G 6 + 1
Sou pago para não trabalhar!
Finalmente!
Desde 1974 que tive que trabalhar para me pagarem.
Agora, com a aposentação, cumpro o meu sonho de ser pago para não trabalhar.
Nos últimos tempos, aproveitei para anotar algumas coisas que os meus doentes diziam.
Parece divertido, mas ao fim de mais de 40 anos, não é…
Ora tomem lá.
O pai do L. morreu de repente, aos 60 e poucos anos; estava sentado num Café quando caiu para o lado. Tinha os dentes todos e lavava-os com carvão.
A M. A. também cai para o lado com muita frequência; sente uma música nos ouvidos, que vai aumentando de intensidade até que ela desmaia.
O J. arranjou uma namorada nova mas anda com disfunção eréctil; trabalha no Corte Inglês e informou-me que aquilo está minado de maricas.
A I. há 15 anos que vai a pé a Fátima; antes, faz um retiro e durante três semanas não pode ter sexo, beber álcool ou fumar ““ por isso, veio pedir receita de Champix.
A O. pediu uma cadeira de rodas emprestada para ir í junta médica para atribuição de ajuda de terceira pessoa. Anda perfeitamente.
A P. perguntou-me se a bruxa tem vindo í consulta, referindo-se í mãe e informou-me que o irmão emprenhou uma preta.
O J. P. irritou-se na fila da Ponte com outro automobilista e, quando chegou a Lisboa, picou o dedo e tinha 140 de glicémia.
O marido da C. foi entregar uma consola de jogos que o filho vendera através da OLX por 240 euros, dinheiro que ia servir para pagar as propinas da Faculdade; quando chegou a casa, verificaram que as notas eram todas falsas.
A C. começou a deitar pus verde do ouvido esquerdo e, depois, começaram a sair umas areias; deitou também areias pelos olhos.
A C. está preocupada com a sua falta de memória; diz que até se esqueceu que tinha tido sexo com o companheiro.
A E. diz que o marido tem a pila torta e só conseguem ter relações assim, pela frente (e faz o gesto explicativo); já tentaram por trás, mas ela fica toda torcida.
A D. F. diz que não tem cheiro nem sabor desde que se constipou e parece que tem rapé no nariz.
A L. está muito zangada com a namorada do filho porque está de baixa há um mês e passa o dia lá em casa, metida na cama; a L. está de baixa vai para três anos.
O C., que é diabético, diz que anda melhor desde que a mulher deixou de por batata na sopa e agora põe georgete.
A J., 70 anos, confessou-me que nunca comeu tomates na vida; não lhe faz confusão olhar para eles e arranjar a salada com eles, mas comê-los ““ nunca!
A C. contou-me que teve uma forte dor no peito e ficou com a língua azul…
A L. quer uns comprimidos para a sua bexiga, que é muito hiperactiva, porque vai para as marchas do S. João e não quer andar sempre a correr para aquelas casas de banho portáteis.
O V. é capaz de comer bolos de canela mas não suporta ver canela em cima do arroz doce, fica mal-disposto.
O R. acabou de ser pai e hoje disse-me que devia ser obrigatório fazer testes psico-técnicos para saber se se tem condições para ser pai.
A D. Z. estava na paragem do autocarro quando ouviu uma senhora queixar-se de dores na mão, e que estava a tomar uns comprimidos receitados pelo Dr. Artur mas como agora ele se vai embora… vai daí, a D. Z. hoje veio para a porta do Centro de Saúde í s 7 da manhã para ser a primeira a ser consultada, antes que eu me vá embora!
O R. tem andado com os pés inchados e pergunta-me se não será da picardia que ele tem no coração…
A C., 88 anos, foi tomar duche sem tirar os aparelhos auditivos e deixou de ouvir. Foi í loja e limparam-lhe os aparelhos, mas agora ouve um zumbido toda a noite.
O I., 28 anos, sofreu já três episódios de desmaio com convulsões, quando mistura canábis com álcool e quer saber se poderá ser epilepsia…
A I. deixou cair lixívia em cima dos pés e está cheia de ardor; diz que, í noite, abre a porta do frigorífico e põe os pés lá dentro, para aliviar o ardor.
A C. ouviu dizer que o limão tira as inflamações mas, quando colocou uma rodela de limão junto ao nariz, por causa da sinusite, ia morrendo.
O B., 82 anos, tem próteses dentárias mas está com dificuldade em habituar-se a elas; a comida fica presa nas próteses e ele tem que a lavar sempre que acaba de comer. Diz-me que, antes de arrancar os dentes, era capaz de estar sem os lavar mais de um mês!
A P. diz que foi ao otorrino com uma infecção no ouvido e ele receitou-lhe gotas de ácido bucólico.
A T. vem pedir uma nova credencial para a colonoscopia; diz que estava muito vento e a credencial que eu lhe passei voou para cima do telhado.
A C. diz-me que a nora está muito aflita com vertigens porque tem os “…fiscais” dos ouvidos alterados.
O L. veio pedir nova credencial para ecografia porque a anterior “…inspirou” o prazo…
A A. S. veio pedir uma declaração para entregar na escola do filho, de 5 anos, a dizer que ele precisa de lavar os dentes depois das refeições.
A C. diz que tem a velocidade de cimentação muito alta.
A H. comeu uvas e engoliu uma grainha; sentiu uma picada no ânus e saiu logo sangue.
O A., de 73 anos, vem pedir ajuda porque não tem potência sexual mas a F., sentada ao lado dele, diz que não vale a pena ele tomar nada porque ela não é viciada.
Bater não resolve nada…
Sou do tempo em que a porrada era uma medida pedagógica.
“Vê lá se queres levar uma chapada nessa cara”, ou “Estás aqui estás a levar”, ou ainda “Levas uma palmada no rabo”, eram expressões que os pais dos miúdos da minha geração usavam com frequência.
A panóplia de castigos físicos era imensa: chapadas, palmadas, estalos, chineladas, tabefes, tareias, sopapos, puxões de orelhas, lamparinas, carolos, chapadões, para já não falar nas reguadas e ponteiradas que apanhávamos na escola, sempre que falhávamos uma pergunta ou quando nos portávamos mal.
Temos que desculpar os pais dos anos 50 e 60 do século passado.
Por um lado, eles também tinham sido criados com porrada, por vezes com cintos e até chicotes.
Por outro lado, que castigos haviam eles de nos infligir? Não nos podiam proibir de mexer no iPad ou no iPhone – o próprio Steve Jobs nasceu em 1955 e também deve ter levado uns sopapos do pai, sempre que era apanhado a tirar macacos do nariz e a enfiá-los na boca.
Por outro lado, se os pais nos proibissem de ver televisão, a malta até agradecia – quem queria ver aqueles dois canais anémicos, a preto e branco?…
Portanto, não lhes restava outra alternativa senão chegarem-nos a roupa ao pêlo, sempre que nos portávamos mal…
Claro que, na maior parte das vezes, verificava-se que as tareias não resolviam coisa nenhuma e os putos ainda faziam pior
Ora, hoje em dia, as agressões físicas deixaram de ser aceites como método pedagógico.
Assim se vê o atraso da claque sportinguista.
De que é que lhes valeu irem bater nos jogadores?
Eles perderam a Taça na mesma!
O Sporting bruneu-se!
Na Malásia há lugar aos novos
Mahathir Mohamad foi eleito primeiro-ministro da Malásia, derrotando estrondosamente o seu rival, Najib Razak.
Até aqui, tudo bem.
Mas a coisa fica melhor quando sabemos que Mohamad governou a Malásia entre 1981 e 2003, í frente do partido de direita, que o próprio Mohamad agora derrotou, í frente de uma coligação de esquerda.
E ainda melhor fica quando percebemos que Mohamad tem 92 anos, sendo o primeiro-ministro eleito, mais velho do mundo!
A vitória de Mohamad, conhecido pelo seu sarcasmo e por gostar que o tratem por faraó, foi conseguida graças a uma aliança com o antigo rival, Anwar Ibrahim.
Ibrahim foi vice-primeiro-ministro, quando Mohamad liderava o governo e foi afastado do poder e preso, em 1999, acusado de sodomia, que é uma prática considerada crime, na Malásia.
Em 2005, estando o agora derrotado Razak no poder, Ibrahim foi novamente preso, e mais uma vez por sodomia.
Agora, o novo (passe a expressão) primeiro-ministro, já afirmou que pretende governar durante dois anos e, depois, passa a pasta a Razak.
A menos que Razak torne a ser apanhado a sodomizar alguém… ou que Mohamad, aos 94 anos, se sinta ainda cheio de pica!
Trumpalhices
Sorrisos coreanos
“Veracruz”, de Olivier Rolin (2016)
Olivier Rolin (França, 1947) é conhecido sobretudo pelo seu romance Tigre de Papel, finalista do Prémio Goncourt de 2003, sendo aind autor de outros romances, como O Meteorologista, Um Caçador de Leões, etc.
Este Veracruz é uma pequena novela, diria quase um conto, que, como diz Le Magazine Littéraire, citada na capa, mistura “amor, morte, ilusões e contrabando” – e uma linguagem pesada, acrescentaria eu…
A história desenrola-se na cidade mexicana de Veracruz, onde um catedrático francês, já entrado na idade, vai dar um ciclo de conferências sobre Proust.
No intervalo das conferências, estando a relaxar no bar El Ideal, conhece Dariana, uma jovem mexicana com quem iria ter um caso de paixão avassaladora, descrito de uma forma muito romântica e, passo a redundância, muito apaixonada.
Depois de alguns dias e noites fogosas (o próprio professor se espanta com o seu renascido vigor sexual), Dariana desaparece sem deixar rasto. O professor procura-a sem sucesso e entrega-se ao álcool, até que um dia, recebe no quarto do seu hotel, um envelope com quatro textos – todos eles sobre uma jovem, Susana, objecto do desejo de vários homens.
O primeiro texto é do padre Inácio, banido da igreja por se deitar com prostitutas e que está loucamente apaixonado por Susana; o segundo texto é do contrabandista Miller, actual companheiro de Susana e que fala dela como uma escrava sexual, a quem agride e humilha; o terceiro é do pai de Susana, que confessa ter morto a mãe para ficar sozinho com a filha e poder abusar dela, como o caçador abusa da presa, até que Miller chegou e a festança acabou; e o último texto é da própria Susana, texto esse que liga as pontas deixadas pelos outros três.
Como já disse, a linguagem usada por Rolin é forte, agressiva, como comprova este pequeno excerto do texto de Susana:
“Estou a ver-te, o duplo impacto empurra-te, esmaga-te, dobra-te no fundo da poltrona, levas as mãos í barriga, queres berrar mas um rio de sangue já te afoga a garganta, cospes bolhas, Miller. Fala mais alto, não te percebo, Miller: queres um broche, é isso? Vais agarrar-me pelo cabelo, deitar-me de joelhos, baixar as tuas calças, empurrar a minha cara contra o teu sexo, obrigar-me a chupar-te, como de costume?Oh! No teu estado, achas mesmo? Pareces estar a sangrar um bocadinho. Estás com o período, Miller?”
A edição portuguesa é da Sextante, com tradução de Joana Cabral e o livro lê-se de uma penada e vale a pena.
“Dicionário Sentimental do Adultério”, de Filipa Melo (2017)
Filipa Melo é jornalista desde 1990 e tem já um extenso currículo, colaborando em inúmeras publicações e também nas televisões.
No ano passado, a Quetzal editou-lhe este curioso dicionário que me proporcionou algumas horas de puro entretenimento.
De A a Z, a autora vai contando pequenas anedotas, factos históricos, citações célebres, definições, estatísticas, opiniões – tudo relacionado com o adultério e ofícios correlativos, digamos assim…
Claro que não podia faltar a brejeirice mais requintada, como é o caso do poema de Martim Soares, escrito por volta de 1240, e que diz assim (página 40):
Pero Rodrigues, da vossa mulher/ não acrediteis no mal que vos digam
Tenho eu a certeza que muitos vos quer/ Quem tal não disser quer fazer intriga
Sabia que outro dia quando eu a fodia/ enquanto gozava, pelo que dizia
muito me mostrava que era vossa amiga
Na página 66, conta-se a história de D. João V e de um jantar que ofereceu a um padre que estava farto de ouvir, em confissão, o rei vangloriar-se das suas aventuras extra-conjugais.
Ao longo do jantar foram sendo servidas diversas iguarias mas, para o padre, apenas canja de galinha.
Quando, finalmente, o padre indagou por que motivo só lhe serviam canja de galinha e nada de trutas, perdizes ou javalis, D. João V terá retorquido: “Está a ver, senhor padre… nestas coisas de comeres, não há como variar. Nem sempre galinha, nem sempre rainha”.
Na página 73, a entrada “Efeito Coolidge” conta-nos a história da visita do Presidente dos EUA, Calvin Coolidge, e da sua mulher, a uma fazenda experimental:
“Caminhando um pouco adiante do marido, esta (a mulher) chegou primeiro ao galinheiro, onde o funcionário responsável a informou de que o galo copulava cerca de dez vezes por dia. Então, ela pediu-lhe: «Diga isso ao meu marido, se faz favor».
Ao receber o recado, Coolidge perguntou: «Mas o galo copula sempre com a mesma galinha?». O funcionário garantiu-lhe que não. Não, senhor, o galo copulava com uma galinha diferente de cada vez. Então, foi a vez de Coolidge pedir: «Diga isso í minha mulher, se faz favor».
Mas não se pense que o dicionário se limita a estas pequenas, mas deliciosas, anedotas; há muito mais material para nos entretermos.
Aconselho.