13.10.07 – Hoje foi o dia do Perito Moreno, o glaciar mais fotogénico dos mais de 300 que fazem parte do Parque Nacional.
Vieram buscar-nos í s 10h e seguimos em direcção ao Parque Nacional. Éramos cerca de 20, quase todos hablando espanhol, excepto nosotros, claro, e um casal de holandeses; de resto, mexicanos, venezuelanos, argentinos e espanhóis.
A guia chamava-se Laura e era muito simpática. Durante o percurso de cerca de hora e meia, foi-nos dando uma série de informações sobre Calafate e os glaciares.
Calafate vem de calafetar. Os primeiros colonos, do tempo do Fernão de Magalhães – que, aqui, tomou o nome de Magajanes – quando aqui chegaram, precisavam de calafetar as naus e não tinham árvores de jeito que lhes fornecem a resina de que necessitavam. Socorreram-se, então, de um arbusto rasteiro, cheio de espinhos, que também produz uma espécie de resina. Chamaram-lhe Calafate. Este arbusto, que está por todo o lado, tem agora, na Primavera, uma pequena e singela flor amarela.
Esta pequena cidade, que é a que fica mais a sul, no continente americano – e, por isso se diz que fica no fim do mundo – cresceu muito, nos últimos anos. Desordenadamente, claro. A cidade quadruplicou de habitantes em 10 anos!
Os glaciares não são rios gelados – são massas de neve compactada. Todos os glaciares desta região, nascem a partir de um campo de gelo, situado nos Andes e que é um vale onde a neve se vai acumulando. Nesse lugar, neva cerca de 300 dias por ano. Quando a neve extravasa o tal vale, vai alimentar os diversos glaciares.
Perito Moreno nunca chegou a ver o glaciar com o seu nome. Moreno era um geólogo que foi nomeado pelo governo argentino como perito e seu representante, nas negociações fronteiriças com o Chile, arbitradas pelo rei inglês. Tudo isto se passou nos finais do século 19 e os argumentos do perito Moreno foram de tal modo convincentes, que a Argentina conseguiu vencer o conflito fronteiriço e ficar com a maior parte da zona dos glaciares.
Quando alguém descobriu este glaciar, decidiu dar-lhe o nome do perito Moreno que morreu dois anos depois disso, sem nunca ter visto o glaciar.
Perito Moreno é o glaciar mais conhecido do Parque porque é o mais acessível, sendo visível a partir da terra, em confortáveis passarelas e miradouros e também devido í s suas rupturas. É que este é um dos dois únicos glaciares que avançam sempre (o outro fica no Chile e é quase inacessível): cerca de 7 cm por dia, no inverno. Avança, até que é detido pela montanha, cortando o Lago Argentino, separando o braço Sul do braço Rico. As águas do lago, no entanto, vão fazendo pressão e escavando e, de quando em vez, produz-se uma ruptura no glaciar, abrindo-se um grande túnel de gelo, que acaba por desabar nas águas do lago. A última grande ruptura ocorreu em 2004 e, neste momento, o glaciar já está, novamente, encostado í montanha, cortando o lago em dois.
Para além destas rupturas, há sempre a fragmentação de pedaços de gelo, que caem, com fragor, nas águas do lago. Assistimos a duas ou três destas fragmentações. O gelo que se desprende é atirado em todas as direcções e já morreram algumas pessoas, atingidas por lascas de gelo, quando os pedaços do glaciar que se fragmentam são maiores.
O Perito Moreno apresenta-se ao visitante, depois de uma curva na estrada. De repente, ali, í nossa frente, aquela enorme massa de gelo, estendendo-se a perder de vista, reflectindo a luz do sol, com intensos tons de azul.
Primeiro, fomos vê-lo de barco. Navegámos durante cerca de uma hora e vimos a fachada norte do glaciar. É impressionante! As formas do gelo, as tonalidades de azul, as texturas, os reflexos, tudo é espantoso e único.
Depois, fomos almoçar. Comemos uma coisa chamada Locro Crioulo, um prato típico da Patagónia e que leva carne, chouriço, grão e feijão branco, embora com formas e nomes diferentes. Não é mau.
E fomos para as passarelas, para ver a fachada sul do glaciar.
Caminhámos pelas passarelas cerca de uma hora e, í s 16h15, regressámos ao autocarro e voltámos a Calafate.
Como é possível um tipo ficar tempos infinitos a olhar para uma massa de gelo e encontrar sempre motivos de interesse: aquela forma estranha, aquela zona, que parece ter luz própria, o reflexo do sol naquela outra zona – como já disse, o glaciar parece ter vida própria e muda de aspecto, conforme o olhamos daqui ou dali.
Ver o Perito Moreno foi mais uma experiência única, como ver o rio Nilo, a selva Amazónica, a savana do Masai Mara, o rio Li, o Yosemite e o Yellowstone, o Bryce e o Grand Canyons, as Badlands, o Monument Valley, o vale dos Incas…
Voltámos a Calafate para jantar e, desta vez, fomos mesmo í procura do bife de chorizo. Encontrámo-lo no Casimiro Biguá. Meio bife cada um. Bueno!