Proto manifes

Nos anos 70 do século passado participei numa manifestação. Descemos as avenidas, gritando “Otelo amigo, o povo está contigo!”

Não estava, como depois se viu.

Era uma manif dos GDUP que, se não me falha a memória, queria dizer Grupos Democráticos de Unidade Popular – ou será que era Grupo Desportivo União Piedense?…

De qualquer modo, estávamos no chamado PREC (processo revolucionário em curso) e até parecia mal que não nos manifestássemos.

Vem isto a propósito da manif dos enfermeiros, anteontem.

Igualzinho.

Avenida abaixo, gritando palavras de ordem – “Sócrates escuta, os enfermeiros estão em luta!” (um primor de originalidade…) – agitando bandeiras e cartazes, megafones em punho.

Tal como os professores, no ano passado, também os enfermeiros, este ano, entram neste folclore das manifestações, graciosamente organizadas pelos sindicatos que, como se sabe, nada têm a ver com o PCP.

Não seria mais original se os enfermeiros, em vez de gastarem dinheiro a alugar autocarros, montassem bancas e fizessem rastreios da diabetes, medissem o colesterol ou avaliassem a tensão arterial?

Não teria mais impacto, junto da população, se os enfermeiros montassem stands, nas capitais de distrito, onde fizessem educação para a saúde, fornecessem informações sobre a prevenção do cancro, estilos de vida saudável, planeamento familiar, a importância da precocidade da primeira consulta da gravidez, etc, etc?

Ou então, ao menos, que desfilassem nuas!…

6 thoughts on “Proto manifes

  1. Costumo ler o seu blog ocasionalmente, e concordo geralmente, com o que é opinado. Neste caso, e ao contrário da parvoíce que é o comentário anterior, só quero colocar-lhe as seguintes questões:

    – A greve não é um direito dos trabalhadores?
    – Só os partidos é que promovem greves?
    – Concorda com a frase: “… comer e calar manda o Salazar?”.
    – Por acaso sabe o quais as reivindicações dos enfermeiros?
    – Os Srs. Médicos quando fazem greve também montam uma banca e dão consultas grátis?

    A ultima questão é talvez, um pouco irónica, mas estou a colocar estas questões porque gostos de ler o seu blog e por esse motivo sinto-me compelido a participar, ainda por cima depois de ler o comentário que um completo asno escreveu.

    Um abraço

    Ps: não sou enfermeiro, comunista ou solicialista.

    1. Conheço as reivindicações dos enfermeiros (trabalho com eles e elas todos os dias). Não a justeza dessas reivindicações que está em causa – é o cheiro a mofo destas manifes. Na era do telemóvel, da internet, do ipod e etc, não há outra maneira de as classes profissionais se fazerem ouvir?… Inovem!

  2. Acho que este saiu um bocado do padrão a que nos habituou. Nem há humor!!
    Terá concerteza boa razões, melhores que as minhas que não sou médico nem enfermeiro.
    Mas em Portugal, pela mão do PCP, a greve transformou-se numa banalidade que se convoca com um pré-aviso qualquer cuja razão pode ser a cor das cuecas da secretária e os sindicatos são legalmente inimputáveis!!!
    Claro, muitas vezes bate no fim de semana o que aumenta enormemente a justeza das revindicações.
    Não tenho opinião sobre esta greve que me parece mais justa que a dos professores mas pensem.
    Vamos todos, se os comunas quiserem vir não faz mal desde que sejam minoria, defender o direito á greve mas usem-na apenas em situações limite e com muita dignidade.

    PS- Relendo-me pareço um bocado moralista mas não altero nada.

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