Coincidência feliz.
Pelo menos, aparentemente.
Rosindo era distribuidor de flores. Todas as manhãs, bem cedo, ia ao mercado abastecedor comprar flores que, depois, distribuía por diversas floristas.
Rosa e Rosindo apaixonaram-se e foram viver juntos.
Rosindo arranjou emprego a Rosa numa das floristas que abastecia, a ganhar mais do que no supermercado.
Rosa sentia-se duplamente feliz: arranjara um emprego melhor e tinha um namorado. A vida sorria-lhe.
Mas há sempre um pauzinho na engrenagem; neste caso, foi a rinite.
Rosa começou a espirrar; todas as manhãs, quando chegava í loja, tinha crises de espirros, depois, comichão nos olhos, mais tarde, pieira.
O médico receitou-lhe antihistamínicos; depois, inaladores; mais tarde, aconselhou-a a mudar de emprego.
Rosindo zangou-se com Rosa. Disse-lhe que ela estava a ser mal-agradecida, um emprego tão bom deitado í rua por causa de uma rinite sem importância.
Rosa tentava explicar que, assim, não tinha qualidade de vida, com o nariz sempre entupido, os olhos a lacrimejar. Acabou por desistir do emprego na florista e voltou para o supermercado. Melhorou da rinite, mas não completamente. Entretanto, as coisas com Rosindo não melhoravam.
Separaram-se e Rosa sentiu-se melhor, embora o pingo no nariz persistisse.
Certo dia, teve uma epifania. Se era alérgica a flores, se piorara com o emprego na florista e o namoro com o Rosindo, se ela própria se chamava Rosa, por que não mudar radicalmente?
Passou a usar o primeiro nome, Maria. Disse a todas as colegas do supermercado, a todos os amigos e conhecidos: a partir daquele dia, chamem-me Maria, esqueçam que sou Rosa.
E foi melhorando, de dia para dia.
Meses depois de deixar a florista e Rosindo, depois de deixar o seu segundo nome, Maria estava finalmente livre da rinite.
Tudo piorou quando conheceu Florêncio…