenso deste magno problema e o Sol preocupava-se com este soco intermilitar.

Não li a notícia toda, nem sei quem são os protagonistas – e não quero saber.

No entanto, o título permite-me diversas conclusões e outras tantas dúvidas.

Se fosse ao contrário? Se fosse um general a dar um soco num tenente-coronel, seria aceitável?

E se o soco fosse noutra região anatómica, sem ser a cara?

O General Chaves acusa o tenente-coronel Ferreira de lhe dar um soco assim que ele abriu o vidro do carro. Será que, se Ferreira tivesse, primeiro, feito continência, e só depois desferisse o soco, tal seria mais correcto, do ponto de vista da condição militar?

E quanto í  testemunha ocular? Quem seria? Disse essa testemunha que encontrara o general “a sangrar como um touro” – seria a testemunha um aficionado tauromáquico?

Se o general estivesse a sangrar como um bezerro, o crime seria menos grave?

Poderíamos desculpar o tenente-coronel Ferreira se o general Chaves estivesse apenas a sangrar como um cordeirinho?

Isto sim, são assuntos importantes!

Mais um emigrante que regressa

A política governamental de apoio ao regresso dos portugueses que foram obrigados a emigrar durante a intervenção da troika em Portugal, continua a dar os seus frutos.

Para além dos milhares de portugueses que regressaram, beneficiando, assim, de um desconto simpático no IRS, coube agora a vez ao urso pardo, que emigrara há mais de 170 anos.

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O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas confirmou a presença de um urso pardo, instalado no Parque Natural de Montesinho, mas adiantou que o animal poderá regressar a Espanha em breve.

Esperemos que Mário Centeno, deixe de ser urso, e isente o bicho do pagamento total do IRS.

Pode ser que, assim, o urso fique por cá…

O Brasil militariza-se

Em breve, todos os brasileiros usarão uniforme.

Bolsonaro está a militarizar o Brasil.

Em algumas escolas, os miúdos são obrigados a fazerem formatura logo pela manhã, sob o comando de um militar. Depois, cantam o hino nacional.

Antes, í  entrada da escola, rapazes e raparigas (perdão, meninas – raparigas, no Brasil, é outra categoria…), são inspeccionados por militares: eles não podem trazer brincos ou outros adornos considerados femininos e elas terão que usar saias decentes e nada de maquilhagem.

Durante os intervalos, militares armados patrulham os recreios

E o mais engraçado, é que alguns pais acham a ideia muito boa. Vamos a ver se continuam a achar graça quando um dos seus filhos aparecer em casa, de kalachnikov em punho…

Para além desta militarização das escolas, Bolsonaro também liberalizou o uso de armas.

Segundo o Público, o presidente do Brasil vai “alargar o número de pessoas com direito a ter armas de fogo. í€ luz da lei, políticos, advogados, jornalistas, proprietários rurais, motoristas de pesados, entre outros”, passam a poder possuir uma arma de fogo.

Podemos imaginar, daqui a uns tempos, advogados, em pleno tribunal, fazendo as alegações finais, de coldre e revólver í  cintura; ou jornalistas a entrevistarem políticos, de pistola apontada, ao que os oponentes poderão responder, empunhando caçadeiras de canos serrados. E os motoristas de pesados escusam de fazer greve – basta apontarem armas ao patronato, exigindo aumento de salário.

Bolsonaro devia ter alargado ainda mais o decreto, permitindo a ex-presidentes do Brasil o uso e porte de arma.

A esta hora, Lula e Temer já não estariam presos.

Já não se fazem comunistas como antigamente

Mário Nogueira, líder da Fenprof, sindicato-mor dos professores, afirmou que considera a hipótese de se afastar do seu Partido de sempre, o Partido Comunista.

Esta decisão de ruptura surge depois de Jerónimo de Sousa, líder do PCP, ter ignorado os apelos de Nogueira, ao afirmar que o Partido iria votar contra as propostas da Direita.

Confusos?

Eu explico.

Há anos (daqui a pouco, há 9 anos, 4 meses de 2 dias), que andamos a discutir a possibilidade de os professores reaverem os anos em que as suas carreiras estiveram congeladas (que, como todos sabem, é desde o Cretácio Superior…).

Ora, acontece que, caso o Governo decidisse conceder aos professores todos os anos que eles estiveram congelados, logo os polícias, magistrados, auxiliares de acção educativa, jardineiros e afins, exigiriam o mesmo.

Eu próprio, que não passo de um reformado e pensionista (nunca percebi a diferença entre uma coisa e outra…), exigiria, também, que me descongelassem o último escalão da minha carreira. É que, quando me reformei (ou aposentei – qual será a diferença?…), estava colocado no penúltimo escalão da minha carreira há anos. Claro que, para subir para o último escalão, teria que apresentar um trabalho e ser avaliado por uma comissão; não seria uma subida automática, mas, mesmo assim, estou convencido de que conseguiria esse desiderato e, portanto, poderia ter-me aposentado (ou reformado…), com o escalão máximo da minha carreira.

Mas, enfim, o tempo não volta para trás, o que já foi não volta a ser e o passado fica lá atrás.

Não para o Mário Nogueira, que insiste, há anos, na recuperação dos tais nove anos e etc e tal.

Pois na quinta-feira, passou-se aquela cena curiosa, que consistiu numa coligação negativa, formada pelo PCP, Bloco, Verdes, PSD e CDS: todos votando a favor do descongelamento dos tais nove anos e tal, sem contrapartidas.

Mário Nogueira exultou, os líderes de todos os Partidos, menos o do Governo, também, e António Costa resolveu esticar a corda, ameaçando demitir-se.

O PCP e o Bloco mantiveram-se na deles, já que sempre defenderam o descongelamento dos nove anos e tal. Os deputados do CDS e do PSD, presentes na Comissão de Educação, aplaudiram; estavam a lixar o Costa, e isso era uma vitória.

Assunção Cristas estava contentíssima e Rui Rio desapareceu.

Claro que, a pouco e pouco, tanto o CDS como o PSD deram o dito por não dito, embora dizendo que nunca tinham dito o que tinham, de facto, dito.

Afinal, só aprovariam o descongelamento dos nove anos e tal se houvesse dinheiro, e se não houvesse dívida e se não chovesse…

O PCP e o Bloco, apressaram-se a dizer que, no fundo, até votariam a favor, mas como o CDS e o PSD punham como condição que não chovesse, não podiam ficar reféns da Direita e da Meteorologia…

Foi quando Nogueira vacilou e disse que teria que repensar o seu lugar no Partido Comunista.

Claro que os cerca de 100 mil professores ficaram aterrorizados. Então o seu líder comunista estava a hesitar?

A fé de um verdadeiro comunista é inabalável!

Eu sou do tempo em que os comunistas morriam pela sua causa.

Afinal, Nogueira é um fraquinho…

Crise Governamental

A Dona Maria Celeste Lacerda caiu naquela Comissão de para-quedas; uma colega que fazia parte da Comissão há quase quatro anos estava grávida em fim de tempo e pediu-lhe para que ela a substituísse.

Um pouco atarantada, assistiu í s discussões entre os deputados dos vários partidos e, entusiasmada, começou a dar as suas opiniões: era para encostar o Partido do Governo í  parede? Nesse caso, valia a pena aquela aliança estranha entre os da Direita e os da Esquerda.

A Dona Maria Celeste Lacerda e as suas colegas do Partido da Direita, bem como os elementos do Partido de Direita-Mas-Menos estavam esfusiantes ““ não era habitual estarem de acordo com os deputados do Partido da Esquerda, muito menos com os do Partido Ainda-Mais-de-Esquerda ““ e esse facto deixava-os excitados, como, quando adolescentes, experimentavam algo de proibido.

Depois de algumas horas de discussão, todos chegaram a acordo e aprovaram um decreto-lei. Só o Partido do Governo votou contra.

No final da reunião, os deputados dos partidos da Direita e da Esquerda estavam tão contentes que, por pouco, não foram festejar para o mesmo restaurante.

A Dona Maria Celeste Lacerda regressou a casa, onde a criada já tinha o jantar na mesa e telefonou í  sua líder, que lhe deu os parabéns ““ tinham conseguido encostar o primeiro-ministro í  parede.

O mesmo se passou com Germano Gonçalves, líder do Partido de Direita-Mas-Menos. Também ele estava contente e também ele telefonou para o seu líder, dando-lhe conta dos resultados da reunião da Comissão. Escutou elogios, agradeceu e retribuiu ““ a estratégia do Partido estava a resultar! O facto de se terem unido aos Partidos de Esquerda não era novo ““ já o tinham feito no passado e, como toda a gente sabe, em política, vale tudo.

Nessa mesma noite, no entanto, o primeiro-ministro apareceu nas televisões ameaçando demitir-se se o decreto-lei cozinhado pelos Partidos de Direita e Esquerda, fosse mesmo aprovado.

A Dona Maria Celeste Lacerda, estava a comer o pudim flan quando viu, na televisão, o primeiro ministro a ameaçar.

Germano Gonçalves estava a fazer Sudokus, sentado na sanita, quando ouviu, no rádio da casa de banho, a declaração do primeiro-ministro. Gonçalves detestava as casas de banho do Parlamento e só em casa conseguia aliviar-se.

Lacerda e Gonçalves tentaram contactar com os respectivos líderes, mas as chamadas foram para o voice-mail.

Conceição Crostas estava em Paris, com o telemóvel desligado, porque decidira jantar num Hipopotamus, perto da í“pera e não queria ser incomodada. Quanto a Rui Frio, o líder do Partido de Direita-Mas-Menos, estava a chatear-se em casa, sozinho, treinando “…ares de estadista”.

No dia seguinte, quando percebeu que a coisa era grave, Conceição Crostas invectivou o primeiro-ministro, atacou o Partido do Governo e corou, enquanto Rui Frio continuava a treinar poses de Estado, só reagindo dois dias depois, numa conferência de imprensa em que surgiu com ar grave, apesar de continuar com o cabelo a cobrir o colarinho. Esquecera-se de ir ao barbeiro…

No final, tanto o Partido de Direita como o Partido de Direita-Mas-Menos acabaram por votar contra o decreto-lei que tinham redigido juntamente com os Partidos de Esquerda e o primeiro-ministro não se demitiu.

No dia seguinte, Rebelo Primeiro, o Comentador, recomeçou a falar, para descanso do povo…