Pescadores, estripadores e outras dores

Por estes dias, quem se der ao trabalho de ver os telejornais dos canais generalistas, leva com duas injecções: o salvamento dos seis pescadores de Vila do Conde e a confissão do tipo que diz ter assassinado três prostitutas no século passado.

A história dos pescadores conta-se em duas linhas: um barco de pesca foi ao fundo, os seis pescadores conseguiram passar-se para uma balsa e andaram í  deriva durante quase três dias, até que um helicóptero da Força Aérea os avistou e os resgatou.

Boa notícia.

Mas as televisões têm a arte de estragar mesmo as coisas melhores: e foi assim que vimos reportagens em directo do autocarro que transportou os pescadores de volta a Vila do Conde, entrevistas com o mestre do barco, com o militar que fez o salvamento, com um especialista em balsas, com as mulheres dos pescadores, ficamos a saber as características técnicas das balsas, o que elas contêm, mais a história do terço que os pescadores rezaram, uns em voz alta, outros em silêncio, e mais o outro que entrou em pânico e teve que levar dois socos e ser amarrado para não se atirar ao mar…

E, no fim, um tipo até já nem pode olhar para a cara dos pescadores!

A segunda história é mesmo isso: uma história, porque, provavelmente, não passa de ficção. O jornal Sol, através da conhecida Felícia Cabrita, foi descobrir um tipo que diz ser o estripador de Lisboa, um fulano que, nos anos 90 do século passado, assassinou três prostitutas na região de Lisboa.

E toma lá com a descrição pormenorizada de como o homem estripou as mulheres, que instrumentos usou, como é que puxou os intestinos cá para fora e até a motivação freudiana, a procura do útero, a procura da mãe!

Claro que a Cabrita foi í s televisões explicar como investigou este furo jornalístico, vimos imagens da entrevista que o presumível assassino deu í  jornalista, explicações de juristas sobre prescrições de crimes, declarações de antigos inspectores da judiciária, incluindo o inevitável Moita Flores…

E com estes dois assuntos, os telejornais gastam mais de meia-hora!

Será que não se passa mais nada neste mundo?

3 thoughts on “Pescadores, estripadores e outras dores

  1. Belo artigo, Artur! O que se passou nos últimos dias com estes dois assuntos não dignifica o jornalismo português. É mais um exemplo do provincianismo das nossas estações de televisão.

    1. Pois é, Fernando. Hoje, por exemplo, a notícia de que o partido de Putin ganhou (novamente) as eleições na Rússia, mereceu um minuto de tempo de antena no jornal da Sic!

  2. Bom, para ser franco, antes isso que as injecções sobre a Crise, sobre o quão Portugal está mal, bla,bla bla, enfim, a tentativa para nos empurrar moralmente e psicologicamente ainda mais para baixo.

    Sempre é um tema diferente. eh eh

    Um abraço e um Feliz Natal. ;-)

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